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Fotografia e literatura

Nos livros de Maureen Bisilliat

Sertões: luz & trevas

Texto de Euclides da Cunha
Raízes Artes Gráficas, 1982/1983; ed. alemã: Edition Diá, 1984

Depois de concluir, ao menos em parte, seu amplo projeto sobre o Xingu, que envolveu exposições e publicações lançadas nos anos 1970, Bisilliat se debruçou sobre Os sertões, de Euclides da Cunha, revisitando imagens que fizera entre 1967 e 1972 no Nordeste brasileiro. Do clássico romance social de Euclides, que deriva de uma investigação jornalística sobre a guerra de Canudos, no interior da Bahia, a fotógrafa extrai trechos das duas primeiras seções, “A terra” e “O homem”, e um pequeno excerto da terceira.

Parte do livro, conta Bisilliat, foi elaborada numa noite, quando refotografou com uma lente macro ampliações em preto e branco e folhas de contatos daquelas imagens, às vezes lançando mão de recursos para colori-las, como uma luz de tungstênio. O restante, mais ou menos metade, foi composto com ampliações tradicionais em cores.

Sertões: luz & trevas é o livro favorito da fotógrafa, aquele que considera mais bem-acabado e forte. No prefácio, ela nota como “nos 80 anos que separam as populações sertanejas aqui retratadas, poucas mudanças ocorreram em favor dos habitantes destas regiões”. Se há esse aspecto de denúncia de uma realidade, há também a ideia, mais da ordem do poético, de revelar um “mundo ambivalente, real e mítico, onde homem e natureza se confundem”. Aqui e em boa parte de seu trabalho, Bisilliat une o social e o estético, conseguindo se esquivar do panfletário e do piegas – como nas melhores obras de arte.

Para alegria da autora, o livro não foi repudiado pelos euclidianos, como temia – na segunda edição, de 1983, ela chegou a acrescentar no final do livro indicações precisas de onde cada trecho textual fora retirado. E, como se não bastasse, uma edição alemã do livro de Bisilliat, lançada apenas dois anos depois (com posfácio de Mario Vargas Llosa), foi um dos grandes incentivos para que Os sertões fosse posteriormente publicado naquele país.

O livro é dedicado também a Ariano Suassuna, que, segundo Bisilliat, é a “terceira ponta do triângulo literário, místico, telúrico, mítico e sertanejo” – as outras duas seriam Euclides da Cunha e Guimarães Rosa. A Suassuna, aliás, foi encomendado um texto introdutório à obra. Mas o escritor entregou mais de 100 páginas escritas, inviabilizando seu uso como prefácio. Esse material configura um livro, ainda inédito, no qual a fotógrafa se torna personagem. O título: Maurina e a lanterna mágica.


Do livro Sertões: luz & trevas (Raízes Artes Gráficas, 1982), de Maureen Bisilliat, com texto de Euclides da Cunha.

Do livro Sertões: luz & trevas (Raízes Artes Gráficas, 1982), de Maureen Bisilliat, com texto de Euclides da Cunha.

Do livro Sertões: luz & trevas (Raízes Artes Gráficas, 1982), de Maureen Bisilliat, com texto de Euclides da Cunha.

Do livro Sertões: luz & trevas (Raízes Artes Gráficas, 1982), de Maureen Bisilliat, com texto de Euclides da Cunha.

Do livro Sertões: luz & trevas (Raízes Artes Gráficas, 1982), de Maureen Bisilliat, com texto de Euclides da Cunha.

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A visita
O cão sem plumas
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