Uma das escritoras brasileiras mais celebradas pela crítica e venerada pelos leitores, que devoram e citam de cor frases inteiras de seus livros, Clarice Lispector foi objeto da edição mais recente do Clube de Leitura do IMS-RJ, promovido pela coordenadoria de literatura do instituto. Nos dias 6 e 20 de setembro, Roberto Corrêa dos Santos, pesquisador e professor de arte e literatura da Uerj, autor de As palavras de Clarice Lispector (Rocco, 2013), Na cavidade do rochedo (IMS) e Clarice, ela (IMS, 2012), conversou com o grupo sobre Laços de família, livro de contos publicado em 1960.
Estudioso da obra da autora, cujo acervo está sob a guarda do IMS desde 2004, Corrêa destacou e comentou alguns dos 13 textos reunidos no livro como “Amor”, “Preciosidade” e “A imitação da rosa”, puxando pontos de contato entre eles. Como, por exemplo, a presença de pequenas epifanias que acabam por mudar o cotidiano dos personagens. Citando Guimarães Rosa, que dizia ler Clarice não “para aprender literatura, mas para aprender vida”, o professor observou: “Clarice tem a matéria formal da literatura, o instrumento, mas isso é secundário. O prioritário é como essa matéria humana se move no mundo do ponto de vista social, familiar, do eu e do outro, da solidão intrínseca e das necessidades que um ser humano tem de ultrapassar a si mesmo”.
O poder transformador da arte e a carpintaria do texto da autora de origem ucraniana, que chegou ao Brasil em 1922 com a família, também foi analisada por Corrêa no encontro do dia 20 (disponibilizado neste vídeo). “As frases dela são muito claras, é impressionante. Ela domina a narrativa que, sendo muito clara, é também hipnótica”, afirmou.
O Clube de Leitura iniciou suas atividades em setembro de 2014, e promove encontros mensais e gratuitos – que acontecem na sala de aula do IMS-RJ – a partir de livros de grandes autores brasileiros. As conversas são sempre guiadas por um mediador. Em 2016, os participantes já conversaram sobre obras de Lima Barreto (com Beatriz Resende), Vinicius de Moraes (com Miguel Jost) e João Cabral de Melo Neto (com Eucanaã Ferraz), entre outros. Um dos pontos altos do ano foi a leitura de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, com o professor Eduardo Coutinho. O livro, publicado há 60 anos, não estava incluído na programação original, mas depois do primeiro encontro, com a leitura de Manuelzão e Miguilim, o grupo exigiu a obra-prima de Rosa no programa. “Isso mostra que o Clube é uma atividade apaixonante, não é estática, e o grupo realmente se envolve”, diz Elvia Bezerra, coordenadora de literatura do IMS.
Os próximos encontros serão sobre Joaquim Nabuco (outubro), Álvares de Azevedo (novembro) e Graciliano Ramos (dezembro). Haverá uma edição especial, também em novembro, sobre O encontro marcado, de Fernando Sabino, romance que também está completando 60 anos de publicação. A conversa será mediada por Paulo Roberto Pires.
As vagas para o Clube de Leitura estão esgotadas, porém há uma lista de espera (disponível na recepção do instituto) para os interessados em participar.
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