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Erico Verissimo ganha versão digital de Caderno de Literatura

16 de dezembro de 2025

Um dos mais importantes romancistas do Brasil, o escritor Erico Verissimo (1905-1975) faria 120 anos neste 17 de dezembro. Para celebrar a trajetória do autor de romances seminais da nossa literatura, como Incidente em Antares e os que compõem a trilogia O tempo e o vento, o  Instituto Moreira Salles está  lançando a versão digital dos Cadernos de Literatura Brasileira (CLB) dedicado à sua vida e obra.

O volume impresso de Verissimo foi publicado em novembro de 2003, e está há muito esgotado.  Com a  versão on-line, a área de Literatura do IMS dá continuidade ao projeto de disponibilizar as versões digitalizadas de todos os 24 volumes dos Cadernos, hoje no acervo do Centro de Memória e Documentação. Em 2026, uma página especial neste site agregará as versões digitalizadas de 16 deles, entre os quais os de Clarice Lispector, Millôr Fernandes e Guimarães Rosa; os oito restantes serão lançados em breve.

Os Cadernos de Literatura Brasileira foram concebidos pelo poeta e crítico Antonio Fernando De Franceschi (1942-2021), primeiro diretor-superintendente do IMS, cargo que ocupou de 1992 a 2008. Autor premiado e amigo de vários escritores, Franceschi  tinha grande afinidade com o mundo das letras e idealizou cada volume dos cadernos como um conjunto monográfico destinado a trazer, a cada número, entrevistas com os escritores, textos analíticos, uma cronologia exaustiva e um minucioso levantamento bibliográfico de obras e fortuna crítica.  No caso do número dedicado a Verissimo, assim como de outros autores que já não estavam presentes quando foram tema dos CLB, a entrevista foi substituída por uma coletânea de frases em que o escritor fala do próprio trabalho e de suas experiências.

Em "Erico por ele mesmo" são reunidas declarações do autor  sobre literatura e também engajamento político, censura, sexo, religião. Opiniões proferidas ao longo de décadas, especialmente por meio de entrevistas à imprensa, selecionadas e organizadas pela editora dos CLB à época, Francesca Angiolillo. No texto Um escritor diante do espelho,  depoimento à revista Realidade, em novembro de 1966, ele diz, com uma modéstia que não faz justiça à grandeza de sua obra:

“O que penso de mim mesmo? Depende da ocasião. Nos momentos escuros, minha tendência é considerar tudo quanto produzi até hoje medíocre ou mesmo mau. Nas horas claras, porém, olho com mais indulgência para a minha obra e concluo que, dentre os vinte e poucos livros que escrevi até hoje, uns três ou quatro possuem alguma importância e pelo menos um deles – creio que O continente – sobreviverá por algum tempo. Sei que não sou, nunca fui, um writer's writer, um escritor para escritores. Não sou um inovador, não trouxe nenhuma contribuição original para a arte da ficção. Tenho dito e escrito repetidamente que me considero, antes de mais nada, um contador de histórias. Ora, nos tempos que correm, contar histórias parece ser aos olhos de certos críticos o grande pecado mortal literário."

Na seção "Ensaios", Antonio Hohlfeldt, doutor em Letras pela PUC do Rio Grande do Sul, pensa a produção de Erico a partir da alternância complementar entre o tempo e o vento; Regina Zilberman, professora e ensaísta, invoca Luzia Silva Cambará e Joana d’Arc para realizar uma análise original a respeito de um tema recorrente – o papel das mulheres na prosa de Verissimo. O crítico Fábio Lucas demonstra que o discurso judicativo não é um arquipélago perdido no mar de narrativas do escritor, e Maria da Glória Bordini, organizadora do Acervo Literário de Erico Verissimo (Alev), reflete sobre o lugar ao sol do ficcionista no âmbito dos romances moderno e pós-moderno.

A seção "Memória seletiva" traz depoimentos de Clarissa Verissimo Jaffe, filha do escritor,  Rosa Freire d’Aguiar e Lygia Fagundes Telles. Dois ensaios fotográficos se encontram em "Geografia pessoal": um produzido por Cristiano Mascaro, em Porto Alegre, e outro, por Edu Simões, no interior gaúcho.

Em "Manuscrito", há desenhos dos personagens do romance inacabado A hora do sétimo anjo, e em “Inéditos”, manuscritos em inglês da mesma obra. A edição inclui ainda um encarte com a árvore genealógica dos protagonistas de O tempo e o vento, elaborada por Antonio Hohlfeldt, com assistência dos pesquisadores Paulo Roberto Batista Maciel e André Lionir Petry da Silva. Um segundo encarte traz texto de Plinio Martins Filho e Jadyr Pavão sobre a atividade do escritor como editor.