Os incontáveis admiradores de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) estão prestes a ganhar um presente que celebra de forma inédita a obra do autor de alguns dos mais memoráveis versos da literatura brasileira. Para marcar os 120 anos (em 31/10) de nascimento do poeta, o Instituto Moreira Salles, que desde 2011 comemora a data com o Dia D (de Drummond), anuncia o lançamento, em início de 2023, do Dicionário Drummond, volume de 752 páginas reunindo 79 verbetes escritos por 54 acadêmicos, escritores e pesquisadores.
Organizadores do livro, Eucanaã Ferraz e Bruno Cosentino tinham dois caminhos: projetar um dicionário baseado principalmente na extensão, o que exigiria muitíssimos e breves verbetes, ou trabalhar com um número menor, mas de abordagens mais densas, de caráter ensaístico. Optaram pelo segundo, o que faz do Dicionário Drummond um saboroso acepipe para os que desejam mergulhar no vasto mundo do poeta. No vídeo abaixo, editado por Laura Liuzzi, eles antecipam o que vem por aí.
Entre os 54 autores convidados, há drummondianos notórios, pessoas que dedicaram suas vidas acadêmicas a estudar o autor. É o caso de Wagner Camilo, da USP, que escreveu quatro verbetes: "Máquina do mundo", do poema homônimo, "A rosa do povo", do livro de mesmo nome, "Política" e "Nacionalismo"; de Sergio Alcides, da UFMG, a quem foram atribuídos os verbetes "Crônica" e "Gauche" (do verso "vai ser gauche na vida", no Poema de sete faces); e Marlene de Castro Correia, ex-professora emérita da UFRJ, cujo texto é o único não inédito do livro – convidada a participar, ela morreu durante o processo de produção. Os organizadores decidiram, então usar como verbete – "Cinema" – um ensaio seu publicado anteriormente.
Mariana Quadros, uma "drummondiana jovem", como a descreve Cosentino, escreveu os verbetes "Erotismo", "Ruína" e "Iphan" – o Instituto do Patrimônio Histórico a Artístico Nacional, do qual Drummond foi colaborador nos primeiros anos.
Para além desses especialistas, há professores convidados por serem referência em temas caros à obra do poeta. O verbete "Soneto", por exemplo, coube a Marcelo Diniz, da UFRJ, conhecido pelos estudos sobre aspectos formais da poesia. Maria Silva Prado Lessa, também da UFRJ, contribui com o verbete "Surrealismo", seu foco de estudo. E Luiz Costa Lima, UFRJ, autor de um conceito muito utilizado pelos drummondianos, de princípio-corrosão, escreveu "Poética",
A lista é extensa, mas cabe ainda destacar nomes como José Miguel Wisnik, da USP, no verbete "Mineração"; da escritora Noemi Jaffe, que escreve sobre "Velhice"; e ainda Humberto Werneck, que prepara uma biografia do poeta, e a quem coube falar sobre "Associações de escritores" das quais Drummond fez parte ou ajudou a fundar.
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Há ainda verbetes curiosos, como "Farmácia" (acima), escrito por Eduardo Coelho, da UFRJ. "Drummond fez curso de farmácia, ele renega um pouco isso. Mas traz para a sua obra informações nas quais é possível identificar a origem no curso feito na juventude", diz Cosentino.
Os próprios organizadores participam do livro como autores. Eucanaã Ferraz assina dois verbetes, "Alguma poesia", que aborda o livro homônimo de 1930, primeiro do autor, e "Greta Garbo", a quem Drummond dedicou um poema. Cosentino pinça de Alguma poesia o verbete "Quadrilha", do poema de mesmo nome, sobre o qual escreve no Dicionário que tem projeto do Bloco Gráfico.