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IMS recebe produção de Januário Garcia

23 de outubro de 2023

Fotógrafo e militante do movimento negro, nascido em 1943 e morto em 2021, passa a ter sua produção fotográfica preservada e difundida pelo Instituto Moreira Salles

Marcha Zumbi está Vivo. Av. Rio Branco. Rio de Janeiro, 18 de novembro de 1983. Foto de Januário Garcia. Acervo IMS /Arquivo Januário Garcia

Ao longo de sua trajetória, Januário Garcia (1943-2021) produziu um dos mais importantes registros do ativismo e da cultura negra brasileira no século 20. Unindo o exercício da fotografia com a militância política, documentou marchas e atos organizados pelo movimento negro, além de personalidades centrais como Lélia González e Abdias do Nascimento. Atuou ainda no mercado publicitário, no fotojornalismo e na indústria fonográfica, assinando capas de álbuns de músicos como Leci Brandão, Tom Jobim, Belchior e Raul Seixas. Em paralelo aos trabalhos como fotógrafo, ocupou cargos de destaque na militância, como o de diretor do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN).

Toda esta produção compõe um rico e variado acervo, que passa a ser preservado e difundido por duas instituições, em uma parceria inédita: o Instituto Moreira Salles (IMS) responsável por armazenar a produção fotográfica do artista, e o Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a cargo da salvaguarda dos documentos reunidos por Januário em sua atuação no movimento negro.

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As duas instituições farão um arranjo arquivístico único do acervo e, futuramente, as fotografias e os documentos digitalizados integrarão as duas bases de dados. Além disso, será formado um conselho consultivo autônomo composto por pessoas que pesquisam a obra de Januário e que conviveram com ele na militância.

O acervo guardado pelo IMS é composto por cerca de 70 mil fotografias, equipamentos fotográficos e de laboratório e uma biblioteca com publicações focadas em artes visuais e fotografia. Já a coleção presente no AEL inclui documentos referentes ao movimento negro, entre cartazes e folhetos de eventos, jornais e outros itens, além de textos assinados pelo ativista e uma biblioteca com livros focados na temática étnico-racial. No âmbito da Unicamp, a coleção integra o projeto Afro Memória, que reúne acervos relacionados ao ativismo negro no Brasil e é fruto de uma parceria da universidade com o Afro CEBRAP, a linha de pesquisa Hip Hop em Trânsito (CEMI/IFCH-UNICAMP) e a Universidade da Pensilvânia (Upenn).

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O material possibilita inúmeras frentes de pesquisa, num panorama da trajetória de Januário, cuja obra contribuiu para a criação de novas narrativas, como pontuou o próprio artista em entrevista à pesquisadora Vilma Neres Bispo, citado na dissertação de mestrado Trajetórias e olhares não convexos das (foto)escre(vivências): condições de atuação e de (auto)representação de fotógrafas negras e de fotógrafos negros contemporâneos (2016).

“Aconteceu que a minha interação com a militância e com a fotografia se deu dessa forma. E em cima disso eu fui construindo todo um legado, porque eu acredito numa coisa, que é o seguinte, as pessoas dizem: o brasileiro não tem memória. E eu cheguei à conclusão, seguinte: Não, o Movimento Negro, no meu tempo, vai ter uma memória, e ele está tendo uma memória desde 1975.”

Coordenador de fotografia do IMS, Sergio Burgi comenta a importância de difundir a obra do fotógrafo: “A chegada do acervo de Januário Garcia ao IMS estabelece um compromisso da instituição com uma representação mais ampla, mais diversa da fotografia realizada no Brasil. O acervo reúne o trabalho de um fotógrafo de extrema sensibilidade, com uma longa trajetória tanto no campo profissional quanto como militante político. Januário foi uma importante liderança do ativismo negro e, com sua fotografia, contribuiu para documentar a memória do movimento negro e do país.”


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