Kubrick, Resnais, Coppola, Scorsese, Wenders, Spielberg, Kieslowski. Há quanto tempo o circuito comercial não exibia, ao mesmo tempo, obras marcantes de todos esses cineastas?
Pois é exatamente isso o que acontece hoje na cidade de São Paulo, e talvez em menor grau em outras capitais pelo Brasil afora. Sem falar de cults contemporâneos como Matrix, 2046, O filho da noiva e Corra!, bem como de filmes autorais inéditos como o coreano O hotel às margens do rio, de Hong Sang-soo, e os brasileiros Sem seu sangue, de Alice Furtado, Macabro, de Marcos Prado, e Breve miragem de sol, de Eryk Rocha.
Por vias tortas, é a pandemia de covid-19 a responsável pelo fenômeno. A explicação é simples: com os cinemas abrindo timidamente, com restrições de público e o compreensível temor de boa parte dos potenciais espectadores, as grandes distribuidoras por enquanto não se mostram dispostas a lançar seus blockbusters – aqueles rolos compressores que costumam deixar pouco espaço para as produções independentes ou de cinematografias não hegemônicas.
Ar de cineclube
Com isso, cinemas como os Espaços Itaú, o Petra Belas Artes e o Reserva Cultural – para ficar no caso paulistano – acabam apostando numa programação mais arejada, robusta e menos descartável. Os cinéfilos, pelo menos os mais destemidos, agradecem.
As salas exibidoras adquirem até um ar de cineclube, com mostras dedicadas a determinados cineastas. O Reserva Cultural, por exemplo, programou uma retrospectiva Krzysztof Kieslowski, com dez longas-metragens do diretor polonês, entre eles as obras-primas Não amarás, Não matarás e A fraternidade é vermelha, além do inédito Sorte cega (1987). Está relançando ainda E.T., de Steven Spielberg, e O iluminado, de Stanley Kubrick.
Já o Petra Belas Artes e o Espaço Itaú trazem vários títulos de Christopher Nolan, incluindo Batman – Cavaleiro das trevas, A origem e Dunkirk. Uma retrospectiva dedicada a Wim Wenders no Belas Artes termina hoje (15/10). E voltam à tela dois dos maiores sucessos da sala: Medos privados em lugares públicos, de Alain Resnais, que ficou em cartaz durante quase quatro anos, de julho de 2007 a março de 2011, e 2046, de Wong Kar-wai, exibido durante dois anos, de janeiro 2006 a janeiro de 2008.
O Espaço Itaú relança também o monumental A melhor juventude (2003), de Marco Tulio Giordana, em duas partes de três horas cada. E traz ainda Os bons companheiros, de Martin Scorsese (no Shopping Pompeia), e Apocalypse now – Final cut, de Francis Coppola.
Mostra internacional
Tudo isso serve de preâmbulo e complemento à 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começa no próximo dia 22 e este ano terá 198 filmes, exibidos basicamente online, o que pela primeira vez permitirá o acesso de espectadores de todo o país. Enfim, de falta de opções o cinéfilo não poderá reclamar. De excesso, talvez.