Uma das facetas de Luciano Carneiro é a de fotógrafo de guerra, representada por seu trabalho no conflito da Coreia e apresentada neste texto de Sergio Burgi e Samuel Titan Jr, retirado de um dos livros da caixa A hora e o lugar.
Nascido em Fortaleza, em 1926, Luciano Carneiro viveu em ritmo acelerado. Abandonou a universidade antes mesmo de concluir o curso de direito; aos meros 22 anos, foi contratado por O Cruzeiro, onde logo passou a cobrir temas brasileiros e internacionais, viajando do Japão à União Soviética, do Egito de Nasser à Iugoslávia de Tito; como correspondente de guerra, cobriu o conflito na Coreia e a revolução em Cuba; e morreu em 1959, aos 33 anos, num acidente aéreo perto do Rio de Janeiro, quando voltava de Brasília, aonde fora enviado para fotografar um baile de debutantes…
Em seus breves anos de vida, Carneiro entregou-se ao ofício de fotógrafo com paixão e inteligência. Ao lado de José Medeiros, Flávio Damm e Luiz Carlos Barreto, esforçou-se para renovar o foto jornalismo de O Cruzeiro num sentido humanista e engajado, na contramão do sensacionalismo imperante. Na seção “Do diário de um correspondente”, narrava os episódios que tinha testemunhado e comentava com argúcia a fotografia de nomes como Henri Cartier-Bresson, W. Eugene Smith e Robert Capa.
Em 1951, sempre a serviço de O Cruzeiro, foi ao Japão e conseguiu obter credenciais junto ao exército norte-americano para cobrir a guerra na Coreia. Os primeiros meses do conflito, que começara em junho de 1950, tinham sido repletos de reviravoltas: o ataque surpresa do exército norte-coreano, a reação capitaneada pelos Estados Unidos, a entrada em cena das forças chinesas — em menos de um ano, Seul mudou de mãos nada menos que quatro vezes…
Contudo, na altura de março de 1951, quando Carneiro chegou ao terreno, os ventos começavam a soprar com mais firmeza a favor da aliança sul-coreana e norte-americana, que aos poucos empurrava as forças chinesas e norte-coreanas para a fronteira traçada ao longo do paralelo 38. Logo mais, em julho de 1951, tiveram início os primeiros encontros em vista de um armistício, na localidade de Kaesong; as negociações se estenderiam durante dois longos anos, dando ensejo a uma sangrenta guerra de atrito.
Em 23 de março de 1951, Carneiro tomou parte na operação Tomahawk, quando mais de três mil paraquedistas do 187 o regimento de infantaria norte-americano lançaram-se sobre Munsan-ni, 30 quilômetros atrás da linha do fronte, a fim de cortar a rota de retirada das tropas inimigas. Carneiro saltou junto aos soldados e registrou alguns dos momentos para O Cruzeiro. As fotos foram publicadas no número de 28 de abril de 1951, com texto do próprio Carneiro e sob o título de “Operação Tomahawk”.
Ao longo desse mesmo ano, Carneiro publicou um total de 11 matérias sobre a Coreia, ora com imagens de sua autoria, ora usando imagens de agências internacionais. Fotografou Seul destruída, entrevistou o novo comandante aliado, Matthew Ridgway, acompanhou tropas turcas e colombianas, registrou o começo das negociações em Kaesong, retratou militares feridos, prisioneiros de guerra e civis em fuga, sempre buscando — muito no espírito de Robert Capa — chegar o mais perto possível dos acontecimentos.
Este livro foi concebido a partir das 147 ampliações de época cedidas em 2012 pela família do fotógrafo ao Instituto Moreira Salles. Essas fotografias, por vezes muito danificadas, constituem um dos poucos conjuntos significativos da obra de Luciano Carneiro que sobreviveram ao tempo. Na ausência de anotações do próprio punho do fotógrafo, as informações que constam nas legendas derivam da comparação com o material publicado nas páginas de O Cruzeiro.
SERGIO BURGI E SAMUEL TITAN JR.
As fotografias