Edição 2023
Em nome do vazio. Fotografia, conquista e colonização de Estado no âmbito da Marcha para o Oeste.
Fotografias de Alice Brill, José Medeiros, Henri Ballot e Marcel Gautherot
ANEXOS
Anexo I
Mais sobre o eixo temático
As imensas riquezas naturais daquelas vastas regiões serão, dentro em breve, exploradas convenientemente: povoações e cidades surgirão. Teremos no coração do Brasil uma civilização decorrente da colonização planificada pela Fundação Brasil Central.
O Araguatins (GO), 5 de março de 1946, p. 6
A expedição Roncador-Xingu está enriquecendo a corografia brasileira. Por todo lugar que passa, desbrava e batiza, pois o batismo aqui é a consagração do desvendamento. Sendo uma região inteiramente virgem, essa por onde está passando a expedição, nunca recebeu de nenhum branco, consequentemente, outro nome se não o muito vago de selva. Mas com a presença do bandeirante, frente a frente com seus mistérios e surpresas, com sua opulência e selvageria, a mata virgem vai cedendo lugar ao rancho, ao núcleo, ao povoado e finalmente à cidade, que se encarregará, então, de fazer esquecer, com seu progresso, um passado de lutas do bandeirante indômito.
A Noite, 28 de junho de 1945, p. 1
Mas não é propriamente o Rio que me preocupa na mudança da capital - que o Rio cuidará de si até muito bem. Mais me preocupa a ideia de ver o planalto central violado na sua pureza e na sua inacessibilidade, é o planalto “civilizado”, contaminado, vencido. Antes de termos realmente conquistado e possuído todo o resto do Brasil descoberto, já avançamos para o Brasil desconhecido: continuamos com o nosso velho sistema de roças e queimadas, inutilizando terra sem realmente cultivar nenhuma, porque cultivo é adubo e arado e não apenas machado e fogo. E vamos espalhando mais a pobreza e o atraso, e depois do planalto central virá a Amazônia, e onde já hoje inocentes malocas de índios nus haverá favelas, e nas belas cachoeiras desconhecidas os matarazzos tirarão lucros extraordinários, e os meninos e as raparigas ficarão tísicos, e haverá câmbio-negro onde ainda agora se vive da caça e da pesca, e às doenças naturais dos xavantes acrescentaremos as nossas doenças, e ao seu analfabetismo somaremos o nosso analfabetismo.
Rachel de Queiroz. O Cruzeiro, 3 de julho de 1948, p. 98
Em 4 de outubro de 1943, o decreto-lei 5878 instituiu a Fundação Brasil Central (FBC), “destinada a desbravar e colonizar as zonas compreendidas nos altos rios Araguaia e Xingu e no Brasil Central e Ocidental”1.
O novo órgão deveria criar a infraestrutura necessária para o funcionamento da Expedição Roncador-Xingu (ERX), estabelecida poucos meses antes para explorar e incentivar o povoamento da região do maciço central do Brasil por meio da criação dos então chamados "núcleos de civilização". A ERX seria a vanguarda da Marcha para o Oeste, ambicioso programa nacionalista lançado por Getúlio Vargas, em janeiro de 1938, alguns meses depois de ter decretado o Estado Novo. De acordo com o presidente da República, a Marcha abriria os caminhos e estenderia as fronteiras econômicas nos territórios considerados vazios, onde seriam fincados definitivamente “os alicerces da Nação”. Em mais de uma ocasião, Vargas equiparou a Marcha ao “verdadeiro sentido de brasilidade”2.
Fundada em plena Segunda Guerra Mundial, no ano seguinte ao ingresso do Brasil no conflito armado, a FBC extrapolou rapidamente sua função inicial, de auxiliar da ERX, ganhando amplo alcance em termos dos territórios abarcados e das atividades desenvolvidas. Geograficamente, a entidade operou em cinco estados: Goiás, Mato Grosso, Tocantins, no sul do Pará e do Amazonas. Para avançar na integração do território nacional, aumentando as fronteiras econômicas e levando a “civilização” aos pontos mais distantes, criou infraestrutura, mapeou rotas aéreas, construiu campos de pouso e buscou “integrar” os povos originários que encontrou em seu passo à vida “produtiva” da nação.
No âmbito econômico, suas tarefas incluíram mapeamentos, planos de exploração das riquezas naturais e instalação de indústrias. Para isso, tornou-se proprietária de enormes latifúndios nos cinco estados; agenciou mão de obra; gerenciou usinas de açúcar, olarias e entrepostos comerciais; explorou madeira e administrou uma ferrovia. Sem um território geográfico previamente delimitado, a FBC foi ampliando seus domínios à medida que seus agentes e projetos penetravam nos diversos territórios, ocupando terras compradas, doadas ou, por vezes, invadidas, gerando nesse processo também grandes conflitos.
A Expedição Roncador-Xingu, atividade mais difundida da FBC, entrou para a história associada ao nome dos irmãos Villas Bôas: Orlando, Cláudio e Leonardo, e à criação do Parque Nacional do Xingu. Algumas das ações que tiveram mais destaque no âmbito desta expedição foram os contatos com diversos povos indígenas, que contavam geralmente com o suporte do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), sempre acompanhados de muita publicidade por parte dos meios de comunicação. Xavante, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Mehinako, Waurá, Yawalapiti, Trumai, Juruna, Asuriní e Karajá são alguns dos povos que ficaram conhecidos nacionalmente, após terem seus territórios invadidos por terra, por água e pelo ar, já que uma das principais formas de mapeamento dos territórios e de suas populações se deu por via aérea, com a participação ativa das forças aéreas brasileira e norte americana.
A presença do SPI nas ações de conquista do território e a influência de seu primeiro presidente, o Marechal Cândido Rondon, foram fundamentais nos primeiros tempos da FBC para garantir que boa parte das invasões ocorresse sem armamentos. O lema mais repetido de Rondon, adotado pela ERX, foi “morrer se preciso for; matar nunca”. A relação entre as duas entidades, contudo, não foi isenta de tensões ao longo das diversas administrações. As divergências se converteram, em certos momentos, em querelas internas marcadas por ameaças e acusações de corrupção e de graves delitos contra os indígenas.
Contatos de funcionários da FBC com os povos indígenas também ocorreram fora do âmbito das ações da ERX, sem a mediação do SPI, e foram marcados, não raro, por atos de violência.
Boa parte dos processos enunciados pelo Estado como civilizatórios, tais como a criação de núcleos urbanos, a abertura de rotas aéreas e terrestres, a implantação de fábricas, postos de saúde e escolas e a construção de campos de pouso mobilizou um grande número de entidades e agentes governamentais, assim como representantes do Exército e da Aeronáutica. Empresários, políticos, religiosos, profissionais de saúde, cientistas, jornalistas, fazendeiros e trabalhadores locais foram agentes ou afetados pelas diversas atividades da FBC. A presença de estrangeiros nesse momento, sobretudo de norte-americanos, civis e militares, também ocorreu com certa constância.
Muitas foram as consequências da atuação da Fundação Brasil Central. As mais positivas, embora polêmicas pela enorme intervenção do Estado brasileiro nas formas de vida dos povos da região, não foram projetadas no momento de sua concepção, mas decorreram da vivência das equipes nos territórios. Tratam-se da criação do Parque Nacional do Xingu, em 1961, e do trabalho médico encabeçado por Noel Nutels, membro da FBC desde 1943.
Outro corolário foi a construção de Brasília, projeto que estava formalmente inserido na pauta republicana desde a Constituição de 18913. Concretizado apenas em finais da década de 1950, o evento foi reiteradamente narrado como a materialização da cruzada civilizatória e modernizadora do Estado brasileiro sobre os territórios “inexplorados” no Brasil Central.
Inúmeros foram também os resultados negativos desse grande projeto de conquista e colonização interna, que teve efeitos desastrosos para os povos indígenas e em seus territórios. Transmissão de doenças, deslocamentos forçados, violência contra as mulheres, escravização e genocídios são crimes que foram praticados e naturalizados em nome de um projeto de Estado, de cunho nacionalista e modernizador, em pleno século XX.
De acordo com João Marcelo Ehlert Maia, “a história da FBC seria marcada por choques com os poderes estaduais, conflitos com a população local, problemas de gestão financeira e ambiciosos projetos de ordenação territorial que se mostrariam inexequíveis"4. Para o mesmo autor, ainda, o projeto de Estado baseado na acumulação espacial e na expansão territorial é uma herança ainda presente no Brasil contemporâneo. Em suas palavras, “a FBC foi um elo fundamental nesse processo de acumulação espacial, pois a expansão das práticas estatais pelo território produziu oportunidades para investimentos e extração de renda, ao mesmo tempo que incentivou mais um capítulo da longa marcha dos homens sobre o espaço (...). As novas fronteiras do agronegócio e os grandes projetos hidrelétricos no Alto Xingu reiteram a articulação entre grande capital e Estado que marcou a história das práticas estatais no Brasil e suas linguagens”5.
As consequências do projeto de soberania, desenvolvimento e identidade da Nação baseadas em práticas de conquista e colonização herdadas desde 1500, contudo, ainda são sentidas cotidianamente em todo o Brasil, afetando, sobretudo, os povos originários e as demais populações vulnerabilizadas por estas mesmas práticas.
A FBC foi extinta em 1º de dezembro de 1967, pela lei 5.365, em plena ditadura militar, quando seus bens foram transferidos para a Superintendência do Centro Oeste (Sudeco). Nesse mesmo ano, o SPI também foi extinto e substituído pela Fundação Nacional do Índio (Funai).
O papel das imagens na Marcha para o Oeste
Os meios de comunicação tiveram ampla atuação na divulgação das ações da FBC, sobretudo na primeira década de existência. A imprensa foi incentivada a enviar equipes de reportagem para acompanhar os avanços da Expedição Roncador-Xingu desde seus movimentos iniciais. A revista ilustrada O Cruzeiro e jornais como Última Hora, O Jornal e A Noite noticiaram com alarde aspectos do cotidiano das expedições e das várias frentes de trabalho da FBC. De acordo com o jornalista iugoslavo Tibor Sekelej6, que se incorporou a um trecho da expedição em 1946 a convite da FBC, a expedição era acompanhada diariamente pelos jornais através dos repórteres que todos os dias chegavam ao acampamento de avião. As próprias entidades, como o SPI e a FBC, mantiveram em suas equipes fotógrafos e cinegrafistas e formaram um acervo considerável de imagens oficiais. Não por acaso jornalistas e cinegrafistas que participaram de perto das atividades oficiais da Marcha para o Oeste chegaram ao comando das entidades: o cinegrafista Nilo Vellozo assumiu, na década de 1950, cargos de direção no SPI e o jornalista Jorge Ferreira, repórter de O Cruzeiro, chegou à presidência da FBC em 1961.
A fotografia e o cinema tiveram, portanto, ativa presença nesse projeto de colonização impulsionado pelo Estado brasileiro. As imagens documentaram e narraram ações da Marcha para o Oeste, sendo veiculadas, em diversas ocasiões, como testemunha ocular privilegiada de fatos inéditos na história do país, sobretudo em relação às representações de povos indígenas “nunca antes contatados” pelos “homens civilizados”.
Por outro lado, essas mesmas fotografias constituíram uma memória visual relevante de povos, lugares e práticas, que precisa ser revisitada. Se as imagens, em sua época, foram agentes do discurso do Estado e, nas palavras do arquiteto Paulo Tavares, legitimaram “simbolicamente as práticas coloniais como um elemento fundamental da modernização nacional”7, hoje elas podem, e estão sendo, repensadas e reapropriadas à luz de outras perspectivas que atualizam e ressignificam a história desse projeto complexo que foi a ocupação do Oeste, executada pela FBC.
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1 Decreto-lei nº 5.878 de 4 de outubro de 1943.
2 Saudação aos brasileiros, pronunciada no Palácio Guanabara e irradiada para todo o país à meia-noite de 31 de dezembro de 1937.
3 “Fica pertencente à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.400 km², que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a futura Capital Federal”. Constituição Federal de 1891, artigo 3º.
4 Maia, João Marcelo Ehlert. Estado, território e imaginação espacial. O caso da Fundação Brasil Central. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012, p. 78.
5 Idem, p. 200.
6 MONTEIRO, Paula. Selvagens, civilizados, autênticos: A produção das diferenças nas etnografias salesianas (1920-1970). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012, p. 422.
7 TAVARES, Paulo. A capital colonial. Revista Zum, 28 de julho de 2020. Disponível em: https://revistazum.com.br/ensaios/a-capital-colonial/
Anexo II
A Marcha para o Oeste e a Fundação Brasil Central no acervo do Instituto Moreira Salles (IMS)
O IMS possui em seu acervo mais de 1500 imagens vinculadas, direta ou indiretamente, ao universo de ações da Fundação Brasil Central (FBC), nas décadas de 1940 e 1950.
O conjunto fotográfico é bastante heterogêneo tanto nos aspectos estéticos, como nos motivos geradores das imagens e na trajetória que elas construíram ao longo do tempo. Nele existem fotografias totalmente inéditas, assim como outras amplamente conhecidas, que tiveram múltiplas publicações desde sua primeira veiculação em revistas e jornais.
Algumas das fotografias desse conjunto, aquelas diretamente ligadas aos povos que hoje integram o Parque Nacional do Xingu, participam atualmente da exposição Xingu: Contatos, no IMS Paulista (até 9/04/23), iniciativa que iniciou a revisão da história dessas imagens e contou com a colaboração de pesquisadores e lideranças indígenas, por meio da identificação de pessoas, locais e situações retratadas. É a primeira vez, contudo, que o conjunto mais amplo, em termos geográfico e temático, é reunido pelo IMS a partir do mesmo contexto gerador, que foi a atuação colonizadora da FBC, com o apoio de outras entidades governamentais, no âmbito da Marcha para o Oeste.
As imagens mais antigas, datadas de 1948, são de autoria de Alice Brill, então uma jovem fotógrafa em sua primeira viagem de trabalho, e uma das poucas mulheres a produzir material imagético da região naquele momento. Alice registrou a expedição de uma comissão parlamentar liderada pelo então deputado federal Café Filho que visitou Uberlândia, Goiânia, Aragarças, Xavantina, Ilha do Bananal, São Domingos e os Postos Indígenas da FBC Xingu e Kuluene, com o objetivo de avaliar o trabalho desenvolvido pela Fundação Brasil Central (FBC).
Boa parte dessas imagens permaneceu inédita. A fotógrafa tencionava publicá-las na revista Life. Duas imagens da coleção, sem créditos à autora, ilustram o artigo Convite a fotografar, uma reflexão sobre o papel documental da fotografia, publicada no segundo número da revista Habitat, em 1951. Outra fotografia, do mesmo conjunto, ilustrou o livro The arts in Brazil: A new museum at São Paulo, de Pietro Maria Bardi, em 1956, publicado pela editora italiana Milione.
Também em 1948, Marcel Gautherot realizou ampla documentação do povo Karajá e das paisagens da Ilha do Bananal, às margens do Rio Araguaia, possivelmente por encomenda do SPI. Registrou, no ano seguinte, trechos da Estrada de Ferro Tocantins (EFT), administrada pela Fundação Brasil Central. Os violentos conflitos gerados pela ferrovia, sobretudo depois da sua incorporação pela FBC, com os povos que habitavam a região, e especificamente com o povo Asuriní do Tocantins, foram noticiados em grande escala pela imprensa. As fotografias que Gautherot realizou desse povo, em 1953, registraram o primeiro contato oficial com o SPI, em busca de uma relação mais pacífica. Nessa mesma região, às margens do rio Tocantins, o francês fotografou o garimpo de diamantes na comunidade da Vila de Tauiry, outra atividade fortemente ligada aos conflitos na região.
Fotografias sobre a confecção de bonecas pelas mulheres Karajá foram publicadas no primeiro número da Revista Módulo, em março de 1955, no ensaio de Gaston Cruls intitulado Bonecas Carajás. Uma foto da Estrada de Ferro Tocantins foi publicada em 1950 no álbum fotográfico Brasil: 217 photographes de A. Bom, P. Verger et M. Gautherot, da editora francesa Paul Hartmann.
Entre os arquivos dos fotojornalistas da Revista O Cruzeiro, José Medeiros e Henri Ballot, encontramos registros de diversas expedições ao Brasil Central, lideradas pela FBC, pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) e pela Aeronáutica. Medeiros criou um forte vínculo com as populações indígenas do Xingu a partir de 1949, quando realizou a primeira das várias viagens que faria à região, acompanhando as expedições da Aeronáutica para mapeamento de rotas aéreas e construção de campos de pouso. O fotógrafo realizou ainda reportagens sobre o serviço de assistência médica aos indígenas e o avanço do Estado pela região. Parte das fotografias realizadas nas diversas viagens foram publicadas em O Cruzeiro.
Em 1953, Henri Ballot iniciou suas incursões ao Alto Xingu e ao Araguaia, para acompanhar as expedições dos irmãos Villas Bôas, então no SPI, em busca de contatos com povos indígenas, algumas delas no âmbito da construção da base aérea da Serra do Cachimbo, cuja inauguração também foi fotografada por Ballot, em 1954. Ao longo da década, o fotógrafo retornou diversas vezes para realizar reportagens para O Cruzeiro, frequentemente acompanhado do jornalista e cinegrafista Jorge Ferreira, que se tornaria, em 1961, presidente da FBC. Entre suas fotografias mais célebres encontram-se os registros das cerimônias tradicionais dos povos da região, como o Kuarup e o Jawari.
Minibios dos fotógrafos
(Colônia, Alemanha, 1920 - São Paulo, 2013)
Filha do pintor Erich Brill e da escritora e jornalista Marte Brill viveu em Hamburgo até os 13 anos. Em 1934 chegou ao Brasil com seu pai, morando por seis meses com ele na Ilha de Paquetá. Sua mãe já se encontrava em São Paulo e Alice somente a reencontrou após o carnaval do ano seguinte, quando passou a morar com ela na capital paulista. Aos 14 anos já empunhava sua primeira máquina fotográfica, presente de seu pai. Ainda em idade escolar, trabalhando na livraria Guatapará para ajudar nas despesas familiares, conheceu os pintores Aldo Bonadei e Paulo Rossi Osir, integrantes do Grupo Santa Helena, que se tornaram seus professores. Entre 1946 e 1947 ganhou uma bolsa para estudar artes na University of New Mexico, em Albuquerque, e na Art Student's League, em Nova York, nos Estados Unidos. Ao retornar ao Brasil, continuou estudando, desta vez gravura, com Poty e Yolanda Mohaly.
No final dos anos 1940 começou a trabalhar como fotógrafa, desenvolvendo especial interesse em temáticas de arte, arquitetura e paisagem urbana. Realizou fotografias para a revista Habitat, editada por Lina Bo Bardi, e, entre 1953 e 1954, a convite do marido da arquiteta, Pietro Maria Bardi, fundador do Museu de Arte de São Paulo, elaborou uma série sobre a cidade de São Paulo, para comemorar o IV centenário da cidade, que se tornou um dos seus trabalhos mais célebres. Também fotografou as cidades de Salvador, Rio de Janeiro e Ouro Preto.
Em 1975 Brill iniciou seu trabalho como crítica de arte, tendo publicado com certa regularidade ensaios no jornal O Estado de São Paulo. Seu livro Samson Flexor: Do Figurativismo ao Abstracionismo foi premiado como melhor publicação de arte pela Associação Paulista de Críticos de Arte em 1991. Além dessas atividades, dedicou-se à pintura e à vida acadêmica, alcançando o título de doutora pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo em 1994.
(Teresina, 1921 - L'Aquila, Itália, 1990)
Filho mais velho de Zenaide Medeiros e do fotógrafo amador Francisco Medeiros. Entre seus quatro irmãos, destaca-se o cenógrafo e figurinista Anísio Medeiros. Em 1939 a família se mudou para o Rio de Janeiro e, no ano seguinte, José começou a trabalhar como funcionário público, na Companhia de Correios e Telégrafos e no Departamento Nacional do Café. Paralelamente, trabalhava como freelancer, fotografando para as revistas Tabu, Rio e Sombra e fazendo retratos para artistas, num estúdio montado em sua residência. Em 1946, o fotojornalista Jean Manzon conheceu Medeiros e o apresentou para a equipe da revista O Cruzeiro, periódico com a maior tiragem da época. Com uma reportagem sobre as festas regionais de Alagoas, Medeiros conquistou espaço na redação, tornando-se fotógrafo da revista até 1962. Em suas inúmeras reportagens registrou o cotidiano, artistas e figuras políticas, eventos esportivos, festas e manifestações culturais, populações indígenas, tendo um olhar especial para assuntos considerados na época à margem da sociedade. Uma de suas reportagens mais discutidas foi As noivas dos deuses sanguinários (O Cruzeiro, 15 de setembro de 1951), que tornou público um ritual secreto de iniciação no Candomblé na Bahia. As fotografias realizadas foram publicadas mais tarde em seu livro Candomblé, o primeiro sobre a religião no Brasil. Como repórter fotográfico viajou por diversos países da Europa, África e América. Em 1962, após sua saída da revista, criou a agência fotográfica Imagem, em parceria com seu colega Flávio Damm, que manteve até 1965. Em seguida, dedicou-se à fotografia de cinema, assinando nessa função curtas e longas metragens como A Falecida (1965), Xica da Silva (1976) e Memórias do Cárcere (1983). No final da década de 1980, trabalhou como professor de fotografia na Escola Internacional de Cinema de San Antonio de Los Baños, em Havana, Cuba.
(Paris, França, 1910 - Rio de Janeiro, 1996)
Com 15 anos de idade, Gautherot ingressou na École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs sediada em Paris, para estudar arquitetura. Em 1936 participou da construção do Museu do Homem, na mesma cidade, e, no processo de documentação das peças que integrariam o museu, surgiu seu interesse pela fotografia. No mesmo ano, com uma carta de recomendação da instituição, viajou ao México para fotografar artefatos do Museu Nacional do México e a fazenda Tetlapayac, local em que o filme Que Viva Mexico! de Serguei Eisenstein, foi ambientado. Essas fotos foram publicadas em 1938 nas revistas Cahiers d’Art e Voilà e conferiram a Gautherot uma inicial notoriedade como fotógrafo, inclusive despertando o interesse de Pablo Picasso. A partir da leitura de Jubiabá, romance de Jorge Amado, Marcel Gautherot se interessou pelo Brasil e viajou para a região amazônica brasileira em 1939, fixando-se no Rio de Janeiro em 1940. Travou contato com intelectuais e artistas modernistas e, desde então, realizou trabalhos de documentação fotográfica em diversos locais do país para o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) e se aproximou de arquitetos brasileiros como Lúcio Costa e de intelectuais como Rodrigo Melo Franco de Andrade. Gautherot produziu um numeroso conjunto de registros sobre a arquitetura colonial e moderna brasileira, algumas junto com seu conterrâneo Pierre Verger. Em 1947 estreou na revista O Cruzeiro como freelancer ao publicar fotografias de carrancas em embarcações no Rio São Francisco, viagem em que também registrou pessoas e festas populares. A partir de 1948 colaborou com o folclorista Edison Carneiro em um projeto da Comissão Nacional de Folclore, criada em 1947, documentando manifestações culturais como bumba-meu-boi, reisado, círio de Nazaré, carnaval, entre outras. Entre suas atividades, também colaborou com revistas nacionais e internacionais, participou de exposições, fotografou obras de arte e publicou os livros Pernambuco: Recife - Olinda (1970), Congonhas do Campo (1973) e Bahia, Rio São Francisco, Recôncavo e Salvador (1995). Um de seus trabalhos mais conhecidos é a documentação da construção de Brasília na década de 1960, a pedido do arquiteto Oscar Niemeyer, que o tinha como fotógrafo predileto.
Mais sobre Marcel Gautherot no acervo do IMS ►
Conjuntos fotográficos de Marcel Gautherot no IMS
Estrada de Ferro Tocantins ►
Primeiro contato com o povo Asurini do Tocantins ►
Garimpo de diamantes no Rio Tocantins ►
Ilha do Bananal ►
(Pelotas, 1921 - São José, 1997)
Filho de mãe brasileira e pai francês, Ballot nasceu em Pelotas, Rio Grande do Sul, e se mudou para a França aos dois anos de idade, passando sua infância e adolescência na região de Charente. Participou da Segunda Guerra Mundial como piloto integrante das Forças Aéreas Francesas Livres (FAFL), e foi abatido pelos alemães em 1945, em território sob comando norteamericano. Passou dois anos em recuperação num hospital em Denver, onde teve um contato inicial com a fotografia, pois seu colega de convalescência era fotógrafo amador. Em 1949, Ballot se mudou para São Paulo e iniciou sua carreira como fotógrafo na revista O Cruzeiro, onde trabalhou por vinte anos. De acordo com sua viúva Carmen Judy Chateaubriand, gostava de reportagens que ofereciam algum grau de ação e aventura. Entre os trabalhos relevantes que Ballot realizou para a revista estão Cocaína (1952), 250 mil operários de braços cruzados - Greve em S. Paulo (1953), Antártida, silêncio branco (1957), Sete dias sem fronteira. Líbano: a morte em cada esquina (1958). Cobriu ainda as Copas do Mundo de 1958 e 1962. Em 1961, produziu Novo recorde americano: miséria (1961), matéria que expõe a pobreza e a desigualdade em Nova York, escrita em resposta à matéria Freedom’s Fearful Foe: Poverty, centrada na pobreza da favela da Catacumba no Rio de Janeiro, publicada na revista Life naquele mesmo ano. Depois de sair da Cruzeiro, trabalhou no jornal Última Hora por alguns anos. No início da década de 1970 se mudou com a família para Ilha Grande, no Rio de Janeiro, e retomou o hobby de pilotar aeronaves, ao adquirir um ultraleve. Após 19 anos na região, se mudou para Santa Catarina, onde faleceu.