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Do arquivo de um correspondente estrangeiro: fotografias de Luciano Carneiro

IMS Poços de Caldas

Rua Teresópolis, 90

Poços de Caldas/MG

CEP 37701-058

Visitação

Exposição encerrada.
De 6 de agosto de 2016 a 22 de janeiro de 2017.

Horário

De terça a domingo e feriados (exceto segunda), das 13h às 19h. 

Contato

Tel.: (35) 3722-2776

Apresentação

Curadoria

Sergio Burgi

Joanna Balabram

Na Internet

#LucianoCarneiro

Imprensa

(11) 3371-4455

[email protected]

Nascido em Fortaleza, em 1926, José Luciano Mota Carneiro foi um dos jornalistas mais atuantes de seu tempo. Trabalhou na revista O Cruzeiro entre 1948 e 1959, inicialmente como repórter e, em seguida, escrevendo e fotografando. Atuou como correspondente internacional, realizando reportagens sobre a Guerra da Coreia, a vida no Japão e na Rússia, a África de Albert Schweitzer, o Egito de Nasser, a Iugoslávia de Tito, a Revolução Cubana de Fidel, em 1959.

Durante a Guerra da Coreia, em 1951, Carneiro foi um dos únicos repórteres sul-americanos. Graças a seu treinamento como paraquedista, saltou, ao lado do exército americano, sobre as linhas norte-coreanas e chinesas além do paralelo 38, linha que até hoje divide as duas Coreias. Os registros da população civil e da destruição causada pela guerra revelam o engajamento de Luciano Carneiro com o drama humano que permeia cenários como este, em especial nos retratos de idosos, mulheres e crianças afetados e deslocados pelo conflito.

Além das coberturas internacionais, realizou matérias no Brasil sobre jangadeiros, posseiros, a seca no Nordeste, a herança do cangaço, as lutas estudantis, entre outras, e diversas matérias de caráter bastante autoral reunidas na seção “Do arquivo de um correspondente estrangeiro”, em que publicava matérias ilustradas com fotografias e textos de sua autoria, normalmente em duas páginas. Nessa seção, ficam claras suas influências e modelos associados à fotografia humanista do pós-guerra.

No final dos anos 1940 e início dos anos 1950, O Cruzeiro fez uma consistente inflexão em direção a um fotojornalismo mais humanista e engajado. Essa mudança foi concretizada por fotógrafos como José Medeiros, Flávio Damm, Luiz Carlos Barreto, Henri Ballot, Eugênio Silva e o próprio Carneiro, que passaram a integrar a equipe da revista, trazendo para as fotorreportagens maior ênfase na objetividade e no caráter documental e jornalístico.

Na mesma época, na Europa, fotógrafos como Henri Cartier-Bresson, Robert Capa e David Seymour formaram a agência Magnum. O objetivo era garantir maior autonomia e liberdade para seus trabalhos de documentação fotográfica. Outros fotógrafos, como Robert Doisneau e Willy Ronis, desenvolveram uma abordagem dos temas do cotidiano voltada para o registro do homem comum, trabalhando nas revistas ilustradas, que retomavam seu papel de grandes veículos de comunicação. Nos Estados Unidos, a revista Life abria espaço para ensaios fotográficos de caráter autoral, tais como as matérias “Nurse Midwife” e “Country Doctor”, do fotógrafo W. Eugene Smith. Foi sob essas influências que os fotógrafos da nova geração que passou a atuar na revista O Cruzeiro no período revolucionaram o fotojornalismo brasileiro.

Luciano Carneiro foi um dos principais expoentes dessa nova geração. Suas matérias contrastavam com as de David Nasser, outra estrela de O Cruzeiro, que também assinava uma seção de duas páginas na revista. Nasser era o expoente maior de uma escola de jornalismo com viés claramente sensacionalista, à qual Luciano Carneiro se opunha frontalmente, em especial na escolha dos temas e na maneira direta e objetiva de abordá-los com imagens e textos de sua autoria.

Este embate colocava, de um lado, aqueles que buscavam uma visão mais interpretativa dos fatos e, portanto, mais passível de alinhamento com os interesses ideológicos do veículo de informação e de seus dirigentes. Do outro lado, ficavam os comprometidos com uma postura mais idealista, que acreditavam que mostrar e documentar o fato de forma direta e objetiva poderia influenciar a opinião pública e até mesmo as políticas públicas, buscando dessa maneira colocar o veículo de informação a serviço dessa visão de mundo.

A trajetória de Luciano Carneiro foi interrompida abruptamente em dezembro de 1959. Morreu em um acidente de avião quando retornava de um trabalho singelo em Brasília: fotografar o primeiro baile de debutantes da nova capital, às vésperas da inauguração. Piloto, repórter, fotógrafo, correspondente de guerra, Luciano Carneiro sempre pareceu orientar sua fotografia pela máxima de Robert Capa: “Se suas imagens não ficaram boas, é porque você não se aproximou o suficiente de seu assunto”.

Apesar de sua evidente relevância, a produção fotográfica de Luciano Carneiro não foi ainda devidamente referenciada e pesquisada. Esta exposição é o primeiro passo mais abrangente nesta direção, com o objetivo de resgatar este importante legado, situando devidamente e definitivamente a obra de Luciano Carneiro no âmbito da fotografia e das artes visuais no Brasil.

O conjunto de imagens que integra esta exposição é formado pela coleção de originais cedida ao IMS pela família do fotógrafo, em que se destacam as reportagens que realizou no exterior como correspondente da revista. O Instituto agradece à família de Luciano Carneiro por todo apoio na produção desta mostra.

Civis sul-coreanos retornam à cidade devastada, 1951. Seul, Coreia do Sul. Luciano Carneiro / Acervo IMS

Sobre o fotógrafo

José Luciano Mota Carneiro (Fortaleza, 1926-Rio de Janeiro, 1959), filho de Antônio Magalhães Carneiro e Maria Carmélia Mota Carneiro, nasceu no dia 9 de outubro. Iniciou sua carreira como jornalista nos jornais Correio do Ceará e O Unitário, periódicos que integravam os Diários Associados. Começou a fotografar nesse mesmo período e, em 1948, passou a integrar a equipe da revista O Cruzeiro, no Rio de Janeiro, como repórter. Suas fotos passariam a ilustrar as reportagens um ano depois. 

Foi correspondente internacional da revista, cobrindo a Guerra da Coreia entre 1951 e 1952, e realizou diversas reportagens internacionais até 1955. Em 1956, de volta ao Brasil, em sua seção na revista intitulada “Do arquivo de um correspondente estrangeiro”, desenvolve matérias ilustradas com fotografias e textos de sua autoria, normalmente em duas páginas, que funcionavam como páginas de opinião.

Luciano Carneiro morreu tragicamente, no dia 22 de dezembro de 1959, em um acidente de avião próximo à cidade do Rio de Janeiro, quando retornava de um trabalho em Brasília. Dos destroços do avião, foram resgatadas suas máquinas fotográficas e os filmes com as fotos.

Foi homenageado em O Cruzeiro com a publicação do que seria sua última matéria, no dia 16 de janeiro de 1960, sem título nem textos, apenas imagens – em uma delas, aparece o próprio fotógrafo refletido em um espelho. Antes, na edição de 9 de janeiro, que anunciava o falecimento, foram publicadas duas páginas escritas por David Nasser lamentando a perda do colega. No texto, Nasser ressalta as diferenças entre o jornalismo praticado por ambos e, ao mesmo tempo, reconhece e enaltece sua objetividade e seu humanismo. Na edição de 16 de janeiro, foi Rachel de Queiroz quem publicou sua homenagem.


Exposição Fotográfica

Texto do fotógrafo José Medeiros sobre a exposição póstuma em homenagem a Luciano Carneiro, escrito para a revista O Cruzeiro em fevereiro de 1960.

Esta não é uma exposição comum. É a mostra de um grande, de um estupendo profissional do moderno jornalismo brasileiro, que usava e sabia usar a câmera fotográfica miniatura, com a mesma paixão, com o mesmo amor que tinha pela própria vida.

Desapareceu tragicamente num desastre de aviação, aos 33 anos de idade. Luciano Carneiro deixou um trabalho tão grande e um nome que não pode ser esquecido quando se escrever a história do moderno jornalismo brasileiro.

Chegando do Ceará quase adolescente, há 11 anos, trazia a flama do grande jornalista que seria. Pouco ficou no Rio, fazendo um período de aprendizagem. Já havia aprendido na província os conhecimentos básicos, aliados ao seu amor pela verdade do fato, pela pesquisa da história a contar e pela lisura do tratamento.

Depois de um ano e pouco no Rio, embarcou para o Japão. Ao estourar a guerra na Coreia, soube que Luciano se juntara as tropas da ONU. Durante sua estada no Rio, havia feito um curso de paraquedismo para civis. E aproveitou seus conhecimentos para atirar-se com as tropas em campo inimigo. Os soldados com suas armas: metralhadoras, granadas, fuzis. Luciano também com sua arma: a máquina fotográfica. E documentou com ela as mais comoventes cenas de libertação. As misérias da fome, a vida nas trincheiras, a morte sempre presente eram os assuntos do dia a dia.

Luciano conheceu praticamente o mundo inteiro. Viajou exageradamente. Foi várias vezes aos Estados Unidos, à Europa. Entrevistou personalidades mundiais. Tirou o máximo de sua curta existência, viveu intensamente como que antevendo secretamente o prematuro desaparecimento. Somente uma única vez falamos em coisa de morte. Disse-me que não passaria dos 40 anos. Acharia tedioso ficar velho. Falou brincando... (...)


Vídeos

Um retrato de Luciano Carneiro (versão completa)
Entenda um pouco do espírito aventureiro, visionário, competitivo, inovador e sagaz de Luciano Carneiro revelado em depoimentos de parentes e ex-companheiros de O Cruzeiro no vídeo produzido para a exposição do fotógrafo.

 

Um retrato de Luciano Carneiro (versão resumida)
Luciano Carneiro filho, o fotógrafo Flávio Damm e o cartunista Ziraldo falam sobre o trabalho de Luciano Carneiro, que atuou na revista O Cruzeiro do final dos anos 1940 até a década seguinte.

Todos os vídeos têm câmera e edição de Laura Liuzzi.

Exposição encerrada.

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