Claudia Andujar: no lugar do outro
A publicação, fartamente ilustrada, acompanha a exposição homônima, fruto de dois anos de pesquisa no arquivo da fotógrafa e primeira grande retrospectiva dedicada à extensa produção de Andujar nas décadas de 1960 e 1970. O livro inclui cerca de 230 imagens do período que se estende da chegada da fotógrafa em São Paulo, em 1955, até as primeiras viagens para a Amazônia, no começo dos anos 1970.
Assim como a exposição, a publicação lança nova luz sobre a trajetória da fotógrafa ao apresentar trabalhos pouco conhecidos da primeira parte de sua carreira, anterior ao seu envolvimento com os índios Yanomami. São reportagens fotográficas e ensaios pessoais que incluem desde os registros documentais em preto e branco até a experimentação gráfica colorida do final dos anos 1960 e começo dos anos 1970. O livro-catálogo traz 229 imagens, textos sobre cada série e entrevista inédita com Andujar feita por Thyago Nogueira, além de extensa cronologia.
Com projeto gráfico arrojado e em edição bilíngue, a publicação está dividida em quatro núcleos. O núcleo “Famílias brasileiras”apresenta um dos primeiros trabalhos de fôlego feitos por Andujar no Brasil. Entre 1962 e 1964, a fotógrafa registrou o cotidiano de quatro famílias de contextos muito distintos: uma família baiana dona de uma próspera fazenda de cacau, uma família da classe média paulistana, uma família de pescadores caiçaras isolada em uma praia de Ubatuba (SP) e uma família religiosa do interior mineiro.
O núcleo “Histórias reais” é formado por reportagens desenvolvidas pela fotógrafa para a revista Realidade, onde trabalhou de 1966 a 1971. Criada em 1966, Realidade foi um marco na imprensa brasileira pela qualidade das matérias e por reunir um time notável de fotógrafos, que incluía nomes como Maureen Bisilliat, George Love e David Drew Zingg. A ousadia editorial de Realidade foi o ambiente perfeito para que Andujar mergulhasse em temas controversos ou poucos vistos na imprensa.
Para a revista Realidade, Andujar fotografou as polêmicas operações do médico e cirurgião espiritual Zé Arigó, em Congonhas do Campo (MG); a intensa atividade de uma parteira na pacata cidade de Bento Gonçalves (RS); a situação dos pacientes do Hospital Psiquiátrico do Juqueri, em São Paulo; uma sessão de psicodrama; e o famoso “trem baiano”, que levava imigrantes desempregados em São Paulo de volta a seus estados natais. Ainda fazem parte do núcleo uma série sobre relacionamentos homossexuais e um ensaio sobre a natureza dos pesadelos.
O núcleo “Cidade gráfica” é formado por ensaios experimentais que Claudia desenvolveu em São Paulo a partir de seu interesse pela cidade e pelo corpo humano. Estão nesse núcleo a série Rua Direita, os nus da série A Sônia, fotos aéreas tiradas com filme infravermelho e sobreposições de cenas urbanas.
O quarto e último núcleo da publicação contém fotografias de natureza feitas durante as primeiras viagens à região da Amazônia, no começo dos anos 1970, especialmente ao longo do rio Jari, no Pará, e em Roraima. Andujar fotografou as cachoeiras de Santo Antônio e o lavrado roraimense com a experimentação e a sensibilidade que marcaram sua produção do período.
Mais sobre a exposição Claudia Andujar: no lugar do outro
Autor: Claudia Andujar
Organização: Thyago Nogueira
Projeto gráfico: Elisa von Randow, Julia Masagão
Texto: Thyago Nogueira
Páginas: 256
Formato: 26x21cm
ISBN: 9788583460251
Idioma: Português/inglês
Lançamento: Outubro/2015
Acabamento: Brochura
SOBRE CLAUDIA ANDUJAR
Claudia Andujar nasceu na Suíça, em 1931, e em seguida mudou-se para Oradea, na fronteira entre a Romênia e a Hungria. Em 1944, com a perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, fugiu com a mãe para a Suíça, e depois emigrou para os Estados Unidos. Em Nova York, desenvolveu interesse pela pintura e trabalhou como intérprete na Organização das Nações Unidas. Em 1955, veio ao Brasil para reencontrar a mãe, e decidiu estabelecer-se no país, onde deu início à carreira de fotógrafa. Ao longo das décadas seguintes, percorreu o Brasil e colaborou com revistas nacionais e internacionais, como Life, Aperture, Look, Cláudia, Quatro Rodas e Setenta. A partir de 1966, começou a trabalhar como freelance para a revista Realidade. Recebeu bolsa da Fundação Guggenheim (1971) e participou de inúmeras exposições no Brasil e no exterior, com destaque para a 27ª Bienal de São Paulo e para a exposição Yanomami, na Fundação Cartier de Arte Contemporânea (Paris, 2002).