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Contraste

AUDIOdescrição

Walter Firmo

no verbo do silêncio a síntese do grito

13 Ensaio sobre nu

Audiodescrição: A fotografia colorida, retangular na horizontal, intitulada Ensaio sobre nu e negritude, de 2002, mede 123 cm de comprimento por 83 cm de altura e está na parede com moldura fina, de madeira escura. Retrata em plano americano (dos joelhos para cima), um casal jovem nu, a mulher na frente, o homem atrás, perfilados para a esquerda no meio de um canavial, com os braços ao longo do corpo. Ao fundo, à direita, uma igreja colonial branca, em dia de céu azul com muitas nuvens. A mulher é magra, tem os cabelos pretos com longos dreads finos. O homem é magro, tem cabelos bem curtos e o rosto anguloso. A luz que incide sobre a plantação confere uma composição de cores e realce ao tom de pele retinto dos retratados.

Ouça agora o depoimento de Walter Firmo sobre esta obra e, em seguida, um texto curatorial. Depois de ouvir o depoimento e o texto, a próxima obra com audiodescrição é Vendedor de sonhos.

Eu estou vindo de Feira de Santana, assim, por volta de 2002, num ônibus. No lado direito do ônibus, tô vendo, assim, um canavial, sempre plantações de canaviais... Aí eu vi uma igrejinha, né?, já carcomida ali, já... Não estava mais em uso, né? E eu fiquei imaginando, né? Casamento, sexualidade... E a questão... do canavial que empregava muitos escravos, né? Pensei num casal desnudado. Fui pra Salvador, e lá pratiquei a minha ideia, arranjei uma moça que fazia filosofia e era modelo. O problema foi achar o cara que posasse nu. Então naquela praia, né?, que eu vou sempre em Salvador, né?, eu vi um homem empurrando um carrinho e vendendo rolinhos de cana, né? Eu pedi pra ele: "Olha, eu queria... Me dê aí uns quatro ou cinco desses, mas eu quero lhe fazer um pedido. O senhor posaria nu para mim? Mas não é aquilo que o senhor está pensando, não, eu sou pai e sou avô, viu?" Aí o cara... "Eu vou lhe pagar tanto"... E o cachê era tanto, né? Eu paguei o homem, como paguei a moça também. E fizemos essa... Ele topou, fizemos, botei os dois num carro alugado, fui àquele lugar e fiz essa fotografia estupenda, da nudez de duas belas configurações negras com seus corpos. Poxa vida! Lindo, lindo! Eu adoro essa fotografia.

O trabalho de Walter Firmo não pode ser entendido como um discurso simples de elogio da brasilidade, da cultura popular, do nacional, da mestiçagem ou da assimilação. Seu trabalho nos mostra o que fizemos de nós mesmos, nas condições mais duras e extremas de racismo e de desigualdade. Mais do que uma memória da nação, o trabalho de Firmo faz parte de um “arquivo fotográfico da diáspora”, como indica Tina Campt, ou também num patrimônio da diáspora negra, como nos lembra Suely Carneiro. Uma diáspora transatlântica, registrada por Firmo no Brasil e em viagens a Cuba, Jamaica, EUA e Cabo Verde, através de imagens, aqui reunidas, que mostram que o arquivo daquilo que a população negra se tornou a partir de sua jornada diaspórica deve ser lido patrimônio da história negra global.

Admirar as cores de seu trabalho por si só é algo estéril. É preciso, antes de tudo, ter compromisso político com as personagens apresentadas. Diante dessas imagens, precisamos nos perguntar se é possível universalizar a humanidade a partir das personagens negras que Firmo apresenta ou se é preciso recorrermos sempre às ideias de nacional, de mestiçagem, de brasilidade como uma forma de licença para poder admirar a sua obra sem ferir os brios coloniais da branquitude.

A obra Ensaio sobre o nu e negritude, que você acabou de conhecer, faz parte do núcleo sobre Carnaval, Viagens, Experimentações com a Cor, e tem como base a ideia da fotografia como encantamento, encenação e teatralidade, em diálogo com a pintura e o cinema. São cerca de 93 obras, 1 vitrine com livros publicados por Walter Firmo e câmeras fotográficas, diapositivos, 2 vídeos, expostos em salas com paredes cinza e laranja. Além do Ensaio sobre o nu e negritude, temos neste núcleo mais três fotos com audiodescrição: Vendedor de sonhos, Nova York, Bumba meu boi, com reprodução tátil, e uma foto sem título e definição de lugar.

Vamos conhecer agora a próxima obra com audiodescrição: Vendedor de sonhos, que tem um totem na frente com a reprodução tátil da obra. O QR code encontra-se sobre o totem, à direita da obra.