Três anos após voltar para a Bélgica e se tornar uma importante jovem cineasta, Chantal Akerman visitou Nova York para filmar o local onde viveu. Em Notícias de casa, assistimos a cenas silenciosas e melancólicas da cidade na década de 1970, envolvidas pelas cartas amorosas e manhosas (lidas pela diretora) que sua mãe escreveu durante o período em que a cineasta passou no exterior. Em contraponto, em Pesadelo perfumado, filme de estreia do artista filipino Kidlat Tahimik, ele se transforma no personagem central de uma fábula sobre um jovem aldeão que sonha ser um astronauta nos Estados Unidos. Kidlat viaja com um capitalista americano a Paris, onde vivencia a dura realidade e o custo humano do progresso, o que o faz reconhecer o valor de sua cultura indígena. Os dois filmes da Sessão Mutual Films de novembro, protagonizados e narrados pelos próprios cineastas, manifestam suas culturas natais por meio da distinta condição de estrangeiro.
IMS Rio: 10 de novembro, apresentação de Anita Leandro.
IMS Paulista: 21 de novembro, apresentação de Patrícia Mourão.
Chantal Akerman se mudou de Bruxelas para Nova York em 1971, com 21 anos, após abandonar a escola de cinema. Durante os três anos que morou lá, conheceu o cinema experimental norte-americano, especialmente de cineastas estruturalistas, como Yvonne Rainer e Michael Snow. Estes filmes influenciaram sua própria prática cinematográfica, como no ato de observar pequenos gestos e ações repetitivas em planos de longa duração. Akerman também conheceu a cinegrafista francesa Babette Mangolte, que se tornaria uma colaboradora fundamental em vários de seus filmes feitos nos Estados Unidos e na Europa, entre eles o celebrado Jeanne Dielman (1975).
Notícias de casa foi o primeiro filme que Akerman realizou após o sucesso internacional de Jeanne Dielman. Enquanto a câmera de Mangolte observa cenas de Nova York (gravadas principalmente em Midtown e Lower Manhattan), a cineasta narra as cartas escritas para ela por sua mãe durante o período em que morou na cidade. São relatos da vida cotidiana da família na Bélgica, permeados por agrados e súplicas para que a filha mande mais notícias. As palavras dessa relação íntima e maternal são confrontadas por imagens e sons ambientes de uma metrópole distante e emocionalmente inacessível, onde passantes e automóveis se deslocam isolados.
Notícias de casaestreou no Festival de Cannes e hoje é considerado uma das principais obras de Akerman. Ele foi restaurado digitalmente pela Cinemateca Real da Bélgica em 2014, em um projeto de restauração da obra da cineasta. As duas versões do filme – uma falada em francês, e outra em inglês – foram restauradas, e o IMS exibirá a versão em francês.
O longa-metragem de estreia do cineasta filipino Kidlat Tahimik é narrado e protagonizado pelo próprio artista, no papel de um jovem camponês com desejo de viver o sonho americano. O personagem de Kidlat trabalha em uma aldeia como motorista de jeepney (uma pequena condução feita de sobras de carros militares americanos da Segunda Guerra Mundial), atua como presidente do fã-clube do cientista espacial Wernher von Braun e escuta diariamente o programa de rádio Voz da América, com a ambição de se tornar um astronauta. Ele consegue uma oportunidade de realizar seu sonho ao ser convidado por um capitalista norte-americano para trabalhar em seu lucrativo negócio em Paris, no caminho para os EUA. Porém, Kidlat descobre uma sociedade assolada pelo desperdício material e humano, uma descoberta que o ajuda a valorizar os poderes de sua cultura nativa.
O ainda ativo Tahimik (cujo nome, em tagalo, significa “Relâmpago Silencioso”) nasceu em 1942 com o nome de Eric de Guia. Ele veio de uma família abastada das Filipinas e se formou em administração de empresas em uma das melhores faculdades dos Estados Unidos antes de trabalhar por um tempo na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico na França. Decepcionado com a carreira executiva, ele retomou seu sonho de ser ator em uma temporada que passou na Alemanha, e começou a fazer cinema sob a tutela de Werner Herzog. Ainda que ficcional, Pesadelo perfumado, assim como seus filmes subsequentes, é repleto de instantes reais, interpretados por amigos e familiares. Kidlat cria, eem uma mistura de documentário e paródia etnográfica, uma fábula surrealista e bem-humorada.
Pesadelo perfumado estreou no Festival de Berlim, onde ganhou três prêmios, e ficou conhecido como um filme essencial do movimento anticolonial de Terceiro Cinema.
IMS Rio: 10 de novembro de 2019, as 16h, apresentação de Anita Leandro.
Anita Leandro é documentarista e professora de cinema da Escola de Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Realiza documentários e videoinstalações a partir de materiais de arquivo e de textos literários. Sua pesquisa em torno dos acervos fotográficos das agências de repressão brasileiras deu origem ao filme Retratos de identificação (Brasil, 2014, 73’), prêmio do júri do CachoeiraDoc, prêmio Arcoiris do Festival del Cinema Latino Americano de Trieste, competição internacional do FIDMarseille, États Généraux du Film Documentaire de Lussas, forumdoc.bh, Mostra Tiradentes, EDOC de Quito, entre outros festivais e mostras nacionais e internacionais. Além de vários artigos sobre cinema, publicou sua tese de doutorado, Le personnage mythique au cinéma (Septentrion, 2000), defendida em 1997 na Université Sorbonne Nouvelle. Criou o Banco de Imagens da Saúde do Nutes/UFRJ e o máster profissional Réalisation de Documentaires et Valorisation des Archives, da Université Bordeaux 3.
IMS Paulista: 21 de novembro de 2019, as 19h, apresentação de Patrícia Mourão.
Patrícia Mourão é pós-doutoranda no Departamento de Artes Visuais da Universidade de São Paulo. Doutora em cinema também pela USP, com bolsa sanduíche na Universidade Columbia. Em 2018, foi a programadora convidada do Doc’s Kingdom – Seminário Internacional sobre Cinema Documental, em Arcos de Valdevez, Portugal. Programou mostras de cinema no Brasil e no exterior, entre as quais Intégrale Andrea Tonacci (Cinéma du Réel, 2017), Visões da vanguarda (CCBB, 2016), Cinema estrutural (Caixa Cultural, 2015), Jonas Mekas (CCBB, 2013) e Harun Farocki: por uma politização do olhar (Cinemateca Brasileira, 2010). Organizou o livro Jonas Mekas (Cinusp, 2013) e coorganizou, entre outras, as seguintes publicações: Cinema estrutural (Aroeira, 2015); Straub-Huillet (CCBB, 2012); David Perlov: epifanias do cotidiano (CCJ, 2011) e O cinema de Pedro Costa (CCBB, 2010). Tem vários textos publicados sobre Chantal Akerman e, em 2009, organizou, ao lado de Carla Maia, a primeira retrospectiva dedicada à cineasta no Brasil. Também atua como professora e já lecionou no Masp, no MAM-SP e no Instituto Tomie Ohtake.
Os ingressos para as sessões de cinema do IMS são vendidos nas bilheterias dos centros culturais e no site ingresso.com.
IMS Paulista
R$8 (inteira) e R$4 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 10h até o início da última sessão de cinema do dia, na Praça, no 5º andar.
A bilheteria vende ingressos apenas para as sessões do dia. No ingresso.com, a venda é semanal: a cada quinta-feira são liberados ingressos para as sessões que acontecem até a quarta-feira seguinte.
IMS Rio
R$8 (inteira) e R$4 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 11h até o início da última sessão de cinema do dia, na recepção.
A bilheteria vende ingressos apenas para as sessões do dia. No ingresso.com, as vendas para as sessões de cada mês acontecem a partir do 1º dia do mês vigente.
Sessão Mutual Films é um evento bimestral com o propósito de criar diálogos entre as várias faces do meio cinematográfico, trazendo para o público, sempre que possível, filmes, restaurações e eventos inéditos em sessões duplas.
► Conheça os filmes já exibidos na Sessão Mutual Films no IMS
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