IMS Rio - Casa e jardim
Sobre a casa da Gávea
Flávio Pinheiro, superintendente executivo do Instituto Moreira Salles
Esta casa não é apenas uma casa. Projetada em 1948, começou a ser habitada em 1951. Foi acolhimento para as rotinas e a intimidade da família do embaixador e banqueiro Walther Moreira Salles. Mas o que o seu proprietário desde o início encomendou ao arquiteto Olavo Redig de Campos, discreto expoente da arquitetura moderna brasileira que florescia nos anos 40 do século XX, foi bem mais do que uma residência. A casa deveria ser também local de festas e banquetes que ornariam a intensa atividade pública de Moreira Salles, como homem de negócios e, mais tarde, diplomata.
Assim, o projeto de Redig de Campos combinou magistralmente monumentalidade e conforto, em espaços arejados por brises e treliçados, colunas revestidas de mármores brancos e o avantajado rendilhado de um notável cobogó. No centro de um terreno de 10 mil metros quadrados, o projeto de Redig de Campos dialogava com outro, o do paisagismo desenhado por Roberto Burle Marx. Em ambos, há grandeza e detalhes. Detalhe: as maçanetas de latão das portas foram moldadas pela mão do embaixador (experimente, suas mãos também se encaixarão perfeitamente nelas; apesar de diferenças anatômicas, mãos são, essencialmente, mãos). Grandeza: o painel de azulejos pintado por Burle Marx ecoa um tempo de utopias que descortinava promessas de progresso e felicidade.
Nos anos 1980, a casa deixou de ser habitada. Não mais ressoavam por seus corredores e cômodos a sabedoria enciclopédica e as idiossincrasias do mordomo argentino Santiago Badariotti Merlo, seu mais fiel escudeiro. Hibernou algum tempo como relíquia. Só recuperou sua vocação pública anos depois. Transitou de uma memória para outra, bem mais ampla.
Em outubro de 1989, Walther Moreira Salles decidiu arrematar um belo chalé posto à venda em Poços de Caldas, Minas Gerais, cidade onde passou sua juventude. O chalé materializou a ideia de criar uma instituição cultural. Em 1992, nascia o Instituto Moreira Salles. Não tinha vocação definida. Até que, em meados dos anos 1990, a família resolveu eleger uma área de excelência: a Fotografia.
Exatamente dez anos depois de Poços, em outubro de 1999, a casa da Gávea foi reaberta, depois de obras de adaptação, como um importante centro cultural do país. Nestes 20 anos, o IMS cresceu exponencialmente. Entesourou, organizou-se e difundiu imensos acervos de Fotografia, Música, Literatura e Iconografia, todos alocados no Rio, e firmou-se como um bom endereço de Cinema. Na cena cultural do Rio de Janeiro, São Paulo e Poços de Caldas, o IMS singularizou-se com exposições e atividades voltadas para seus acervos, mas sempre indo além deles. É uma casa de memória. Da memória que confere identidade e precisa ser preservada também como fiadora de liberdade. Da liberdade de enxergar com cuidado e espírito crítico o passado, o presente e o futuro.
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