Observador mordaz da realidade brasileira, criador de frases geniais, artista sofisticado, além de tradutor, escritor, dramaturgo e, acima de tudo, jornalista, como gostava de se definir, Millôr Fernandes (1923-2012) faria 100 anos em 16/8. Para celebrar a data, o Instituto Moreira Salles, que desde 2013 detém a guarda de sua obra gráfica, disponibiliza 4 mil desenhos originais do seu acervo. É um material impagável, produzido ao longo dos 70 anos em que ele publicou na imprensa – percurso iniciado em 1945 na revista O Cruzeiro, onde por 17 anos manteve a importante seção "O Pif-Paf", passando por veículos como Veja, Pasquim e Jornal do Brasil, entre outros.
Coordenadora de Iconografia do IMS, Julia Kovensky se refere aos desenhos originais como "o coração do acervo do Millôr no instituto": "É um conjunto que permite tanto o deleite para quem gosta da obra do Millôr, do seu humor, quanto para quem queira se aprofundar no pensamento e na produção dele, porque a partir da observação dos desenhos é possível entender as etapas, visualizar como era o seu pensamento gráfico, como ele chegava na confecção o que iria publicar", observa ela.
Veja abaixo alguns desenhos de Millôr no IMS:
O acervo de Millôr no IMS se estrutura em três conjuntos: os desenhos originais, a obra publicada e o seu acervo pessoal, com cartas, contratos e seus arquivos, onde guardava em pastas recortes, textos e fotografias de assuntos como "calvície", "girafas", "casamento". A obra publicada já estava catalogada no site, trabalho feito por ocasião da exposição Millôr: obra gráfica, que teve curadoria da própria Julia, de Cassio Loredano e de Paulo Roberto Pires. A mostra foi exibida no IMS Rio em 2016 e no IMS Paulista em 2018.
A catalogação dos desenhos realizada agora foi priorizada em função do centenário. Mas é algo que seria feito de qualquer maneira, explica Julia, "a partir do compromisso com a guarda do arquivo de Millôr":
"Nosso compromisso primordial ao receber uma coleção é esse: disponibilizar, permitir que as pessoas também criem seus trabalhos a partir do material que preservamos. É importante dar ênfase ao trabalho de difusão do bruto, algo que vai além da mediação do instituto, para incentivar outras pessoas a fazerem as suas próprias leituras", observa.
Trata-se de uma obra grandiosa, em volume e sofisticação, que coloca o visitante diante da figura sem filtro de Millôr Fernandes, o que inclui também um pequeno conteúdo sensível. Dentro da catalogação, 22 desenhos trazem um alerta mencionando "conteúdo preconceituoso". "A nossa proposta é que isso seja visto de forma crítica – como tudo, idealmente", diz Julia.
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