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Contraste

AUDIOdescrição

Walter Firmo

no verbo do silêncio a síntese do grito

12 Indígenas na fronteira do Brasil com a Colômbia

Audiodescrição: A fotografia quadrada, em preto e branco, intitulada Indígenas na fronteira do Brasil com a Colômbia, de 1963, mede 33 cm de comprimento por 33 cm de altura e está na parede com moldura fina, de madeira escura. Mostra seis indígenas segurando rifles, correndo enfileirados em área de terra batida, na fronteira do Brasil com a Colômbia. Eles têm cabelos curtos, os olhos amendoados e parecem esboçar um leve sorriso. Usam camisas de mangas curtas, calças compridas e estão descalços. Seguram os rifles à frente do corpo, com as duas mãos, com as pontas viradas para a direita. Ao fundo um pequeno obelisco sobre pedestal, cercado de vegetação baixa. Atrás do obelisco, mais dois indígenas apontam as armas para a direita.

Ouça agora o depoimento de Walter Firmo sobre esta obra e, em seguida, um texto sobre este núcleo.

Em 1963, trabalhando para o Jornal do Brasil, né?, eu ganhei o Prêmio Esso, escrevendo um texto, inclusive... Eu gosto de escrever. Então eu fui fotografar e escrever o texto... Deu "100 dias na Amazônia de ninguém"... O título da reportagem. E ganhei um prêmio, de ir a Nova York. Nesse contexto visual, de forma quadrada, mas pra mim é um reflexo, um filme preto e branco, a gente vê uns indígenas correndo, que foi uma cena trabalhada como se eu fosse um homem de cinema. Eles estão armados, né?, defendendo a nossa mãe-pátria, e até simbolizada numa fronteira com a Colômbia ali, por um concreto, né?, que forma exatamente a fronteira entre esses dois países.

Walter Firmo realizou no Brasil, em meados dos anos 1960, procedimentos e investigações no campo da linguagem que o colocam numa perspectiva muito próxima, por exemplo, de trabalhos como os do fotógrafo canadense Jeff Wall, em especial aqueles que recorrem à teatralidade e à encenação. Tomando como referência direta obras clássicas da pintura – em Firmo, as de Alberto da Veiga Guignard e Heitor dos Prazeres; em Wall, as de Eugène Delacroix e Edouard Manet –, muitos dos trabalhos de ambos são construções de retratos e cenas, elaboradas conscientemente pela fusão da encenação e da direção de cena com a frontalidade e a singularidade da documentação figurativa e direta, característica do processo fotográfico.

Essas imagens incorporam um tempo expandido que se contrapõe à instantaneidade e à fragmentação narrativa do registro documental direto, abolindo a presença do extracampo e a necessidade de contextualização da imagem testemunho. Elas realçam, em contraposição, a qualidade dos elementos eminentemente pictóricos dentro do campo da imagem, organizados pelo autor e cuidadosamente dispostos em torno de uma narrativa teatralizada e preconcebida.

Nesse processo, Firmo construiu muitas de suas imagens organizando e justapondo, a céu aberto ou em espaços interiores, personagens, fundos e objetos, retratados em configurações específicas. Cenas dirigidas por ele, sempre afetuosas, intensas e vibrantes, produzem imagens icônicas, como as de Pixinguinha, João da Baiana e Clementina, realizadas para uma reportagem sobre o samba carioca publicada na revista Manchete em 1967. Ou ainda os retratos de seus pais, acompanhados dos netos, baseados nos quadros Família do fuzileiro naval (1935) e Os noivos (1937), de Alberto da Veiga Guignard.

Também são icônicos muitos de seus retratos de personagens menos conhecidos ou anônimos, como a imagem em preto e branco do pescador na cadeira de balanço, trazendo para o campo do pictórico uma proposição formal e criativa a ser desvendada e estabelecida no confronto e no diálogo entre a obra e o observador/espectador. Encenação, singularidade e vernacularidade se fundem na linguagem poética construída por Firmo ao longo de sua trajetória.

Peça ajuda a um orientador de público ou um educador para deslocar-se até a próxima foto com audiodescrição: Ensaio sobre o nu e negritude. O QR code encontra-se na parede, à direita da obra.