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Fotografia e literatura

Nos livros de Maureen Bisilliat

A visita

Poema de Carlos Drummond de Andrade
Ed. especial José Mindlin, 1977; ed. fac-similar: Ao Gôsto Augusta/Banco de Boston, 1979

Em meados dos anos 1970, Bisilliat foi convidada pelo bibliófilo José Mindlin a produzir imagens que comporiam uma edição especial, a cargo dele, de um novo poema de Carlos Drummond de Andrade, chamado “A visita”, texto inédito que lhe fora prometido pelo grande poeta mineiro. Nesse poema narrativo, Drummond faz uma espécie de colagem com versos de Alphonsus de Guimaraens e Mário de Andrade para descrever o encontro, em 1919, entre os dois poetas, e a admiração de Mário (compartilhada por Drummond) pelo simbolista da geração anterior. Bisilliat já era leitora de Drummond e o encontrara uma vez. “Ele é essencialmente escocês”, diz, “um homem de paixões escondidas. Sua poesia é extraordinária, porque é uma coisa aparentemente fria e ao mesmo tempo cheia de emoção.”

As cartas entre Drummond e Mindlin mostram como o poeta participou de todos os passos da edição, até mesmo escolhendo a família tipográfica. Numa entrevista posterior, concedida a Cremilda Medina, Mindlin comentou: “Guita e eu convidamos a grande fotógrafa Maureen Bisilliat, muito nossa amiga, para ir conosco a Ouro Preto e Mariana, em busca de inspiração. E foi lá que Maureen apanhou umas pedrinhas na rua, e disse: ‘Afinal, a pedra é a essência de Minas. Por que não fazemos macrofotografias destas pedras?’ Fez a experiência, que deu certo, e a solução foi adotada. Só a capa e uma ilustração (repetição da capa) foram figurativas – a cabeça de mulher em mármore, dando a possível ideia de beleza feminina de Alphonsus de Guimaraens. Mas as outras, mesmo abstratas, combinaram surpreendentemente bem com o texto”.

Bisilliat conta que a solução lhe ocorreu depois. Na época da viagem, estava em meio a seu extenso projeto sobre o Xingu, e talvez por isso não tenha ficado satisfeita com as fotos que fez em Minas. Trouxera as pedras consigo, catadas aqui e ali, e então, conversando com Mindlin a respeito da ideia, o editor disse que sua empresa, a Metal Leve, recebera havia pouco uma câmera de macrofotografia para análise de metais, e que poderiam usá-la. Bisilliat posicionava as pedras e um técnico fazia o clique.

A primeira publicação do livro foi uma edição limitada com 125 exemplares, em 1977. Os cadernos de texto – folhas de papel especial dobradas – são soltos, e as imagens vêm impressas em lâminas avulsas no meio deles, tendo atrás de si os versos do poema com os quais a fotógrafa pretendia dialogar. Em 1979, o Banco de Boston patrocinou uma nova edição, fac-similar da primeira, porém encadernada e de maior tiragem – desta vez foram feitos 3500 exemplares.

Do livro A visita (Ao Gôsto Augusta/Banco de Boston, ed. fac-similar, 1979), de Maureen Bisilliat, com poema de Carlos Drummond de Andrade.
Do livro A visita (Ao Gôsto Augusta/Banco de Boston, ed. fac-similar, 1979), de Maureen Bisilliat, com poema de Carlos Drummond de Andrade.
Do livro A visita (Ao Gôsto Augusta/Banco de Boston, ed. fac-similar, 1979), de Maureen Bisilliat, com poema de Carlos Drummond de Andrade.
Do livro A visita (Ao Gôsto Augusta/Banco de Boston, ed. fac-similar, 1979), de Maureen Bisilliat, com poema de Carlos Drummond de Andrade.

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