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Coutinho 90

IMS Paulista, 2023 - 2024

Em 1984, Eduardo Coutinho marcou a história do cinema de não ficção com o lançamento de Cabra marcado para morrer. Por onde passou, tensionou os limites da representação e do assim chamado “documentário”: dirigindo episódios históricos do Globo Repórter, na produção em vídeo junto ao Cecip e na formulação de um “cinema do encontro” bastante único a partir de Santo forte. Em 11 de maio de 2023, Coutinho completaria 90 anos. Como homenagem, o Cinema do IMS exibirá uma seleção de obras do cineasta ao longo de 2023 e 2024.

Coutinho no CECIP - Por Claudius Ceccon ►
Eduardo Coutinho aos 90 anos: seus próximos filmes - Por João Moreira Salles ►
As canções de Coutinho - por GG Alburquerque ►
De volta ao Cabra - por Fábio Andrade ►
Eduardo Coutinho: crítico e espectador - por Thiago Gallego e Eduardo Coutinho ►
A palavra e a fala - por Laura Liuzzi ►

Eduardo Coutinho. Foto de Carol Boclin

Filmes de abril

Em 1984, Eduardo Coutinho marcou a história do cinema de não ficção com o lançamento de Cabra marcado para morrer. Por onde passou, tensionou os limites da representação e do assim chamado “documentário”: dirigindo episódios históricos do Globo Repórter, na produção em vídeo junto ao CECIP e na formulação de um “cinema do encontro” bastante único a partir de Santo forte. Em 11 de maio de 2023, Coutinho completaria 90 anos. Como homenagem, o Cinema do IMS exibiu uma seleção de obras do cineasta ao longo do ano.

Passamos por projetos em que trabalhou como roteirista, pelos primeiros filmes de ficção, o breve período como crítico de cinema no JB, os documentários para o Globo Repórter e CECIP, pelo Cabra e pela sua produção mais recente junto à VideoFilmes. Neste último mês, três obras em que Coutinho é personagem. O que está em jogo aqui é o modo como os filmes são feitos, o que pensa a respeito deles e sobre cinema de um modo geral e a repercussão ou contaminação de suas imagens em outras obras.

Um ano está longe de ser suficiente para dar conta da magnitude do cinema de Coutinho. Não só pelas obras que não chegamos a exibir ou aquelas que ainda carecem de devida pesquisa e difusão, como pelas inúmeras oportunidades que cada filme mostrado abre para o espectador. A retrospectiva se encerra, mas o convite continua.


Eduardo Coutinho, 7 de outubro

Carlos Nader | Brasil | 2013, 73’, Arquivo digital (Sesc-SP) | Classificação indicativa: Livre

No dia 7 de outubro de 2013, Eduardo Coutinho chega para uma conversa marcada com seu colega, Carlos Nader. O célebre documentarista será filmado por sua própria equipe, conduzida por outro diretor. Diante da câmera, Coutinho revela-se como um ser humanista, irônico, pessimista e profundamente impregnado pelo interesse nos seres humanos que entrevistava em seus filmes – cada um deles único, no seu entender.

“Coutinho criou a partir de 1997 um cinema em que a única imagem é a de uma pessoa sentada à frente da câmera, falando”, comenta Nader em depoimento veiculado no material de imprensa do filme. “Esse movimento radical, de um essencialismo que a história possivelmente lembrará como similar ao suprematismo de Kazimir Malevich ou à Bossa Nova de João Gilberto, é o tema central do documentário.”

 

Programação

IMS Paulista
6/4, sábado, 18h15
16/4, terça, 20h


Coutinho.Doc - Apartamento 608 + Eu fui assistente do Eduardo Coutinho

Classificação indicativa da sessão: Livre

 

Coutinho.Doc – Apartamento 608
Beth Formaggini | Brasil | 2009, 51’, Arquivo digital (Acervo da artista) | Classificação indicativa: Livre

O processo de criação do cineasta Eduardo Coutinho e sua equipe desde a fase da pesquisa até o fim das filmagens de Edifício Master (2002). Durante uma semana, Eduardo Coutinho e sua equipe conversaram com 27 moradores de um grande edifício em Copacabana.

Beth Formaggini, diretora de produção do Master, que também trabalhou em outros filmes do diretor (Babilônia 2000, Peões), apresenta os bastidores dessa produção. Desanimado com os personagens e com receio de que não teria histórias fortes e interessantes o suficiente para um filme, Eduardo Coutinho chegou a cogitar não rodar o título ao receber os primeiros resultados da observação. Convencido pela equipe, ele decidiu levar o projeto adiante.

O filme de Beth Formaggini será exibido junto ao curta-metragem Eu fui assistente do Eduardo Coutinho, de Allan Ribeiro.

 

Eu fui assistente do Eduardo Coutinho
Allan Ribeiro | Brasil | 2023, 17’, DCP (Acervo do artista) | Classificação indicativa: Livre

No dia 28 de janeiro de 2008, uma equipe de filmagem entrava em um prédio para rodar um documentário. Neste dia, eu fui assistente do Eduardo Coutinho.

O curta de Allan Ribeiro será exibido junto a Coutinho.Doc - Apartamento 608, de Beth Formaggini.

 

Programação

IMS Paulista
20/4, sábado, 18h30
30/4, terça, 20h

IMS Poços
21/4, domingo, 16h


Edifício Master

Eduardo Coutinho | Brasil | 2002, 110’, Arquivo digital (VideoFilmes) | Classificação indicativa: 12 anos

Durante uma semana, Eduardo Coutinho e sua equipe conversaram com 27 moradores de um enorme edifício de apartamentos em Copacabana. Entre eles um casal de meia-idade que se conheceu pelos classificados de um jornal, uma garota de programa que sustenta a filha e a irmã, um ator aposentado, um ex-jogador de futebol e um porteiro desconfiado de que o pai adotivo, com quem sonha toda noite, é seu pai verdadeiro.

Uma oportunidade de assistir a um dos grandes documentários da carreira de Eduardo Coutinho. Em 2002, o filme recebeu o Kikito de Ouro de Melhor Documentário no Festival de Gramado e o Prêmio de Melhor Documentário pela crítica da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Em entrevista a Ruy Gardnier, Eduardo Valente e Cleber Eduardo para a revista Contracampo, Coutinho relata:

“O filme nasceu da ideia da Consuelo Lins, que trabalha comigo, de fazer um filme sobre um prédio em Copacabana. Eu então roubei a ideia, com o consentimento dela, porque me interessava filmar em um universo com limites claros. Não queria fazer filme sobre a classe média, mas sobre um universo que não se conhece. Tinha de ser em prédio grande, de apartamentos conjugados e com perfil familiar, caso contrário inviabilizaria a filmagem. O desafio seria extrair um material interessante de pessoas normais. É muito mais fácil fazer um filme sobre marginais que sobre pessoas de classe média.”

“No caso do Master, achei que ia me lascar. As experiências de vida eram menos fortes, as pessoas eram mais fechadas, a narrativa das experiências era menos rica. Eu precisaria de muitos personagens para dar um filme. Não haveria relatos extraordinários. A diversidade de experiências é que seria essencial naquele universo. Tinha de ser um filme longo, de quase duas horas, com 27 apartamentos. Cortamos 10. Também não podia ter eixo temático, ao contrário de Santo forte e Babilônia 2000. O prédio é apenas uma pista falsa. Isso era um complicador dramatúrgico. Como eu ordenaria esse material se havia todos os temas possíveis? Decidi pela montagem caótica. Procurei conservar a ordem da filmagem, que não tinha um padrão. Isso não leva ninguém a ter certeza do que virá depois de cada personagem. Não há uma regra.”

“Talvez pelas histórias de vida do Edifício Master serem menos extraordinárias que as de Santo forte e Babilônia 2000 fica mais evidente que o importante é como os personagens falam de si e não o que eles estão falando. A garota de programa sintetiza essa ideia ao dizer que precisa acreditar em suas mentiras para contá-las. Não interessa, então, nem se o relato é verdadeiro. Interessa a narrativa em si.”

Entrevista de Eduardo Coutinho ao Contracampo (na íntegra)►

 

Programação

IMS Poços
14/4, domingo, 16h


Programação de abril

De 6 a 30 de abril de 2024

IMS PAULISTA

6/4/2024, sábado
18h15 - Eduardo Coutinho, 7 de outubro

16/4/2024, terça
20h - Eduardo Coutinho, 7 de outubro

20/4/2024, sábado
18h30 - Coutinho.Doc - Apartamento 608 + Eu fui assistente do Eduardo Coutinho

30/4/2024, terça
20h - Coutinho.Doc - Apartamento 608 + Eu fui assistente do Eduardo Coutinho

 

IMS POÇOS

14/4/2024, domingo
16h - Edifício Master

21/4/2024, domingo
16h - Coutinho.Doc - Apartamento 608 + Eu fui assistente do Eduardo Coutinho


Programação de março

De 6 a 23 de março de 2024

IMS PAULISTA

6/3/2024, quarta
20h - Últimas conversas + Le Télephone

23/3/2024, sábado
17h30 - Últimas conversas + Le Télephone

 

IMS POÇOS

16/3/2024, sábado
16h - Últimas conversas + Le Télephone


Programação de fevereiro

De 3 a 29 de fevereiro de 2024

IMS PAULISTA

3/2/2024, sábado
17h - Ao caminhar entrevi lampejos de beleza

29/2/2024, quinta
17h - Ao caminhar entrevi lampejos de beleza

 

IMS POÇOS

4/2/2024, domingo
19h - A família de Elizabeth Teixeira + Sobreviventes da Galileia

18/2/2024, domingo
16h - Ao caminhar entrevi lampejos de beleza


Programação de janeiro

De 16 a 28 de janeiro de 2024

IMS PAULISTA

16/1/2024, terça
20h - Cabra marcado para morrer

25/1/2024, quinta
15h30 - Cabra marcado para morrer
18h - A família de Elizabeth Teixeira + Sobreviventes da Galileia
20h - Faixa comentada: Cabra marcado para morrer

26/1/2024, sexta
19h30 - Faixa comentada: Cabra marcado para morrer

27/1/2024, sábado
17h30 - Cabra marcado para morrer

28/1/2024, domingo
18h - A família de Elizabeth Teixeira + Sobreviventes da Galileia


Programação de 2023

DEZEMBRO

De 9 a 27 de dezembro de 2023

 

IMS PAULISTA

9/12/2023, sábado
20h - O homem que comprou o mundo

16/12/2023, sábado
20h - Faustão

27/12/2023, quarta
18h - O homem que comprou o mundo
20h - Faustão


NOVEMBRO

De 5 a 28 de novembro de 2023

 

IMS PAULISTA

5/11/2023, domingo
17h - Moscou

28/11/2023, terça
20h - Moscou


OUTUBRO

De 14 a 18 de outubro de 2023

IMS PAULISTA

14/10/2023, sábado
16h30 - As canções

18/10/2023, quarta
20h - As canções


SETEMBRO

De 9 a 19 de setembro de 2023

IMS PAULISTA

9/9/2023, sábado
18h - Santa Marta - Duas semanas no morro + Volta Redonda - Memorial da greve

12/9/2023, terça
20h - Boca de lixo + Mulheres no front

16/9/2023, sábado
18h - Boca de lixo + Mulheres no front

19/9/2023, terça
20h - Santa Marta - Duas semanas no morro + Volta Redonda - Memorial da greve


AGOSTO

De 15 a 29 de agosto de 2023

IMS PAULISTA

15/8/2023, terça
20h - Seis dias de Ouricuri + O pistoleiro de Serra Talhada

19/8/2023, sábado
16h - Theodorico, o imperador do sertão + Exu, uma tragédia sertaneja

27/8/2023, domingo
19h - Seis dias de Ouricuri + O pistoleiro de Serra Talhada

29/8/2023, terça
20h - Theodorico, o imperador do sertão + Exu, uma tragédia sertaneja


JULHO

De 13 a 22 de julho de 2023

IMS PAULISTA

13/7/2023, quinta
20h - Santo forte

15/7/2023, sábado
18h - Superstição + Os romeiros do padre Cícero

18/7/2023, terça
20h - Superstição + Os romeiros do padre Cícero

22/7/2023, sábado
17h - Santo forte


JUNHO

De 17 a 30 de junho de 2023

IMS PAULISTA

17/6/2023, sábado
19h45 - Dona Flor e seus dois maridos

20/6/2023, terça
20h - Dona Flor e seus dois maridos

24/6/2023, sábado
17h - Babilônia 2000

30/6/2023, sexta
19h - Babilônia 2000


MAIO

De 9 a 30 de maio de 2023

 

IMS PAULISTA

9/5/2023, terça
20h - Edifício Master

13/5/2023, sábado
16h - Edifício Master
18h15 - Peões

16/5/2023, terça
20h - Peões

20/5/2023, sábado
18h - O fim e o princípio

25/5/2023, quinta
20h - O fim e o princípio

27/5/2023, sábado
18h - Jogo de cena

30/5/2023, terça
20h - Jogo de cena


Filmes anteriores

2024


Filmes de março

No penúltimo mês de mostra, apresentamos lado a lado o primeiro filme de ficção e o último documentário do diretor, dois filmes sobre conversas que, de algum modo, não chegam à conclusão esperada. Le Téléphone, realizado enquanto estudante de cinema na França, e Últimas conversas, um filme póstumo montado e terminado por parceiros de longa data do cineasta.

Últimas conversas + Le Télephone
Classificação indicativa da sessão: 14 anos

 

Últimas conversas
Dirigido por Eduardo Coutinho, montado por Jordana Berg e terminado por João Moreira Salles | Brasil | 2015, 85’, DCP (VideoFilmes) | Classificação indicativa: 12 anos

Realizado a partir de entrevistas feitas por Eduardo Coutinho com jovens cursando o terceiro ano do ensino médio em escolas públicas, Últimas conversas busca entender como pensam, sonham e vivem os adolescentes. Os pesquisadores Laura Liuzzi e Geraldo Pereira visitaram 12 escolas e realizaram pré-entrevistas com 97 adolescentes. Desses, 28 foram filmados por Coutinho em novembro de 2013, dos quais nove entraram no corte final. O diretor (morto em fevereiro de 2014, antes do início da montagem) chegou a ver todo o material filmado e deixou um caderno com anotações feitas a partir das transcrições das entrevistas. Últimas conversas foi editado por Jordana Berg, parceira de Coutinho desde o período de CECIP, e a versão final é de João Moreira Salles, produtor deste e dos nove filmes anteriores de Coutinho.

“Um aspecto importante é a questão da autoria”, lembra Jordana. “Estávamos na frente de um material que havia sido dirigido, gestado, criado, idealizado pelo Coutinho, e agora éramos responsáveis por esse material. O quanto que a gente ia se apropriar desse lugar?”

“O que reparei, no material bruto, foi a extraordinária alegria dele em estar ali, cercado das pessoas com quem trabalhava, sempre o mesmo grupo, entrando em contato com pessoas que ele não conhecia” – acrescenta João. “E, no fim, quando o personagem saía, já era ele inteiramente investido de paixão, de desejo, de conexão. Acho que ele mesmo não tinha consciência de como, mesmo num filme muito difícil, o fato de estar ali filmando era a conexão com a vida.”

 

Le Téléphone
Eduardo Coutinho | França | 1959, 5', arquivo digital | Classificação indicativa: 14 anos

Alfred visita Elise em seu apartamento. Ele traz flores e tem um importante pedido para fazer. Ela, porém, não larga o telefone.

Eduardo Coutinho começou a fazer cinema a partir de um encontro com Chaplin e com a televisão em 1957. Tinha 24 anos quando recebeu um prêmio de 2 mil dólares no programa de televisão O dobro ou nada, da TV Record, respondendo a perguntas sobre Charles Chaplin. Com o prêmio, viajou para o 6º Festival Mundial da Juventude em Moscou e, em seguida, para Paris, onde conseguiu uma bolsa noInstitute des Hautes Études Cinématographiques (IDHEC). Foi no contexto do IDHEC que o diretor fez Le Teléphone.

Coutinho havia dirigido um curta documental sobre a Maison du Brésil, residência dos estudantes brasileiros na cidade universitária. Há uma cópia desse filme, em preto e branco e sem som, disponível na Cinemateca Brasileira. Sobre Le Télephone, comenta Carlos Alberto Mattos na biografia do cineasta: “Com cinco minutos de duração, o curta Le Téléphone é uma adaptação ultrassintética da ópera cômica The Telephone ou L’Amour à trois, do ítalo-americano Gian Carlo Menotti. Os ares da Nouvelle Vague já refrescavam Paris, mas a regra escolar ditava que o filme tinha que ser rodado inteiramente em estúdio.”

“A decupagem de Le Téléphone busca tirar humor do gestual dos personagens, com destaque para os pés e, principalmente, do caráter absurdo das falas, escritas por Coutinho a partir de frases de um livro de gramática, ditas com dramaticidade.”

[Citações extraídas do livro Sete faces de Eduardo Coutinho, de Carlos Alberto Mattos]

 

 

Programação

IMS Paulista
6/3, quarta, 20h
23/3, sábado, 17h30

IMS Poços
16/3, sábado, 16h


Filmes de fevereiro

Em homenagem aos 40 anos do lançamento do Cabra marcado para morrer, o IMS Poços exibe as duas sequências realizadas pelo diretor em 2013: Sobreviventes da Galileia e A família de Elizabeth Teixeira. Nesses dois filmes comissionados pelo IMS, os últimos finalizados em vida pelo cineasta, Coutinho retorna aos personagens do Cabra.

Apontamos também para Coutinho enquanto crítico e espectador de cinema. Além de republicar um dos textos escritos pelo cineasta para o Jornal do Brasil, o Cinema do IMS exibe Ao caminhar entrevi lampejos de beleza, uma das obras apontadas pelo diretor como um filme-farol.

Ao caminhar entrevi lampejos de beleza
As I Was Moving Ahead Occasionally I Saw Brief Glimpses of Beauty
Jonas Mekas | EUA | 2000, 288', DCP (Jonas Mekas Films) | Classificação indicativa: 14 anos

"Meus diários de filmagem de 1970 a 1999. Abrangem meu casamento, os filhos nascem e você os vê crescendo. Imagens da vida cotidiana, fragmentos de felicidade e beleza, viagens à França, Itália, Espanha, Áustria. As estações do ano que passam por Nova York. Amigos, vida doméstica, natureza. Nada de extraordinário, nada de especial, coisas que todos nós experimentamos ao longo de nossas vidas. Há muitos intertítulos que refletem meus pensamentos sobre o período. A trilha sonora consiste em músicas e sons gravados principalmente durante o mesmo período em que as imagens foram feitas. As improvisações de piano são de Auguste Varkalis. Às vezes, falo em meu gravador enquanto edito essas imagens, agora à distância do tempo. O filme também é meu poema de amor por Nova York, seus verões, seus invernos, suas ruas, seus parques. É o filme definitivo do Dogma '95, antes do nascimento do Dogma." - Jonas Mekas

 

Programação

IMS Paulista
3/2, sábado, 17h
29/2, quinta, 17h

IMS Poços
4/2, domingo, 19h
18/2, domingo, 16h


A família de Elizabeth Teixeira + Sobreviventes da Galileia
Classificação indicativa da sessão: 12 anos

 

A família de Elizabeth Teixeira
Eduardo Coutinho | Brasil | 2014, 65', arquivo digital (Acervo IMS) | Classificação indicativa: 12 anos

Cinquenta anos depois da ficção interrompida pelo golpe militar, em março de 1964, um reencontro com Elizabeth Teixeira e seus filhos.

Filme produzido especialmente como complemento da edição de Cabra marcado para morrer da coleção DVD | IMS. Na ocasião do lançamento do DVD, José Carlos Avellar escreveu para o Blog do IMS: “‘Eu sou morta desde a idade de oito anos’.

Cortada da imagem em que existe, a frase não transmite seu real sentido. Dor extrema. Na essência mesmo da pessoa. Modo de ser. Viver morta desde os oito anos. No filme, a fala transmite uma dor diferente, não menos intensa talvez, mas de outra natureza. Depois do filme, a radicalidade da afirmação retorna, independente, como condição trágica. Nada define melhor A família de Elizabeth Teixeira: uma das personagens que nos conta a história está morta desde a idade de oito anos.

De um certo modo o filme se serve de um mecanismo semelhante ao usado na formulação dessa frase. Avança noutra direção, no contracampo do comentário de Marta, mas guiado por uma semelhante máquina de viajar no tempo, de existir no presente sem sair do passado: como a personagem, cuja vida está marcada pelo fato de ter morrido aos oito anos, o filme está marcado pelo fato de Cabra marcado para morrer ter voltado à vida há 30 anos, depois de um perverso estado de coma induzido pelo regime militar entre 1964 e 1984.”

A família de Elizabeth Teixeira será exibido junto ao filme Sobreviventes da Galileia, de Eduardo Coutinho.

Algo extraordinário - texto de José Carlos Avellar no Blog do IMS (na íntegra).

 

Sobreviventes da Galileia
Eduardo Coutinho | Brasil | 2014, 27', arquivo digital (Acervo IMS) | Classificação indicativa: 12 anos

Em janeiro de 2013, Eduardo Coutinho vai a Pernambuco para reencontrar dois dos personagens de Cabra marcado para morrer (1964-1984): Cícero e João José (o Dão da Galileia).

Na ocasião da morte do diretor, o crítico José Carlos Avellar escreveu para o Blog do IMS: “Terminada a conversa, os amigos se despedem com um abraço. A amizade nasceu do cinema. João José, em 1964, então um menino, guardou o livro esquecido quando o Exército invadiu a Galileia e interrompeu as filmagens de Cabra marcado para morrer. Guardou porque a história do livro era como a da gente do filme. O abraço do filme é como o de todos nós.

Coutinho filmou João José em janeiro de 1981 e voltou a visitá-lo, em janeiro de 2013, para um novo filme, Sobreviventes da Galileia. O abraço apertado e silencioso na despedida resume o sentimento comum a todos os que participaram de seus filmes como personagens ou como espectadores diante das lições de vida reveladas pelo seu cinema. É a última cena do último filme de Eduardo Coutinho.”

Sobreviventes da Galileia será exibido junto ao filme A família de Elizabeth Teixeira, de Eduardo Coutinho.

Despedida - texto de José Carlos Avellar no Blog do IMS (na íntegra).

 

Programação

IMS Paulista
25/1, quinta, 18h
28/1, domingo, 18h

IMS Poços
4/2, domingo, 19h


Filmes de janeiro

Passados 40 anos do lançamento do Cabra, o filme de Coutinho poderá ser revisto no cinema do IMS em cópia 35 mm, junto às duas sequências realizadas pelo diretor em 2013 e a exibição, pela primeira vez no cinema, da versão do filme comentada por Eduardo Coutinho, Carlos Alberto Mattos e Eduardo Escorel.

Em 2022, o Instituto Moreira Salles lançou um ebook de acesso gratuito com o roteiro original de Cabra marcado para morrer, digitalizado a partir de uma fotocópia do datiloscrito de 1964, com anotações do cineasta. A obra foi organizada por Carlos Alberto Mattos, também autor de um ensaio crítico que acompanha a publicação.

Cabra marcado para morrer
Eduardo Coutinho | Brasil | 1962-1984, 119', 35 mm (Cinemateca Brasileira) | Classificação indicativa: 12 anos

“As filmagens começaram em fevereiro de 1964. Coutinho pretendia contar a história de João Pedro Teixeira, líder da liga camponesa de Sapé, na Paraíba, assassinado em 1962. Não queria atores profissionais: que os personagens fossem interpretados pelos próprios camponeses. Dezessete anos depois, Coutinho volta à região, consegue encontrar Elizabeth e, através do filho mais velho, Abraão, investiga o destino dos outros dez filhos e de todos os envolvidos no projeto. Ele exibe os originais filmados há tanto tempo, os camponeses se alegram com seus rostos, mais jovens, vivem a emoção do reconhecimento e o jogo de identificações. Vinte anos depois, Coutinho conclui seu filme, um épico contado com clareza, paciência e perseverança, por alguém que confia no trabalho e nos dias. Uma experiência original na cinematografia brasileira.”

 

Programação

IMS Paulista
16/1, terça, 20h
25/1, quinta, 15h30
27/1, sábado, 17h30


Faixa comentada: Cabra marcado para morrer
Brasil | 2014, 119', DCP (Acervo IMS)  | Classificação indicativa: 12 anos

Por ocasião do lançamento da versão restaurada de Cabra marcado para morrer como parte da coleção DVD | IMS, foi produzida uma versão do filme comentada por Eduardo Coutinho, Eduardo Escorel, montador do filme, e Carlos Alberto Mattos, biógrafo e pesquisador da obra de Coutinho.

Esta versão é recomendada para quem já assistiu ao filme.

 

Programação

IMS Paulista
25/1, quinta, 20h
26/1, sexta, 19h30


A família de Elizabeth Teixeira + Sobreviventes da Galileia

Classificação indicativa da sessão: 12 anos

 

A família de Elizabeth Teixeira
Eduardo Coutinho | Brasil | 2014, 65', arquivo digital (Acervo IMS) | Classificação indicativa: 12 anos

Cinquenta anos depois da ficção interrompida pelo golpe militar, em março de 1964, um reencontro com Elizabeth Teixeira e seus filhos.

Filme produzido especialmente como complemento da edição de Cabra marcado para morrer da coleção DVD | IMS. Na ocasião do lançamento do DVD, José Carlos Avellar escreveu para o Blog do IMS: “‘Eu sou morta desde a idade de oito anos’.

Cortada da imagem em que existe, a frase não transmite seu real sentido. Dor extrema. Na essência mesmo da pessoa. Modo de ser. Viver morta desde os oito anos. No filme, a fala transmite uma dor diferente, não menos intensa talvez, mas de outra natureza. Depois do filme, a radicalidade da afirmação retorna, independente, como condição trágica. Nada define melhor A família de Elizabeth Teixeira: uma das personagens que nos conta a história está morta desde a idade de oito anos.

De um certo modo o filme se serve de um mecanismo semelhante ao usado na formulação dessa frase. Avança noutra direção, no contracampo do comentário de Marta, mas guiado por uma semelhante máquina de viajar no tempo, de existir no presente sem sair do passado: como a personagem, cuja vida está marcada pelo fato de ter morrido aos oito anos, o filme está marcado pelo fato de Cabra marcado para morrer ter voltado à vida há 30 anos, depois de um perverso estado de coma induzido pelo regime militar entre 1964 e 1984.”

A família de Elizabeth Teixeira será exibido junto ao filme Sobreviventes da Galileia, de Eduardo Coutinho.

Algo extraordinário - texto de José Carlos Avellar no Blog do IMS (na íntegra).

 

Sobreviventes da Galileia
Eduardo Coutinho | Brasil | 2014, 27', arquivo digital (Acervo IMS) | Classificação indicativa: 12 anos

Em janeiro de 2013, Eduardo Coutinho vai a Pernambuco para reencontrar dois dos personagens de Cabra marcado para morrer (1964-1984): Cícero e João José (o Dão da Galileia).

Na ocasião da morte do diretor, o crítico José Carlos Avellar escreveu para o Blog do IMS: “Terminada a conversa, os amigos se despedem com um abraço. A amizade nasceu do cinema. João José, em 1964, então um menino, guardou o livro esquecido quando o Exército invadiu a Galileia e interrompeu as filmagens de Cabra marcado para morrer. Guardou porque a história do livro era como a da gente do filme. O abraço do filme é como o de todos nós.

Coutinho filmou João José em janeiro de 1981 e voltou a visitá-lo, em janeiro de 2013, para um novo filme, Sobreviventes da Galileia. O abraço apertado e silencioso na despedida resume o sentimento comum a todos os que participaram de seus filmes como personagens ou como espectadores diante das lições de vida reveladas pelo seu cinema. É a última cena do último filme de Eduardo Coutinho.”

Sobreviventes da Galileia será exibido junto ao filme A família de Elizabeth Teixeira, de Eduardo Coutinho.

Despedida - texto de José Carlos Avellar no Blog do IMS (na íntegra).

 

Programação

IMS Paulista
25/1, quinta, 18h
28/1, domingo, 18h


2023

DEZEMBRO 2023
O homem que comprou o mundo

Eduardo Coutinho | Brasil | 1968, 100’, Arquivo digital (Mapa Filmes) | Classificação indicativa: 14 anos

Após presenciar um assassinato em uma rua deserta, José Guerra, humilde cidadão do país Reserva 17, recebe da vítima um cheque de 100 mil “strikmas” e se torna o homem mais rico do mundo. Perseguido pela ganância de governos e organizações secretas, José se envolve em uma aventura policial cômica: depois de isolado numa fortaleza por ordem das autoridades, casa-se secretamente, empreende uma fuga espetacular a pé, a cavalo, de patinete, e tem delírios de adquirir o estádio do Maracanã e a Estátua da Liberdade.

O primeiro longa-metragem de Eduardo Coutinho conta com um elenco que inclui Marília Pêra, Flávio Migliaccio, Hugo Carvana, Raul Cortez, Milton Gonçalves e Paulo César Pereio. Coutinho assumiu a direção de O homem que comprou o mundo como substituto, após desentendimentos na equipe. “Para você ver a coisa terrível que era a minha vida, minha, não do cinema”, comentou em entrevista a José Carlos Avellar compilada no livro Eduardo Coutinho (2013), organizado por Milton Ohata. “Quem ia fazer era o Luís Carlos Maciel, tinha um roteiro, Zelito era o produtor, participou do roteiro e de não-sei-o-quê, teve uma briga em função de uma atriz que o Maciel queria e o Zelito não, e me chamaram; eu até achei chato: ‘Quero saber se eticamente é ruim, se pode mexer no roteiro ou não…’ e acabei fazendo um filme que não ia fazer; quer dizer, eu mudei muita coisa mas, enfim, era um filme que não ia fazer…”.

O filme será exibido em uma cópia digital de baixa resolução, único material disponível para exibição encontrado até o momento.

 

Programação

IMS Paulista
9/12, sábado, 20h
27/12, quarta, 18h


Faustão

Eduardo Coutinho | Brasil | 1971, 103’, 35 mm (Cinemateca do MAM) | Classificação indicativa: 18 anos

Um bando de cangaceiros liderados por Faustão intervém na briga entre integrantes das famílias Pereira e Araújo. Henrique Pereira, filho do coronel Pereira, é ferido em uma tocaia e mantido refém de Faustão, que exige um resgate. A partir do convívio com o grupo, no entanto, Henrique decide afastar-se da família e viver no cangaço, mas a chegada do assim chamado progresso no sertão colocará essa decisão em xeque.

Em uma entrevista a José Marinho de Oliveira, compilada no livro Eduardo Coutinho (2013), organizado por Milton Ohata, o diretor comenta a história por trás dessa produção, que marcou seu afastamento temporário da direção de filmes: “A volta do contato com o Nordeste [após a interrupção forçada do projeto de Cabra marcada para morrer, em 1964] foi em 1969, quando a Saga Filmes, que já tinha produzido o ABC do amor [filme dividido em 3 episódios em que um deles é dirigido por Coutinho] – e cujos produtores eram os amigos Leon Hirszman e Marcos Farias –, fez um plano para rodar quatro filmes no Nordeste, usando a mesma equipe, usando o mesmo local, para tentar então um sistema que resultasse econômico e permitisse fazer quatro ao preço de dois, três filmes. Era uma utopia, como se viu claramente. Todos tinham a temática do cangaço porque se achava que era uma coisa com receptividade popular. Na verdade, era um pouco engano. Essa receptividade existia, mas muito mais nos centros rurais do que nos urbanos. (...) Eu então fiz uma pesquisa. Até hoje foi uma coisa muito preciosa para mim, muito mais que os filmes. Porque eu li tudo o que pude encontrar sobre cangaço, coronelismo, coisas desse tipo, tudo sobre a história do Nordeste em geral. (...) Como tinha que ser filme de cangaço e era uma coisa que eu, a princípio, dominava, fiz Faustão. Era baseado na ideia de Henrique IV, do Shakespeare, um conflito entre pai e filho que é, ao mesmo tempo, um conflito de classes. O filho do rei era amigo do marginal, Faustão. E na hora da decisão, quando tem que assumir a coroa, ele acaba renegando o amigo, uma espécie de pai substituto. E acaba ficando com o poder e seguindo o caminho do pai real. Enfim, ele acaba ficando com a classe dele e abandonando o amigo. Essa temática me interessava porque correspondia a uma colocação dramática, me interessava como pessoa, como psicologia, me interessava porque também o rei é o coronel do Nordeste. O rei do feudalismo e o coronel no Nordeste tinham alguma coisa a ver. (...) O Eliezer Gomes foi colocado no papel principal mesmo sabendo-se que um chefe de bando nefro era incomum, embora tivesse havido o Zé Baiano. Mas na região de Pernambuco até o Ceará, no sertão, era muito difícil. Lá o preconceito racial é muito mais forte e há muito menos negros. Os chefes de bandos eram, em geral, mestiços (sic) ou brancos, como Lampião, que era mestiço e, provavelmente com sangue negro também, tinha vergonha de dizer que era. Dizia que era branco. Mas para o filme interessava uma situação dessas, porque a presença do Eliezer Gomes aumentava a distância social entre o cangaceiro e o coronel.”

“[...] Faustão foi feito sem dinheiro nenhum. Os atores começaram já em greve porque tinham o salário em atraso. Os atores e a equipe técnica trabalharam com muita má vontade, o que é compreensível. E tanto é verdade que acabou não havendo nem o terceiro. O “terceiro” da série acabou sendo do Leon Hirszman, São Bernardo, um ano depois… e absolutamente não ligado ao cangaço. Leon resolveu fazer um filme de autor.”

“[...] E depois aconteceu que Faustão foi mal de bilheteria. Eu não tinha condição de sobreviver em cinema. A Saga Filmes faliu e eu acabei não recebendo um tostão pelo filme, nem os 10% da renda do filme, como diretor. Enfim, eu me casei nessa época com uma moça de Fazenda Nova, tive filhos. Optei por abandonar o cinema como profissão. Fui para o jornalismo, que eu já tinha praticado muitos anos antes.”

 

Programação

IMS Paulista
16/12, sábado, 20h
27/12, quarta, 20h


NOVEMBRO 2023

 

Moscou

Eduardo Coutinho | Brasil | 2009, 78’, Arquivo digital (VideoFilmes) | Classificação indicativa: livre

Fragmentos de improvisações, oficinas e ensaios de uma peça que não teve e nem teria estreia. O documentarista Eduardo Coutinho convida a companhia teatral Grupo Galpão, de Belo Horizonte, sob direção de Enrique Diaz, a ensaiar a peça As três irmãs, de Anton Tchékhov, por um período de três semanas. Os atores só saberiam qual seria o texto no primeiro dia de filmagem: “A gente vai tentar montar fragmentos ao menos dessa peça, que é enorme, e coisas citadas que não são dessa peça”, explica Coutinho ao apresentar a proposta e o texto aos atores. “O objetivo é o seguinte: o inacabado, o fragmento – que, aliás, é Tchékhov –, é maravilhoso. A gente não quer fazer o completo.”

Sobre o aspecto fragmentário da obra de Tchékhov, Coutinho comenta em entrevista de julho de 2009 a Marília Martins para O Globo: “São peças sem trama e sem final... Foi isso que me interessou na peça. E no meu cinema também é assim: quero falar do pequeno, do anônimo, do resto, da sobra, daquilo que foi jogado fora, do lixo… O lixo me interessa muito… Meu cinema é feito de fragmentos! A verdade do cinema é a verdade da cena… Nos meus filmes é assim… Em Edifício Master, a única verdade é que um cineasta esteve por ali conversando com aqueles moradores. Todo o resto é duvidoso: será que aquelas paixões ou aquelas dores são verdadeiras? Não sei. Não me interessa. Quero que os espectadores digam: acredito nisto e não naquilo… Quando os atores falam de Moscou, eles estão falando de Minas Gerais…”

As três irmãs conta a história de Olga, Macha e Irina, que, sem perspectivas com a vida levada na província, sonham em voltar para Moscou.


OUTUBRO 2023
As canções

Eduardo Coutinho | Brasil | 2011, 90’, cópia digital (VideoFilmes) | Classificação indicativa: livre

Homens e mulheres cantam e falam sobre as músicas que marcaram suas vidas. Em entrevista a André Bernardo, em dezembro de 2011, Coutinho relata: “A princípio, a ideia era fazer um filme só sobre músicas do Roberto Carlos. Mas, aí, já viu, né? Ia dar um trabalho danado negociar os direitos das músicas. Daí, resolvi fazer um filme sobre anônimos cantando músicas que marcaram suas vidas. Foi o filme mais rápido e barato que já fiz. Só para você ter uma ideia, gravei 42 depoimentos em seis dias. A câmera não tem zoom. A luz é sempre a mesma. O cenário é um só o filme inteiro. Levei só dois meses para selecionar os participantes. A história do Brasil que me interessa é essa. É a história da canção brasileira. Não estou falando de Pixinguinha ou de Hermeto Pascoal. Estou falando de canção. A canção é o maior patrimônio brasileiro. No filme, apareceu gente cantando tudo que é tipo de música: de Noel Rosa a Jorge Benjor, de Silvinho a Roberto Carlos, de Orlando Silva a Nelson Gonçalves. Curiosamente, não tivemos uma música estrangeira sequer. Isso me intrigou bastante.”

“Olha, para ser honesto, a única fraude que eu cometi no filme foi incluir a música da Wanderléa, ‘Ternura’. Em 1999, conheci uma das personagens do filme. Na ocasião, Fátima [personagem de Babilônia 2000] era hippie. Hoje, virou evangélica. Só que a música da vida dela era um hino religioso. Nada contra. Mas não combinava com a história dela. Foi quando pedi que cantasse ‘Ternura’, da Wanderléa.”

Entrevista do diretor Eduardo Coutinho ao portal Iber Media Digital (Na íntegra) ►


SETEMBRO 2023
Santa Marta - Duas semanas no morro + Volta Redonda - Memorial da greve

Classificação indicativa da sessão: 14 anos

 

Santa Marta – Duas semanas no morro
Eduardo Coutinho | Brasil | 1989, 54’, Arquivo digital (CECIP) | Classificação indicativa: 14 anos

O documentário mostra de perto o dia a dia dos moradores do morro Santa Marta, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Coutinho comenta seu modo de fazer filmes em entrevista a Alcimere Piana e Daniele Nantes, publicada na revista Intermídias, em 2005: “Meus filmes começam dizendo que uma equipe de cinema foi num lugar, é sempre assim. Eu não moro na favela Babilônia, não moro no Santa Marta, eu não moro no Master. Então, sempre o filme começa com as regras do jogo. O jogo é o filme, e as regras são essas: no Nordeste, numa favela ou num prédio, tem uma equipe, tem um tempo e vamos ver o que acontece. Isso é dado inicialmente, sempre se trata de um filme, não é a vida na favela. Não é um filme sobre a religião na favela. É um filme sobre a equipe de cinema que vai ao morro conversar sobre religiosidade. Ninguém pediu para ser filmado, ninguém está interessado em ser filmado, a gente vai lá. Não é televisão, é um ato gratuito.”

Premiado como Melhor Documentário Estrangeiro no Festival de Vídeo de Bogotá, 1989.

 

Volta Redonda – Memorial da greve
Eduardo Coutinho e Sergio Goldenberg | Brasil | 1989, 39’, Arquivo digital (CECIP) | Classificação indicativa: 14 anos

No final da década de 1970, o movimento operário começa a ganhar força. Em 1988, os trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, decretam uma grande greve. A intervenção militar é imediata; a repressão assassina três jovens operários e fere dezenas. O filme de Coutinho e Goldenberg reconta essa história, a partir do depoimento de operários e familiares impactados pela repressão, resgata filmagens do período e aponta para as repercussões do episódio.


Boca de lixo + Mulheres no front

Classificação indicativa da sessão: 14 anos

 

Boca de lixo
Eduardo Coutinho | Brasil | 1992, 50’, Arquivo digital (CECIP) | Classificação indicativa: 14 anos

Trata do cotidiano dos catadores de lixo do vazadouro de Itaoca, em São Gonçalo, a 40 km do Centro do Rio de Janeiro. O lixo como trabalho e como estigma. O roubo da imagem alheia, pecado original de todo documentário.

“O lixo é um filme que aconteceu meio sem previsão…”, comenta Coutinho em entrevista a Cláudia Mesquita. “Eu tinha filmado um outro lixão para outro filme, O fio da memória, que acabou nem entrando… Eu fiquei lá uma meia hora, era minha primeira vez num lixão, e ali eu vi o que nunca havia se mostrado no cinema. Tinha gente fritando ovo, gente jogando bola, igual em qualquer lugar. Eu queria fazer um filme sobre aquilo. Não como o Ilha das Flores [de Jorge Furtado], o lixo como conceito, mas o lixo como realidade.”

Entre outros prêmios, Boca de lixo foi escolhido Melhor Filme no Rencontres des Cinémas d’Amérique Latine, em Toulouse, 1993.

 

Mulheres no front
Eduardo Coutinho | Brasil | 1996, 35’, Arquivo digital (CECIP) | Classificação indicativa: 14 anos

Ainda muito pouco exibido dentro da filmografia de Coutinho, esse belo filme aborda três histórias próximas na luta de mulheres, mas distantes no espaço geográfico: a Associação de Moradores de Jardim Uchôa, no Recife; a Associação de Moradores de Rancho Fundo, Rio de Janeiro; o grupo de Promotoras Legais Populares, em Bom Jesus, Porto Alegre.

Mulheres no front foi realizado para a FNUAP/Unicef/Unifem, exibido na Conferência Habitat II, em Istambul, 1996.


AGOSTO 2023
Seis dias de Ouricuri + O pistoleiro de Serra Talhada

Classificação indicativa da sessão: Livre

Seis dias de Ouricuri

Eduardo Coutinho | Brasil | 1976, 46’, Arquivo digital (Globo) | Classificação indicativa: livre

Seis dias foi o período que o diretor Eduardo Coutinho e sua equipe passaram na cidade de Ouricuri, no interior de Pernambuco, para documentar a crise socioeconômica local causada pela seca e as frentes de trabalho organizadas para a população, de cerca de 200 mil habitantes.

“O primeiro documentário que eu fiz no Globo Repórter foi sobre uma seca no Nordeste. Seis dias de Ouricuri”, conta Coutinho, em uma longa entrevista concedida a José Carlos Avellar e publicada no número 22 da revista Cinemais, em 2000. “O Armando Nogueira mandou cortar para dez minutos. O Globo Repórter ia ter naquele dia três filmezinhos de dez minutos; eu fiquei louco. Daí insistiram para que ele fosse lá ver, porque não dava para cortar para dez minutos. Ele foi ver, sentou 40 minutos na moviola. Ele foi lá duas vezes nos seis anos em que trabalhei naquela casa, que ficava a 200 metros da sede, essa foi uma das vezes. Sentou, viu – justiça seja feita, o Armando é jornalista – e disse: ‘Tem que ir para o ar sem cortar’. Mandou uma garrafa de uísque para a equipe… Foi realmente incrível… Aliás, eu acho que foi aí que realmente vi que só queria fazer documentário, entende? Janeiro de 1976, Ouricuri, Pernambuco, feito em filme reversível, o fotógrafo foi Edson Santos… Agora o genial – e esse é o assunto central aqui –, Ouricuri não iria para o ar hoje. O Armando disse que ia para o ar, depois passou pela Censura, não cortaram e foi para o ar. Veja a diferença: nessa altura, nesse filme, nesse caso, a televisão era uma aliada; ela também cortava, mas era uma aliada, inclusive pela coisa prática – tinha um horário a ser preenchido, entende? De 1979 em diante, mudou; deixou de ter o inimigo externo… Aí é dentro, entende? Por que Seis dias de Ouricuri não iria para o ar hoje? É claro, ele envelheceu; muitas coisas desse documentário envelheceram; mas ele tem um plano de três minutos e dez. Um plano de três minutos e dez e um cara – que tem uma voz extraordinária, parece um locutor –, um camponês que conta… Tem quatro raízes na frente dele, ele conta as raízes e diz de cada uma delas o que se pode comer e o que ele comeu, mucunã, batata de mandacaru… três minutos e dez; ele fica bordando sobre esse tema: ‘Isso pra porco; isso é ruim, isso não é tão ruim’. É só isso. Não ia para o ar, hoje não ia para o ar porque – sabe? – ele está tecnicamente, como um professor, dizendo as raízes horríveis que ele come na seca. E todas as raízes têm uma história, a seca de 1958, a de 1968: ‘Isso a gente come porque tem precisão de comer, mas nenhum de nós quer comer isso aí”. Três minutos e dez; não é um plano fixo, porque o cara está mostrando raízes desse tamanho, bem pequenas, delicadas diferenças de quadro com o zoom. Está certo, o plano muda, mas é um plano de três minutos e dez, sem cortes. E depois tem mais um plano longo de uns caras que, enfim: comida não tem, aquela fome desgraçada. Um velho – 60, 70 anos – faz um discurso sobre a fome que é absolutamente extraordinário como dor; ele começa a contar, e as pessoas consolam com humor, só vendo. É um plano praticamente fixo; fixo. O cara lá, dois minutos. Dois minutos e pouco. Um plano só. Você consegue isso? Você acha possível que uma televisão aberta ponha um plano de dois ou de três minutos de um cara falando? Não põe! Não põe nem um cara falando num gabinete, imagine um plano em que, além do tempo, um cara fala de fome. O plano é lancinante. O problema é que dura dois, três minutos. Questão estética mesmo… Mas o que é estética? O que é a fome? É a forma de dizer também, entende? Que é política. Esse é o problema. É isso que me mata, já anos, dizer isso aí.”

 


O pistoleiro de Serra Talhada

Eduardo Coutinho | Brasil | 1977, 44’, Arquivo digital (Globo) | Classificação indicativa: livre

“Há três anos que eu queria fazer um filme sobre o coronelismo. Mas como é muito difícil, demanda muito dinheiro, muito tempo para fazer esse filme, a televisão não dá essa condição, muito menos o curta-metragista tem essa condição. Então, fiz há três meses uma reportagem sobre pistoleirismo. Mas não em geral. Porque um filme sobre pistoleirismo em Alagoas é um filme impossível. Você realmente pode morrer fazendo o filme. Ou não chega à verdade porque as pessoas não falam. Existe realmente uma máfia. [...] Ou então as pessoas que dão declarações podem morrer atacadas por outra. Então se escolheu fazer um filme sobre Vilmar Gaya, que é um pistoleiro que os jornais diziam que era o novo Lampião, pistoleiro nascido em Serra Talhada. Se dizia então que, como Lampião nasceu lá também, que era o novo Lampião etc. Então esse filme me interessava por vários motivos: primeiro porque, aprovado o tema, eu li tudo o que foi publicado em jornal sobre o Vilmar. Recolhi uma série de dados, alguns conflitantes inclusive, número de crimes, quem matou, quem não matou, quem era o prefeito, quem era o juiz, o que a polícia fez ou não fez, quem era o culpado e quem não era. Além disso, completei a minha leitura sobre tudo que fosse referente ao assunto: violência, cangaço, pistoleirismo. Aliás, não há nenhum livro sobre pistoleirismo no Brasil. Não existe nenhum livro que documente. O que me interessava nesse filme, então, e creio que tenha conseguido, não foi ficar só no Vilmar. E, ao mostrar o Vilmar dentro do contexto de violência que permanece até hoje, sem grandes mudanças, dentro de um contexto de grande diferença social e de miséria que permanece até hoje, dentro de um contexto de coronelismo que, redefinido e mudado permanece até hoje, dentro de um contexto de latifúndio que permanece até hoje, dentro de um contexto de código de honra familiar, de sistema de parentela, que permanece até hoje, mas com outra intenção também, que é demonstrar que toda tentativa da imprensa ou da polícia, até às vezes de gente mais séria, em dizer que surge um Lampião ou pode surgir, é uma absoluta tolice, porque é tão lendário como as lendas que existem sobre Lampião. Lampião como um revolucionário, um homem bonzinho. Não é aquilo nada. Aliás, não era isso. O cangaço era uma profissão. O cangaço com Lampião se torna uma profissão.”

“É uma reportagem muito forte e que esclarece dentro dos limites do tempo, embora eu tenha cortado muita coisa importante. E ainda foi censurada uma parte que fala da tortura da polícia, num cara da família Gaya. Acho que não é uma visão romântica, conta o passado de Serra Talhada, as brigas de famílias, a permanência do latifúndio… Tudo isso só através das entrevistas, só sugerindo. E depois passa para uma escalada de crimes do Vilmar Gaya, mostrando que há outros pistoleiros, que a vingança da família não acaba através do pistoleiro, e que em todo crime a polícia está metida. Seja porque ela é arbitrária, seja porque ela é conivente com uma das facções. [...] O filme mostra toda essa sujeira, tira toda a aura romântica desse tipo de coisa, até alimentada pela imprensa.”

Depoimento de Eduardo Coutinho extraído de entrevista concedida em 1977 a José Marinho de Oliveira reproduzida no livro Eduardo Coutinho (2013), da editora Cosac Naify.


Theodorico, o imperador do sertão + Exu, uma tragédia sertaneja

Classificação indicativa da sessão: Livre


Theodorico, o imperador do sertão

Eduardo Coutinho | Brasil | 1978, 49’, Arquivo digital (Globo) | Classificação indicativa: livre

O “major” Theodorico Bezerra, latifundiário, ex-deputado federal e vice-governador, além de presidente do Partido Social Democrático (PSD) do Rio Grande do Norte, é o foco deste episódio do Globo Repórter, que foi ao ar em 22 de agosto de 1978. Aos 75 anos, Theodorico ainda exercia total domínio sobre suas terras e as pessoas que o cercavam. Comandava seus funcionários sob um rígido contrato de comportamento e exploração econômica. Cada um deles tinha escrito na parede de casa as regras impostas pelo patrão, que proibiam, por exemplo, consumir bebidas alcoólicas e fazer compras no mercado concorrente da fazenda.

Eduardo Coutinho viajou para a fazenda de Irapuru, a 100 quilômetros de Natal, para traçar o perfil de Theodorico. Destoando do padrão geral da Globo, o filme tinha muitos planos longos, e a narração era do próprio Theodorico, falando diretamente para a câmera e comandando as entrevistas. Eduardo Coutinho tinha ficado incomodado com as intervenções do “major” durante os primeiros depoimentos dos empregados e decidiu dar de vez a ele o posto de entrevistador, um recurso que serviu para expor as relações de poder e explicitar o autoritarismo, mas também para contornar a necessidade formal de um repórter fazer a locução. Em entrevista de 2008 a Felipe Bragança, o cineasta comenta:

“A grande luta estética era não ter um locutor. E eu consegui no Theodorico. No Theodorico, eu só pensava como conseguiria eliminar o locutor; eu precisava criar um jeito de justificar lá dentro essa opção. Aí eu fiz ele fazer o começo e o final, apresentando o filme. E consegui botar no [Sergio] Chapelin, nas apresentações de estúdio, na cabeça, como se diz, todos os dados que tinham que ser passados. Digamos que a grande vitória ali era de não ter o locutor, que era o negócio da informação, e que ficou cada vez mais obrigatório. Ou o repórter que fala ou o locutor com script. Então eu só queria fazer coisas que realmente tivesse vontade de fazer e que fossem assim, sem essa vontade de informação.”

Trecho de entrevista extraído do volume dedicado a Eduardo Coutinho da série de livros Encontros, da editora Azougue.

 

Exu, uma tragédia sertaneja
Eduardo Coutinho | Brasil | 1979, 39’, Arquivo digital (Globo) | Classificação indicativa: livre

Programa levado ao ar em 16 de janeiro de 1979, retratou a briga das famílias Sampaio e Alencar, na cidade pernambucana de Exu, que se arrastava desde 1949, com mortes violentas de lado a lado. Exibido como um Globo Repórter Documento’ com direção de Eduardo Coutinho, contou com depoimentos do cantor e compositor Luiz Gonzaga, natural de Exu, e de membros das duas famílias. Até uma intervenção federal foi sugerida para dar fim ao conflito.


JULHO 2023
Santo forte

Eduardo Coutinho | Brasil | 1999, 90’, 35 mm (Cinemateca do MAM) | Classificação indicativa: 12 anos

Em 5 de outubro de 1997, durante a visita do papa João Paulo II, uma equipe de cinema visita a favela Vila Parque da Cidade, situada na Gávea, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Os moradores assistem à missa celebrada pelo pontífice no aterro do Flamengo. Em dezembro, a equipe volta à favela para descobrir como seus moradores vivem a experiência religiosa. Católicos, umbandistas ou evangélicos, todos eles têm em comum a crença numa comunicação direta com o mundo espiritual através da intervenção, em seu cotidiano, de santos, orixás, guias ou do Espírito Santo.

Em uma entrevista a Valéria Macedo, originalmente publicada na revista Sexta Feira, em abril de 1998, Coutinho descreve o plano para o seu próximo filme. Mais tarde, seria conhecido pelo diretor como um marco na sua carreira, um momento definidor do tipo de documentário pelos quais ficaria conhecido. Na entrevista de 1998, Coutinho diz: “Para mim o que interessa é fazer filme de conversação. Minha vontade agora é fazer um filme que tenha uma hora e meia de duração, 100 horas filmadas em vídeo, sobre religião no Brasil. Vou pegar uma favela de 2.000 pessoas. Tem uma antropóloga que está fazendo uma pesquisa sobre esse tema numa favela do Rio. O que há no Brasil é uma luta de santos de que ninguém conhece a dimensão, pelo menos no cinema. Em cada momento da vida, está presente o mágico, cada ato tem significado. São histórias extraordinárias. Não me interessa filmar os rituais afros, os caras matando animais, só a fala me interessa, a narração das experiências. Falar de religião, você acaba entrelaçando histórias de família, sexo etc. E você descobre a coerência daquelas pessoas, elas não são loucas. E pessoas de religiões diferentes, você vai ver, são pai, filha. Só me interessa trabalhar no micro e ir até o fim. Se não, pode ficar uma coisa um pouco estéril e superficial: ‘O mosaico do Brasil’. E gosto de trabalhar no singular, não procurar o caso típico. Eu sou apaixonado por esse caráter obsessivo da fala, dos santos, e queria que fosse um filme tão obsessivo quanto é o pensamento deles.


Superstição + Os romeiros do Padre Cícero

Classificação indicativa da sessão: Livre

Superstição
Eduardo Coutinho | Brasil | 1976, 43’, Arquivo digital (Globo) | Classificação indicativa: Livre

Em junho de 1976, Eduardo Coutinho e o repórter cinematográfico Mario Ferreira viajaram para o sertão nordestino para gravar o documentário Superstição. O filme revelava os costumes, as lendas e as crenças do dos sertanejos. “A gente mostrava a superstição do povo, como é que essas pessoas viviam na seca, na miséria. Eles botavam uma planta chamada comigo-ninguém-pode na porta para se proteger. Então, a gente tinha uma forma de driblar a censura e falar de certos temas que o público brasileiro não estava acostumado a ver na televisão brasileira. Esse filme Superstição foi um deles”, conta Mario Ferreira.

 

Os romeiros do Padre Cícero
Eduardo Coutinho | Brasil | 1994, 34’, Arquivo digital (CECIP) | Classificação indicativa: Livre

Em 24 de março de 1994, comemoraram-se os 150 anos de nascimento do Padre Cícero Romão Batista, o patriarca de Juazeiro do Norte, no Ceará. O documentário acompanha um caminhão de romeiros em sua peregrinação de Fernandes, no município de Arapiraca, em Alagoas, até Juazeiro – uma viagem de 700 km, percorridos em 16 horas. Depoimentos de ex-romeiros e seus descendentes estabelecidos em Juazeiro, hoje um centro comercial de 180 mil habitantes, traçam o perfil histórico e lendário do Padre Cícero, um santo popular que morreu suspenso de suas ordens pela Igreja em 1934, e que representou, para a população empobrecida do Nordeste, o papel de advogado e conselheiro.

Em uma longa entrevista concedida a José Carlos Avellar e publicada no número 22 da revista Cinemais, em 2000, Coutinho comenta brevemente sua relação com o resultado do filme: “Já fiz um troço sobre o Padre Cícero, acompanhei os romeiros… Não gosto do resultado. O filme que eu queria fazer era um filme antes e um depois, mas… chega em Alagoas, encontra quem pode, pego um grupo, tem uma senhora interessante, pego o grupo tomando o caminhão, sigo a viagem de Arapiraca a Juazeiro, filmo eles rezando… Não tem conversa, três, cinco pessoas rezando… Não funciona, porque elas rezam para a câmera ou a contracâmera. A câmera, aí, incomoda. É diferente a imagem quando você está conversando com uma pessoa: ela, claramente, está falando para você e para a câmera, você não engana ninguém. Não tem câmera escondida, não tem teleobjetiva… É fantástica a franqueza disso.”


JUNHO 2023
Dona Flor e seus dois maridos

Bruno Barreto | Brasil | 1976, 117’, 35 mm (Biblioteca Nacional) | Classificação indicativa: 16 anos

Durante o carnaval de 1943 na Bahia, Vadinho (José Wilker), um mulherengo e jogador inveterado, morre repentinamente. Sua mulher, Dona Flor (Sônia Braga), fica inconsolável, pois, apesar de ter vários defeitos, ele era um excelente amante. Após algum tempo, ela se casa com Teodoro Madureira (Mauro Mendonça), um farmacêutico que é exatamente o oposto do primeiro marido. Ela passa a ter uma vida estável e tranquila, mas tediosa, e, de tanto "chamar" por Vadinho, um dia ele aparece nu na sua cama. Um pai de santo se prontifica a afastar o espírito de Vadinho, mas existe um problema: no fundo, Flor quer que ele fique, pois ela tem um forte desejo que precisa ser saciado.

No livro “Sete faces de Eduardo Coutinho”, o crítico e pesquisador Carlos Alberto Mattos comenta: "O percurso de Coutinho é marcado ainda por várias curiosidades. Quando estudante de cinema em Paris dirigiu uma peça de teatro (sua única vez na direção teatral), Pluft, o fantasminha, de Maria Clara Machado. Atuou no filme Os mendigos, de Flávio Migliaccio, em 1963, quando reunia material para filmar Cabra. Seu primeiro longa-metragem foi uma comédia política, O homem que comprou o mundo (1967), em que também colaborou no argumento, fez o roteiro final e uma figuração. E foi corroteirista de vários filmes de ficção, entre eles Dona Flor e seus dois maridos (1976), antes de se embrenhar de vez no gênero em que ficou conhecido e respeitado como um dos maiores do mundo.”

Dona Flor e seus dois maridos tem o roteiro adaptado por Eduardo Coutinho, Bruno Barreto e Leopoldo Serran e é baseado no romance homônimo de Jorge Amado. Tendo levado mais de 10 milhões de espectadores aos cinemas, Dona Flor foi por 34 anos a maior bilheteria do cinema nacional, superado por Tropa de elite 2. Ainda hoje, o filme figura na lista das 10 maiores bilheterias brasileiras.


Babilônia 2000

Eduardo Coutinho | Brasil | 2000, 80’, 35 mm (Cinemateca do MAM) | Classificação indicativa: Livre

No morro da Babilônia, no Rio, uma equipe de filmagem acompanha os preparativos para o réveillon e ouve os moradores sobre suas expectativas para o ano 2000.

Em seu blog, o crítico e pesquisador Carlos Alberto Mattos escreve: "Em “Babilônia 2000, a dimensão ética de seus procedimentos comparece de maneira impressionante: o espaço para a ficção de si, para uma espécie de autofabulação sobre cada vida, está pulsando. O que ele perseguia era justamente ‘o teatro da vida’, a maneira ou saída que cada um encontra para endereçar sua fantasia ao outro, ao mundo. Ele diz: ‘Quero da pessoa o impulso de se construir enquanto está comigo, quero que ela construa um retrato de si mesma’. Para Coutinho, a presença da câmera funda uma ética e cria um espaço de enunciação que diverge de qualquer vontade de verdade filosófica ou matemática. Trata-se da maneira mais aguda que cada sujeito toma sua ficção para si e a devolve ao mundo. E essa ética fundada pela câmera – terceiro elemento, mediação e revelação…"

Texto na íntegra no portal Carmattos ►

 

Apoio


MAIO 2023
Edifício Master

Eduardo Coutinho | Brasil | 2002, 110’, 35 mm (VideoFilmes) | Classificação indicativa: 12 anos

Durante uma semana, Eduardo Coutinho e sua equipe conversaram com 27 moradores de um enorme edifício de apartamentos em Copacabana. Entre eles, um casal de meia-idade que se conheceu pelos classificados de um jornal, uma garota de programa que sustenta a filha e a irmã, um ator aposentado, um ex-jogador de futebol e um porteiro desconfiado de que o pai adotivo, com quem sonha toda noite, é seu pai verdadeiro.

Uma oportunidade de assistir a um dos grandes documentários da carreira de Eduardo Coutinho em cópia 35 mm. Em 2002, o filme recebeu o Kikito de Ouro de Melhor Documentário no Festival de Gramado e o Prêmio de Melhor Documentário pela crítica da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Em entrevista a Ruy Gardnier, Eduardo Valente e Cleber Eduardo para a revista Contracampo, Coutinho relata:

“O filme nasceu da ideia da Consuelo Lins, que trabalha comigo, de fazer um filme sobre um prédio em Copacabana. Eu então roubei a ideia, com o consentimento dela, porque me interessava filmar em um universo com limites claros. Não queria fazer filme sobre a classe média, mas sobre um universo que não se conhece. Tinha de ser em prédio grande, de apartamentos conjugados e com perfil familiar, caso contrário inviabilizaria a filmagem. O desafio seria extrair um material interessante de pessoas normais. É muito mais fácil fazer um filme sobre marginais que sobre pessoas de classe média.”

“No caso do Master, achei que ia me lascar. As experiências de vida eram menos fortes, as pessoas eram mais fechadas, a narrativa das experiências era menos rica. Eu precisaria de muitos personagens para dar um filme. Não haveria relatos extraordinários. A diversidade de experiências é que seria essencial naquele universo. Tinha de ser um filme longo, de quase duas horas, com 27 apartamentos. Cortamos 10. Também não podia ter eixo temático, ao contrário de Santo forte e Babilônia 2000. O prédio é apenas uma pista falsa. Isso era um complicador dramatúrgico. Como eu ordenaria esse material se havia todos os temas possíveis? Decidi pela montagem caótica. Procurei conservar a ordem da filmagem, que não tinha um padrão. Isso não leva ninguém a ter certeza do que virá depois de cada personagem. Não há uma regra.”

“Talvez pelas histórias de vida do Edifício Master serem menos extraordinárias que as de Santo forte e Babilônia 2000, fica mais evidente que o importante é como os personagens falam de si e não o que eles estão falando. A garota de programa sintetiza essa ideia ao dizer que precisa acreditar em suas mentiras para contá-las. Não interessa, então, nem se o relato é verdadeiro. Interessa a narrativa em si.”

Íntegra da entrevista de Eduardo Coutinho à Contracampo.


Peões

Eduardo Coutinho | Brasil | 2004, 85’, 35 mm (VideoFilmes) | Classificação indicativa: Livre

A história pessoal dos metalúrgicos do ABC paulista que tomaram parte no movimento grevista de 1979 e 1980, mas permaneceram em relativo anonimato. Eles falam das origens, da participação no movimento e dos caminhos que suas vidas trilharam desde então. O filme foi rodado no período final da campanha presidencial de 2002, na qual Lula, líder sindical nessas greves, foi eleito presidente da República.

Em uma entrevista concedida a Neusa Barbosa para a revista Cineweb em 2004, Coutinho contava sobre o processo de pesquisa do filme. Menciona como alguns personagens surgiram durante a pesquisa e outros foram surgindo ao longo do processo. Nesse último grupo, estava Miguel do Cavaquinho:

“Ele foi um cara que a gente filmou muito num bairro chamado Jardim Central. São Bernardo é uma cidade em que 70% ou 80% das pessoas foram ou são metalúrgicos, apesar da crise. E nesse Jardim Central só tem metalúrgicos. Muitos dos mais velhos participaram das greves. Eu filmei, saí pelas ruas, filmei o boteco, as casas do bairro, entrevistei pessoas. E esse cara estava um dia num grupo, no boteco, no primeiro turno da eleição presidencial. Entrevistei umas 20 pessoas, elas foram falando. Ele estava no grupo e por acaso falou da prisão do Lula. E não foi nada de extraordinário. Ele tem uma cara muito forte. Aí juntam-se as coisas, cara, voz, carisma. E eu me digo: ‘Acho que esse cara vale a pena’. Então eu fiquei com esse cara na cabeça. O primeiro turno foi 6 de outubro, não foi isso? E esse cara, como ele diz no filme, é peão de empreitada no Paraná, mas vinha a São Bernardo para votar. No primeiro turno ele estava lá, eu filmei. Aí ficamos esperando esse cara voltar para o segundo turno para encerrar o filme. Fomos lá na hora do almoço, e realmente foi a última entrevista do filme. Inclusive, ele fala meu nome, porque ele me conhecia, não foi através de um pesquisador. E eu não sabia o que ele ia dizer. E de repente foi uma conversa extraordinária, porque ele me deu a definição de peão. Por isso é que a pesquisa, por melhor que seja, às vezes ela é essencial, mas ela não te dá tudo… [...] Eu estava há 50 dias ali, mesmo sem câmera, e ninguém me dava essa definição. Claro que é uma definição discutível, existem várias versões, não é oficial. Mas ele dá uma versão magnífica quando diz que não quer que os filhos sejam peões. Eu não pergunto nada, ele diz. E aí ele deixa 30 segundos de silêncio, que numa pesquisa você não deixa ficar. Pesquisa é um diálogo cordial, você tem que seduzir. Na filmagem, não. A situação é mais tensa, mais solene. Quando acontece uma situação assim, eu posso me dar ao luxo de sofrer com ele. É muito difícil saber o que vai acontecer depois de um silêncio desses. Se eu dissesse uma palavra, ele saía. Fiquei quieto.”

“Aí ele te faz uma pergunta…”, interpela a entrevistadora.

“E muda todo o filme”, prossegue Coutinho. “Ele me pergunta se eu já fui peão. Um golpe de gênio. Isso se chama filmar o instante, o instante imprevisível.”

Trecho de entrevista extraído do volume dedicado a Eduardo Coutinho da série de livros Encontros, da editora Azougue. A organização é de Felipe Bragança.


O fim e o princípio

Eduardo Coutinho | Brasil | 2006, 110’, 35 mm (VideoFilmes) | Classificação indicativa: Livre

Um filme nascido do zero. Sem pesquisa prévia, sem personagens, locações nem temas definidos. Uma equipe de cinema chega ao sertão da Paraíba em busca de pessoas que tenham histórias pra contar. No município de São João do Rio do Peixe, descobre-se Sítio Araçás, uma comunidade rural onde vivem 86 famílias, a maioria delas ligadas por laços de parentesco. Graças à mediação de uma jovem de Araçás, os moradores, na maioria idosos, contam suas vidas.

Em uma entrevista originalmente publicada no jornal O Globo, em 21 de novembro de 2005, Coutinho comenta a origem do projeto: “Em 2003, eu estava montando Peões, e o João Moreira Salles me perguntou: ‘Que filme você quer fazer agora?’. Eu pensei, em primeiro lugar, que queria fazer um filme em ambiente rural, pois todos os filmes que eu tenho feito desde Santo forte são filmes de metrópole, e eu estava de saco cheio de filmar nelas. Segundo, queria fazer um filme sem nenhuma pesquisa prévia. E por que o sertão da Paraíba? Poderia ter feito este filme em Minas Gerais, onde esse rural rebuscado, com riqueza oral, também existe. Mas como as primeiras filmagens do Cabra foram na Paraíba, tenho simpatia por lá. E há a visão mítica de que ali foi uma terra de grandes poetas populares.”

“Em 2004, ao sair para filmar, a primeira coisa que fiz foi comprar um Guia Quatro Rodas qualquer da vida. Só que ali há poucas referências a cidades pequenas. Daí, comprei um mapa, onde tinha Cajazeiras, uma cidade de 50 mil habitantes que está a cerca de 500 km de João Pessoa. Mas, por acaso, o hotel aonde fomos não ficava em Cajazeiras, mas na região, em um local chamado São João do Rio do Peixe, a 30 km de Cajazeiras, o que significava duas horas para ir, três para voltar. Resolvemos ficar ali. Foi quando encontramos a Rosa, da Pastoral da Criança, e a encontramos como se fosse uma assistente de produção, uma guia. Tinha ilusões de que filmaria sem mediador, que chegaria numa casa e filmaria de longe, com toda uma técnica de aproximação. Mas essa ideia romântica acabou. E nos concentramos na comunidade dela. [...] Ela escreveu, em um caderno, as 86 casas do sítio, com os nomes das pessoas que moravam. Fez o roteiro do filme naquele papel. A confiança que ela inspirava fez com que as pessoas falassem.”

Trecho extraído do volume dedicado a Eduardo Coutinho da série de livros Encontros, da editora Azougue. A organização é de Felipe Bragança.


Jogo de cena

Eduardo Coutinho | Brasil | 2007, 103’, 35 mm (VideoFilmes) | Classificação indicativa: Livre

Atendendo a um anúncio de jornal, 83 mulheres contaram suas histórias de vida em um estúdio. Em junho de 2006, 23 delas foram selecionadas e filmadas no Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro. Em setembro do mesmo ano, atrizes interpretaram, a seu modo, as histórias contadas pelas personagens escolhidas.

Até Jogo de cena, o cinema de Eduardo Coutinho ia até suas personagens, nos seus apartamentos em um edifício de Copacabana, em suas casas no morro Santa Marta ou Babilônia ou no sertão paraibano. Neste filme, no entanto, as personagens são convidadas a dar seus depoimentos em um teatro. Em janeiro de 2008, em uma longa entrevista concedida ao cineasta Felipe Bragança, Coutinho comenta essa escolha:

“É o próprio lugar de tudo, não é? Porque é o lugar onde todos os lugares documentados estão, de certa forma: o teatro, a plateia. Você explicita que, na verdade, em cada filme, quando a gente fala, a fala é um lugar de encenação… Algo que eu sentia que nem todos entendiam nos meus outros filmes e eu resolvi deixar claro. Tem gente que não entende isso, especialmente fora do Brasil, como se o filme fosse só o assunto, e não a cena mesma da palavra, sabe?”

Trecho extraído do volume dedicado a Eduardo Coutinho da série de livros Encontros, da editora Azougue. A organização é de Felipe Bragança.


Ingressos

Vendas
Os ingressos do cinema podem ser adquiridos online ou na bilheteria do centro cultural, mais informações abaixo.

Meia-entrada
Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem e maiores de 60 anos.

Cliente Itaú
Desconto de 50% para o titular ao comprar o ingresso com o cartão Itaú (crédito ou débito). Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.

Devolução de ingressos
Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site.


IMS Paulista

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a domingo, das 12h até o início da última sessão de cinema do dia, na Praça, no 5º andar.

Os ingressos para as sessões são vendidos na recepção do IMS Paulista e pelo site ingresso.com. A venda é mensal e os ingressos são liberados no primeiro dia de cada mês.

Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.


IMS Poços

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).
Bilheteria: de terça a sexta, das 13h às 19h. Sábados e domingos, das 9h às 19h, na recepção do IMS Poços.

Os ingressos para as sessões são vendidos na recepção do IMS Poços e pelo site ingresso.com. A venda é mensal e os ingressos são liberados no primeiro dia de cada mês. Os preços variam de acordo com o filme ou a mostra.

Não é permitido o consumo de bebidas e alimentos na sala de cinema.


Sobre Eduardo Coutinho

Eduardo Coutinho (1933-2014) começou na ficção, como roteirista (A falecidaGarota de IpanemaLição de amorDona Flor) e diretor (O homem que comprou o mundoFaustão). Foi parar no documentário pelos caminhos da TV, realizando programas desbravadores pelo interior do Brasil para o Globo Repórter. Consagrou-se no gênero em 1985 com a retomada em forma documental de um projeto ficcional abortado pelo golpe militar de 1964: Cabra marcado para morrer é considerado um marco do cinema brasileiro e mundial. Em 1999, aos 66 anos, experimentou com Santo forte um novo renascimento criativo que deu origem a uma sucessão de grandes filmes: Babilônia 2000Edifício MasterPeõesO fim e o princípioJogo de cenaMoscouAs cançõesUm dia na vida. Seu último trabalho foi finalizado por João Moreira Salles, ganhou o nome de Últimas Conversas e foi lançado em 2015 no festival É Tudo Verdade.


Na loja do IMS


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