Um Brasil para Carolina é uma programação de filmes apresentada em três ciclos de exibição online e sessões presenciais, entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022, que faz parte da programação paralela da exposição Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros, em cartaz no IMS Paulista. A mostra busca expandir e refletir, por meio do cinema e das imagens, alguns dos aspectos mais fundamentais do projeto estético, político, social e racial próprio da autora.
A seleção inclui títulos como Alma no olho (1973), de Zózimo Bulbul, Estamira (2004), de Marcos Prado, e Carolina, quarto de despejo, homenagem (2016), primeira animação dedicada à autora, feita pelos alunos da Emef Vila Atlântica.
Curadoria e textos de apresentação
Bruno Galindo
Divididos em três ciclos de exibição online e sessões presenciais, de dezembro a fevereiro, os filmes atravessam aspectos como a reflexão sobre o período pós-abolicionista e os processos urbanísticos predatórios na São Paulo dos anos 1930 aos 1960, a construção de imagens contra-hegemônicas sobre a favela e as contradições da disputa de classes. As implicações e os projetos de literatura, de cinema e país que pensam a centralização de suas narrativas em mulheres negras e a pluralidade das narrativas em primeira pessoa são chaves para a seleção dos filmes aqui dispostos.
Essas características fazem despontar o nome de Carolina como um dos maiores da literatura brasileira a partir dos anos 1960. Com essa perspectiva centralizada nas proposições estéticas de Carolina Maria de Jesus, a mostra de filmes aqui proposta busca manipular, com o cuidado e a responsabilidade de quem tateia uma antiga relíquia, as dimensões políticas, formais e raciais das obras da escritora, assim como suas contradições. E isso é feito de modo a partilhar um repertório visual acerca da bibliografia fundante da autora, principalmente a partir de três de suas principais obras – Quarto de despejo, Pedaços da fome e Diário de Bitita (Um Brasil para os brasileiros).
Antes de caminharmos para o ciclo de filmes propriamente dito, convém deixar reflexões que se referem à materialidade dos critérios de escolha e organização do projeto: a destruição de arquivos pela ditadura militar, as políticas públicas de preservação ineficientes, o racismo estrutural impregnado na hierarquia dos arquivos oficiais e, durante a realização desse trabalho, também a pandemia são fatores importantes de pontuar como camadas que desafiam o trabalho curatorial. Um trabalho que revela desejos e frustrações, que almeja equilibrar a obra de Carolina com a esfera pública do Brasil em 2021 e que olha para filmes que de alguma forma se fazem formas carolinianas de escrever... e de olhar.
Ciclo 1: Mundo de Bitita
6 de dezembro de 2021 a 6 de janeiro de 2022, Online
A partir da obra Diário de Bitita (Um Brasil para os brasileiros) abre-se um ciclo de filmes que reflete a dimensão narrativa central do livro em questão: as primeiras décadas do período pós-abolição e, sobretudo, a trajetória da protagonista, que nasceu em Sacramento (MG) em 1914 e radicou-se na cidade de São Paulo na década de 1930. As transições estruturais do campo para a cidade (ou da fazenda para a favela), os sentidos políticos e sociais das duas cidades, assim como a reflexão sobre os anseios da protagonista, são eixos dessa seleção de filmes.
Ciclo 2: Imagens de alvenaria
15 de dezembro de 2021 a 16 de janeiro de 2022, Online
A partir das obras Quarto de despejo e Casa de alvenaria abre-se o segundo ciclo de filmes, que pensa e reflete imagens, estereótipos e contraestereótipos acerca das imagens de favelas e de mulheres negras em diferentes tempos e lugares históricos, desde a urbanização e suas consequências sociais para as populações negras nas capitais de estados brasileiros, como São Paulo – para onde migra a autora, em 1937 –, até mulheres negras movimentando-se nas telas em 2020.
Ciclo 3: Pedaços de cinema
10 de janeiro a 10 de fevereiro* de 2022, Online
A partir das obras Pedaços da fome, Antologia pessoal e Provérbios abre-se um ciclo de filmes que pensa e reflete os processos de expansão do imaginário brasileiro sobre as favelas e seus respectivos estereótipos e contraestereótipos em diferentes períodos históricos, centrando-se também na perspectiva de diferentes mulheres, negras sobretudo, como protagonistas e agentes de suas narrativas.
* Com exceção de Estamira, disponível de 1 a 10/2
Desaparecidos + Um dia com Jerusa
10 e 12/2/2022, IMS Paulista
Os filmes Desaparecidos, de Danddara, e Um dia com Jerusa, de Viviane Ferreira, conversam com a temática da exposição Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros. As exibições serão antecedidas por uma apresentação em vídeo do curador Bruno Galindo.
Exibições de filmes online
Três ciclos, entre 6 de dezembro de 2021 e 10 de fevereiro de 2022.
As datas podem ser consultadas acima, na área Programação.
Os vídeos são disponibilizados nas páginas de cada ciclo às 10h da data de estreia.
Grátis, não é necessário se inscrever antecipadamente.
Sessões presenciais
Entrada gratuita, sujeita à lotação.
Mediante apresentação do certificado de vacinação e documento oficial com foto.
Distribuição de senhas 60 minutos antes do evento. Limite de 1 senha por pessoa.
Classificação indicativa: 12 anos
Desaparecidos + Um dia com Jerusa
10 e 12/2/2022, IMS Paulista
Vacine-se. Use máscara sempre, lave as mãos e use álcool em gel. Evite aglomerações.
Bruno Galindo tem 26 anos e atua como roteirista, assistente de roteiro e curador. No curso de Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos (SP), seguiu as ênfases em roteiro e hipermídia. Tem como suas maiores paixões as narrativas históricas e os gêneros ficção científica e fantasia, assim como os materiais de arquivo, desenvolvendo projetos que se utilizam de tais universos para a proposição de histórias e personagens centradas sobretudo na experiência negra e LGBTQIAP+ do Brasil.