A terceira edição do evento Sessão Mutual Films traz dois filmes que retratam experiências distintas ao longo da Segunda Guerra Mundial. Vinte dias sem guerra, de Aleksey German, oferece uma dramatização das vivências de um jornalista militar soviético que visita sua terra natal durante um período de licença. O documentário experimental País bárbaro, último longa-metragem de Yervant Gianikian e Angela Ricci Lucchi, trabalha cuidadosamente com imagens de arquivo para refletir sobre o impacto do facismo na Itália. Juntos, os filmes proprõem uma reflexão sobre as consequências de propagandas políticas que alardeam heroísmos baseados em mentiras.
Direção
Aleksey German
Informações
URSS
1976. 97min. 14 anos
Formato de exibição
Cópia restaurada em DCP
Major Lopatin (Yuriy Nikulin), um escritor e soldado de meia-idade, retorna para sua cidade natal no Uzbequistão, após receber uma licença de 20 dias, durante a Batalha de Estalingrado, em 1942. Além de trazer consigo os pertences de um soldado morto para serem entregues à sua família, Lopatin assessora uma produção cinematográfica sobre seus escritos de guerra, e diverge do diretor com relação à imprecisão histórica e ao retrato irrealista de heroísmo. Ele também encoraja trabalhadores de uma fábrica, que não passam de crianças, a fazer horas extras em prol dos soldados, discute com um grupo teatral, dizendo que um soldado não dá a vida pela pátria, mas luta por sua própria sobrevivência, e encontra tempo para um romance com uma antiga colega e funcionária do teatro (Lyudmila Gurchenko), conferindo à breve jornada uma certa dimensão doméstica e de normalidade.
Baseado em uma história do correspondente de guerra, escritor e poeta Konstantin Simonov, o segundo longa-metragem autoral do cineasta russo Aleksey German foi filmado em preto e branco e carrega um tom melancólico, com ocasionais rupturas violentas. Assim como outros filmes de German, Vinte dias sem guerra foi censurado e lançado apenas cinco anos após sua conclusão.
Direção
Yervant Gianikian e Angela Ricci Lucchi
Informações
França
2013. 63min. 14 anos
Formato de exibição
DCP
O último longa-metragem finalizado pelo casal italiano Gianikian e Ricci Lucchi começa com uma frase de Italo Calvino sobre a morte de Benito Mussolini em 1945: “Após estar na origem de tantos massacres sem imagem, suas últimas imagens são as de seu massacre”. Vemos uma multidão aglomerada que parece assistir alegremente o fuzilamento do “Líder”. A partir daí, o filme faz uma regressão para o período da ocupação italiana na Etiópia, Eritreia e Líbia, entre as décadas de 1920 e 1940, através de imagens de arquivo que intercalam trabalhadores e desfiles de carnaval na Itália, paradas militares pomposas e cenas cotidianas de povos africanos e de seu extermínio impetuoso. Acompanhando as imagens, ouvimos as vozes dos cineastas e da cantora e compositora Giovanna Marini relatando as avassaladoras e silenciosas estratégias de guerra dos militares fascistas.
O material fílmico de País bárbaro (que estreou no Festival de Locarno em 2013) provém primeiramente do arquivo particular do colecionador Diego Leoni. Como em outras obras do casal, Gianikian e Ricci Lucchi refotografaram o material original em película e manipularam as novas cópias com tinturas e efeitos de velocidade que proporcionam características surpreendentemente humanas e atemporais. O filme ainda contém uma trilha sonora minimalista de Keith Ullrich, que dá à obra uma atmosfera contemporânea, junto com o texto falado, que também expressa a continuidade do fascismo nos dias de hoje.
IMS Rio
15 de novembro de 2018
Após a exibição de País Bárbaro, às 18h, haverá debate com os curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard.
IMS Paulista
29 de novembro de 2018
Após a exibição de País Bárbaro, às 20h30, haverá debate com os curadores Aaron Cutler e Mariana Shellard e a convidada Maria Luiza Tucci.
Maria Luiza Tucci Carneiro: graduada em História, Mestre em História Social e doutora em Ciências Humanas pela USP. Livre-docente e Professora Senior do Dpto. de História FFLCH-USP. Desde 2006 é coordenadora do Laboratório de Estudos de Etnicidade, Racismo e Discriminação -LEER USP, onde desenvolve o projeto Vozes do Holocausto junto ao Núcleo de Estudos Arqshoah. Autora de: Dez Mitos sobre os Judeus (2014); Cidadão do Mundo: O Brasil diante do Holocausto e dos Refugiados do Nazifascismo (2010); O Antissemitismo na Era Vargas, 3ed. (2001). Organizadora das coleções: Vozes do Holocausto, com Rachel Mizrahi (Maayanot); Histórias da Imigração (Edusp). Pela Editora Humanitas coordena as coleções: Histórias da Repressão e da Resistência; Histórias da Intolerância; e Testemunhos (Humanitas).
Sessão Mutual Films é um evento bimestral com o propósito de criar diálogos entre as várias faces do meio cinematográfico, trazendo para o público, sempre que possível, filmes, restaurações e eventos inéditos em sessões duplas.
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