Estilo de xilogravura japonesa bastante popular, o termo ukiyo-e significa pinturas do mundo flutuante. A coleção do IMS possui 155 obras desse gênero, a maioria datada do século XIX, que retratam em cores vibrantes paisagens, costumes, cenas de trabalho e atores de teatro kabuki.
Por Madalena Hashimoto Cordaro
O Instituto Moreira Salles possui um acervo de 155 estampas ukiyo-e, ou “pinturas-brocado”, como as denominavam os antigos habitantes da antiga cidade de Edo (atual Tóquio).
A história do impacto que as estampas xilográficas exerceram sobre os pintores europeus dos fins do século XIX é sobejamente conhecida entre nós, destacando-se não só os muitos impressionistas que foram atraídos por seu mundo desconhecido e sofisticado, como também os movimentos de renovação na arquitetura (art nouveau) e no design moderno (Bauhaus).
Se as imagens foram absorvidas principalmente por seu caráter visual e interpretadas segundo os gêneros então correntes (paisagem, retrato, natureza-morta, pintura de gênero), estudos mais recentes apontam diferentes conceituações e correlações, uma vez que o Japão, hoje, já não é mais um exótico Oriente.
Ainda assim, tendo sido tão amplo o espectro abrangido pelo ukiyo-e, muitas vezes é difícil decifrar a representação apresentada e, para tentar dirimir, ainda que levemente, a dificuldade em interpretar as estampas representadas na coleção do Instituto Moreira Salles, fez-se necessário um estudo aprofundado sobre este acervo, que acabou se prolongando por mais de cinco anos.
Classificações como figuras-bonitas são certamente associáveis aos nossos retratos; lugares- famosos, a paisagens; usos-e-costumes e trabalhadores, a pintura de gênero, e tal equivalência não estaria equivocada. Entretanto, grande parte das estampas, não somente as da coleção do IMS, está intimamente associada a peças do teatro kabuki e, portanto, encontra-se repleta de personagens em cenas dramáticas, às vezes marcadas com seus signos nomeadores, mas muitas vezes apenas aludidas por meio de enigmas visuais ou turvos jogos lingüísticos. Com o acréscimo da poesia e dos escritos clássicos, o conhecimento desse repertório sem dúvida amplia a fruição da imagem, pois, em sua origem, pintura e poesia são atividades indissociáveis no Japão, como claramente o mostra a caligrafia.
Assim foi que um gênero que se compreendeu como “arte popular” passou a se caracterizar por erudição e sofisticação, num cultivo aos clássicos, especialmente do período clássico Heian (794-1186). Narrativas de Genji, escrito pela dama da corte Murasaki Shikibu, Narrativas de Ise, de suposta autoria do poeta exímio no amor, Ariwara-no Narihira, e o Livro do travesseiro, ensaios e crônicas de Sei Shônagon, são retomados, no que tange a alusões de amores elegantes e jogos de fruição elaborados. Some-se, ainda, nas fabricações de obras guerreiras e sociais, a retomada de Narrativas do clã Taira e Narrativas de Soga, obras de autores desconhecidos do período Kamakura (1186-1333), provavelmente de colaboração coletiva de anônimos cantadores ambulantes, no que tange a alusões a injustiças cometidas pelos samurais ora atuantes. O amor à poesia fez produzir, ainda, estampas com elogios aos poetas, com a divulgação de seus tanka, haikai, senryü ou kyôka mais famosos. Faz-se mister citar também as narrativas de fantasmas, crimes e submundo, que povoaram os escritos e as imagens a partir de meados do século XVIII.
Madalena Hashimoto Cordaro é professora e artista plástica. Foi curadora da exposição 'Mundos flutuantes', com estampas da coleção de ukyio-e do IMS.
Pesquise no acervo de Iconografia
Estão disponíveis para pesquisa online obras de iconografia brasileira do século XIX. Você pode realizar buscas livres, avançadas ou navegar pelas categorias mapas, álbuns, imagens e textos. O acesso ao banco de dados oferece a possibilidade de o usuário se cadastrar para salvar sua pesquisa, e uma ferramenta de zoom que permite observar as imagens em detalhes.