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Sessão Mutual Films

A vida de dentro: Uma página de loucura + A esposa solitária

A primeira Sessão Mutual Films de 2024 celebra diálogos entre quatro grandes artistas e duas formas de arte, o cinema e a literatura. No filme Uma página de loucura (1926), do renomado diretor japonês Teinosuke Kinugasa (1896-1982), observamos um atormentado ex-marinheiro trabalhando como zelador em um manicômio para poder ficar mais próximo de sua delirante esposa. Uma das obras mais polêmicas do cinema mudo japonês contou com uma história original escrita por Yasunari Kawabata (1899-1972) – primeiro vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de seu país (1968) – e expressa o impacto duradouro da Primeira Guerra Mundial e o fim eminente do próspero período Taishō, ao mesmo tempo que propõe uma nova linguagem estética. O filme A esposa solitária (1964), dirigido pelo mestre indiano Satyajit Ray (1921-1992), foi baseado em um romance publicado em 1901 pelo revolucionário artista e pensador bengalês Rabindranath Tagore (1861-1941), primeiro vencedor asiático do Prêmio Nobel de Literatura (1913). A história descreve o isolamento profundo de Charulata, a jovem esposa de um atarefado fundador de um jornal progressista no final do século XIX em Bengala, que se apaixona pelo primo de seu marido, um jovem poeta despojado. Ao fazer sua transposição do romance O ninho partido para o cinema, Ray destaca elementos da vida pessoal de Tagore ao mesmo tempo que analisa a mentalidade social da ex-colônia britânica, a qual ele e o grande escritor pertenciam. Ambos os filmes da sessão apresentam a imaginação e a memória como forças que vão para além do espaço e tempo. A exibição da nova versão restaurada de Uma página de loucura no IMS Paulista no dia 30 contará com acompanhamento ao vivo do músico e compositor Gabriel Levy.

A curadoria e a produção da Sessão Mutual Films são de Aaron Cutler e Mariana Shellard.

A vida de dentro: Uma página de loucura + A esposa solitária - Por Aaron Cutler e Mariana Shellard ►

Sessões especiais no IMS Paulista

 
Uma página de loucura
18/1/2024, quinta, 18h
Sessão apresentada por Aaron Cutler e Mariana Shellard

30/1/2024, terça, 19h30
Sessão com acompanhamento musical ao vivo de Gabriel Levy

 
A esposa solitária
18/1/2024, quinta, 19h45
Sessão apresentada por Aaron Cutler e Mariana Shellard

 
Informações sobre todas as exibições ►

Da esquerda para direita: cena de Uma página de loucura, de Teinosuke Kinugasa e cena de A esposa solitária, de Satyajit Ray

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Filmes


Uma página de loucura

Uma página de loucura
Kurutta Ichipeiji
Teinosuke Kinugasa | Japão | 1926, 79’, 35 mm para digital, cópia restaurada (Arquivo Nacional de Cinema do Japão) | Classificação indicativa: 14 anos

Uma tempestade, a roda de um automóvel em movimento, uma dançarina rodopiando, os portões de um prédio. Essas imagens se intercalam freneticamente e com velocidade crescente, culminando em um dormitório onde um homem melancólico observa a chuva pela janela alta. Esse homem (interpretado pelo astro do cinema japonês silencioso Masao Inoue) é o zelador do manicômio onde está internada sua esposa (Nakagawa Yoshie), que foi levada violentamente à loucura por ele em um passado distante, quando era um marinheiro do exército. Enquanto trabalha entre a população de homens e mulheres alucinados, o zelador, consumido pelo remorso, procura auxiliar sua esposa e a filha adulta (Iijima Ayako), que a visita eventualmente e que se prepara para se casar. O homem reconhece que sua agressão no passado repercutirá na vida futura da sua família, pois, nessa sociedade, a doença mental é considerada hereditária e motivo de vergonha. Sua busca por redenção evolui para uma condição de perpétua insanidade, representada por imagens surrealistas dele, dos habitantes do manicômio e dos arredores do local, que entram cada vez mais na linha ambígua entre um estado de delírio e o mundo real.

Uma página de loucura foi o 35º longa-metragem dirigido pelo prolífico cineasta Teinosuke Kinugasa, e seu primeiro como produtor independente. Ele convidou como colaboradores um grupo de jovens escritores chamado Shinkankakuha [Grupo neossensorialista], cujos membros revolucionaram a literatura japonesa ao propor um estilo de prosa mais focado em comunicar as sensações e impressões imediatas da percepção humana do que na narrativa linear. O desenvolvimento da história original do filme ficou nas mãos do integrante do grupo Yasunari Kawabata, um romancista e escritor de contos que ganharia o Prêmio Nobel de Literatura mais de quatro décadas depois. A obra resultante empregou uma grande variedade de truques e técnicas cinematográficas experimentais, como superimposições de imagens e dissoluções entre planos, ao longo de uma narrativa contada sem nenhum intertítulo para explicar a ação.

Uma página de loucura gerou uma comoção entre os críticos de cinema japoneses da época, que se dividiram entre o enaltecimento, ao considerá-lo o primeiro filme nacional com o padrão internacional das obras-primas do Expressionismo alemão e do Surrealismo francês, e o demérito, ao tratá-lo como incompreensível. Mas, mesmo tendo sido um sucesso de bilheteria e bem recebido entre profissionais da área de saúde, o filme logo se perdeu, como foi o caso da vasta maioria de filmes japoneses da época silenciosa. Kinugasa finalmente encontrou o negativo de Uma página de loucura em sua casa em 1971 e, em toda probabilidade, reeditou-o para dar ainda mais ênfase ao seu aspecto experimental.

Desde então, o filme tem circulado em diversas cópias de qualidade variável. A nova versão de Uma página de loucura que passará no IMS, confeccionada em 2021 pelo Arquivo Nacional de Cinema do Japão, restaura diversos aspectos do filme, entre eles o tamanho original das imagens (que foi diminuído com o acréscimo de uma banda sonora à película na década de 1970) e o tingimento azul do lançamento original, algo não exibido desde a década de 1920. A primeira exibição do filme será apresentada sem acompanhamento musical, e a segunda terá a participação ao vivo do acordeonista e compositor brasileiro Gabriel Levy.

 

PROGRAMAÇÃO

IMS Paulista
18/1, quinta, 18h
Sessão apresentada por Aaron Cutler e Mariana Shellard

30/1, terça, 19h30
Sessão com acompanhamento musical ao vivo de Gabriel Levy

 

Gabriel Levy
Instrumentista, arranjador, compositor, educador e produtor musical, atuando nos mais diversos estilos e em destacados projetos multiculturais no Brasil. Diretor musical de grupos e festivais multiculturais, é mestre em educação musical (ECA-USP) e autor de livros e artigos na área.


A esposa solitária

Charulata
Satyajit Ray | Índia | 1964, 120’, 35 mm para DCP, cópia restaurada (RDB Entertainments) | Classificação indicativa: 14 anos

Charulata (interpretada por Madhabi Mukherjee) é a jovem esposa do atarefado Bhupati (Shailen Mukherjee), proprietário de um jornal progressista e autofinanciado chamado A Sentinela, na região indiana de Bengala em 1879. Tendo se casado ainda criança, Charu desabrocha numa mulher entre os aposentos de sua grande casa, alienada da vida pública e imersa em seus livros. Para fazer companhia a Charu, Bhupati chama para trabalhar em seu jornal o cunhado Umapada (Shyamal Ghoshal), acompanhado de sua também jovem esposa, Mandakini (Gitali Roy). Apesar de serem contemporâneas, Charu e Manda possuem diferenças irreconciliáveis, uma vez que a anfitriã se percebe como uma nabina (mulher moderna), diferente da sua hóspede prachina (mulher tradicional). O mundo de Charu, confinado quase totalmente à sua casa, é então sacudido por completo com a chegada de Amal (Soumitra Chatterjee), primo de Bhupati, com quem cresceu durante a infância. Amal é um poeta que recentemente concluiu seus estudos universitários, e, com o encorajamento de seu primo, estimula Charu a escrever e dar corpo aos seus sentimentos, um gesto que ela leva para consequências inesperadas.

A esposa solitária (1964) se baseia na obra O ninho partido (1901), do primeiro vencedor asiático do Prêmio Nobel de Literatura, Rabindranath Tagore. É uma das primeiras obras literárias do autor bengalês no formato ocidental de novela, que traz consigo elementos autobiográficos. Especulou-se que a referência principal para a personagem de Charu foi Kadambari Devi, a jovem esposa de Jyotirindranath Tagore (irmão mais velho de Rabindranath), com quem o autor conviveu por anos e que morreu alguns meses após ele se casar. O cineasta Satyajit Ray, admirador profundo da obra de Tagore, explora esse aspecto da vida real do escritor, e traz para cenas do filme suas poesias e músicas, além de momentos inspirados pela figura da mulher que Tagore também representou em desenhos e pinturas.

Ray trabalhou em seu 12º longa-metragem pela primeira vez como operador de câmera (ao lado do cinegrafista Subrata Mitra), além de escrever o roteiro, compor a trilha sonora, colaborar na direção de arte e desenhar o cartaz. Com um olhar clássico e naturalista, a câmera acompanha em detalhes os personagens que se deslocam pelos cômodos e pelo jardim da espaçosa casa bengalesa e expressa com ludicidade e jovialidade as situações vividas. Em várias ocasiões, os diálogos e as descrições de Tagore são substituídos por momentos silenciosos que evocam os pensamentos dos personagens de formas inquietantes. Ainda que trágica, a história – tanto do livro como do filme – retrata a vida intelectual fértil e autorrenovadora da elite indiana.

A cópia de A esposa solitária que será exibida no IMS Paulista é de uma restauração de 2013, realizada em 2K a partir do negativo original do filme pelo Pixion Studios e Cameon Media Lab, em Bombaim. O trabalho foi conduzido pela RDB Entertainments, sob a supervisão de Varsha Bansal, neta de R.D. Bansal, um produtor e exibidor de cinema em Calcutá que produziu seis filmes de Ray (todos agora restaurados). Apesar do fracasso comercial de sua primeira colaboração, A grande cidade (1963), eles realizaram A esposa solitária logo em seguida e atingiram um grande sucesso de crítica e público. O filme também foi aclamado internacionalmente com o Urso de Prata no Festival Internacional de Cinema de Berlim, entre outros prêmios. No escopo de sua obra cinematográfica, Ray considerou A esposa solitária seu filme preferido e mais perfeitamente realizado.

 

PROGRAMAÇÃO

IMS Paulista
18/1, quinta, 19h45
Sessão apresentada por Aaron Cutler e Mariana Shellard

31/1, quarta, 19h30


Programação

IMS PAULISTA

18/1/2024, quinta
18h - Uma página de loucura
Sessão apresentada por Aaron Cutler e Mariana Shellard

19h45 - A esposa solitária
Sessão apresentada por Aaron Cutler e Mariana Shellard

30/1/2024, terça
19h30 - Uma página de loucura
Sessão com acompanhamento musical ao vivo de Gabriel Levy*

31/1/2024, quarta
19h30 - A esposa solitária

*Sessão com vendas antecipadas pelo site a partir das 12h de 16/1/24 no Sympla ou no dia do evento na bilheteria do IMS Paulista, a partir das 12h.

Ingressos

Vendas
Os ingressos do cinema podem ser adquiridos online ou na bilheteria do centro cultural, mais informações abaixo.

Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos.

Cliente Itaú
Desconto de 50% para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.

Devolução de ingressos
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site.


IMS Paulista

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na Praça, no 5º andar.

Os ingressos para as sessões são vendidos na recepção do IMS Paulista e pelo site ingresso.com. A venda é mensal e os ingressos são liberados no primeiro dia de cada mês.

Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.

Uma página de loucura | 30/1/2024, terça, 19h30
Os ingressos para a sessão musicada terão venda antecipada a partir das 12h de 16/1/24 no Sympla ou no dia do evento na bilheteria do IMS Paulista, a partir das 12h.


Sessão Mutual Films

Sessão Mutual Films é um evento bimestral com o propósito de criar diálogos entre as várias faces do meio cinematográfico, trazendo para o público, sempre que possível, filmes, restaurações e eventos inéditos em sessões duplas.