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Rádio Batuta celebra a obra de Radamés Gnattali

24 de janeiro DE 2022 |
Radamés Gnattali na Rádio Nacional. Imagem do site radamesgnattali.com.br

 

Compositor, arranjador, maestro e pianista, Radamés Gnattali (1906-1988) foi um dos nomes mais importantes da música brasileira do século XX, sendo reverenciado por ícones como Tom Jobim e Pixinguinha. Em sua homenagem, a Batuta, rádio de internet do Instituto Moreira Salles, lança o programa Radamés Gnattali, artesão e operário da música. O documentário em áudio estará disponível gratuitamente, no site da Batuta, a partir de 27 de janeiro, data do 1160 aniversário do pianista.

Primeira série radiofônica de fôlego sobre Radamés, é composta por 12 episódios, que serão lançados todos juntos. De forma cronológica, o documentário detalha a produção e o legado do músico, ainda pouco conhecido do grande público. Ao longo de sua carreira, entre as décadas de 1930 e 1980, Radamés escreveu milhares de arranjos, tanto para o rádio quanto para discos, entre eles alguns históricos, como os de “Aquarela do Brasil” e “Copacabana”. Compôs ainda inúmeras peças de música clássica, entre outras obras.

A série é apresentada pelo cantor e pesquisador Pedro Paulo Malta, que também assina o roteiro com a jornalista Helena Aragão e o violonista e arranjador Paulo Aragão, responsável pela direção musical. “Radamés atravessou quase todo o século XX, tendo um papel essencial na modernização da música popular, na difusão da música nacional
e no desenvolvimento de uma linguagem nacionalista muito original na música de concerto, ao mesclar elementos oriundos do folclore, das vanguardas e da música popular urbana”, diz Paulo Aragão.

O documentário apresenta depoimentos de familiares e músicos que conviveram e foram influenciados por Radamés, como Paulinho da Viola, Dori Caymmi e João Bosco. Há também trechos de entrevistas concedidas pelo próprio compositor e músicas de sua autoria, incluindo uma gravação inédita de “Malandro”. Composta por Radamés quando tinha 16 anos, a peça só havia sido registrada em partitura. A convite do programa, o pianista Hércules Gomes gravou a música para o segundo episódio. A série traz ainda numerosos  materiais de arquivo, muitos provenientes do site Discografia Brasileira, do IMS, dedicado à produção de discos de 78 rotações por minuto.

Pixinguinha, Radamés Gnattali e Jacob do Bandolim. Imagem do site radamesgnattali.com.br

 

Nos primeiros episódios, o programa trata do início da trajetória de Radamés, nascido em 1906, em Porto Alegre, em uma família de imigrantes italianos. Em 1924, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde ficavam as principais rádios, gravadoras e o Teatro Municipal. Para se sustentar, atuou em diversas frentes, tocando viola e piano em orquestras. Na capital, viu Ernesto Nazareth tocar no centro da cidade. Na década de 1930, encontrou-se inclusive com o então presidente Getúlio Vargas, episódio descrito no capítulo 3.

Em 1936, ingressou como maestro e arranjador na Rádio Nacional, onde permaneceu por cerca de 30 anos e foi responsável por programas de sucesso, como Um milhão de melodias. De forma eclética, passou a misturar cantos tradicionais brasileiros, de domínio público, com sambas, jazz e outras influências.

A série também narra o momento em que Radamés foi convidado para trabalhar nos estúdios da Walt Disney, no início da década de 1940. Por temer a instabilidade financeira, recusou a oferta da temporada em Hollywood e permaneceu com seu emprego na Rádio Nacional. A proximidade com o cinema, no entanto, foi frequente em sua carreira, tendo concebido trilhas sonoras de filmes nacionais consagrados, como Rio, 40 graus (1955), de Nelson Pereira dos Santos, e Eles não usam black-tie (1981), de Leon Hirszman.

Outro destaque abordado pelo documentário é a relação do maestro com grandes músicos, como Villa-Lobos, com quem teve diferenças e semelhanças, Pixinguinha, de quem foi amigo por quatro décadas, e Tom Jobim, que via Radamés como um pai musical, que lhe ensinou muito sobre arranjos e regência. Tom, por sinal, foi responsável por diversas homenagens ao músico, inclusive no dia do seu enterro, em 1988, quando chamou todos para um chope no bar ao lado do cemitério, episódio descrito no programa.

 

Radamés Gnattali e Tom Jobim, que o via como um "pai musical". Imagem do site radamesgnattali.com.br

 

A ligação do compositor com a bossa nova também é tema de destaque. Segundo Paulo Aragão, o maestro “foi um grande modernizador, que antecipou a harmonia da bossa nova, influenciando o movimento como um todo”. Radamés inclusive achava ótimo que houvesse, como dizia, dois sambas: um mais tradicional e outro com novos elementos. "Você não pode ficar parado lá em Pedro Álvares Cabral", afirmou numa entrevista.

Aberto à experimentação, produziu extensivamente, atuando em diversas frentes, como um operário no campo da música. No entanto, sua obra enquanto compositor, que considerava a mais importante, ainda é pouco difundida, como pontua Pedro Paulo Malta: “Radamés embaralhava com frequência as fronteiras entre a música clássica e a popular, o que não era aceito por parte da cena de concerto brasileira. Sua obra autoral ainda é um tesouro pouco conhecido.”

Ao reunir farto material, a série contribui para a valorização e difusão da produção do maestro, um artista múltiplo, como enfatiza João Bosco em entrevista ao documentário: “Porque o Radamés entendia da coisa toda. Era o folclore, era o candomblé, era o afro, era a canção, ele entendia de tudo. Choro, música popular, música de concerto. Com a mesma genialidade, com a mesma competência. Era uma coisa absurda, uma coisa que transcendia. Era um cara extraordinário.”


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