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Associados ao IMS

20 de outubro de 2016

São aproximadamente 700 mil fotografias e 300 mil negativos cobrindo um período que vai desde 1915 até 2005. O conjunto, pertencente ao grupo Diários Associados, que já foi o maior conglomerado de mídia do Brasil, contém registros feitos para “O Jornal”, comprado por Assis Chateaubriand em 1924; para o “Diário da Noite”, fundado em 1929 pelo próprio Chateaubriand; e para o “Jornal do Commercio”, criado em 1827 e adquirido em 1959. A coleção passa agora a integrar o acervo do Instituto Moreira Salles que, com a incorporação do imenso e rico conjunto, dobra seu arquivo fotográfico, somando aproximadamente dois milhões de imagens.

 

 

A ampliação não é apenas quantitativa, frisa Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS. A aquisição traz um repertório mais diversificado, abrindo uma nova vertente no instituto. “O acervo fotográfico do IMS tem sido construído em torno de conjuntos que permitem pensar a autoria, em coleções como as de Marcel Gautherot, Thomaz Farkas, José Medeiros e outros. O acervo de imprensa não é de construção de autoria, mas ajuda a promover uma reflexão do papel da fotografia como comunicação”, observa Burgi. “Fotojornalismo nós temos, claro, mas a imagem na imprensa é algo maior, através dela podemos ver parte da história do jornalismo no Rio de Janeiro”.

 

 

Dos três veículos, o de sobrevivência mais longa foi o “Jornal do Commercio”, que encerrou suas atividades em abril deste ano. O “Diário da Noite” fechou em 1964 e “O Jornal”, dez anos depois. Burgi aposta na existência de um material mais forte entre os anos 30 e início dos 70, auge das atividades dos Diários Associados, que editava ainda a revista “O Cruzeiro”, cujo acervo ficou com o jornal “Estado de Minas”.

Registros de governos e políticos como Getúlio Vargas, Jânio Quadros, Carlos Lacerda, João Goulart e Juscelino Kubitschek são algumas das preciosidades históricas do arquivo, que já chegou organizado em pastas e caixas – embora o processo de identificação das fotos mais antigas não seja tão detalhado quanto nos dias de hoje.  Imagens mais cotidianas, como cenas da vida cultural e social no Rio também contribuem para o enriquecimento do acervo. “O fotojornalismo registra pequenos e grandes momentos da História. Em 1938, por exemplo, há muitas imagens da seleção brasileira de futebol sendo celebrada nas ruas pelos torcedores. São fotografias muito interessantes”, adianta Burgi.

 

 

Ele também tem esperança de encontrar, na recém-chegada coleção, o registro de um momento emocionante: o velório de Luciano Carneiro. Um dos principais nomes do fotojornalismo brasileiro, com grandes reportagens publicadas principalmente na revista “O Cruzeiro”, Carneiro, que tem um acervo relevante sob a guarda do IMS, morreu jovem, aos 33 anos, num desastre de avião em 1959.

O jornalista Hélio Fernandes descreveu na ocasião a comoção que marcou o velório do fotógrafo: “(…) seus companheiros de profissão, colegas da mesma revista e concorrentes de outras organizações, mas todos repórteres, debruçados chorando sobre seu corpo, e despejando sobre ele pilhas de filmes virgens, deliberadamente velados. E os filmes assim espalhados sobre o seu corpo, cobrindo todos o seu caixão, eram mais bonitos e mais expressivos que flores, eram uma forma nova de condecoração, que todos os repórteres, concediam coletivamente, ao que entre eles fizera jus ao título de número 1”, diz um trecho do texto.

 

 

“Foi uma homenagem mas também um protesto, era um momento de crise na imprensa da época. A descrição é forte, e fico pensando que talvez haja algum registro desse momento nos arquivos”, conta Burgi.

Além da ampliação dos campos de pesquisa – tanto para especialistas como para o público –, a chegada do conjunto abre também a possibilidade, ou melhor, a necessidade, como afirma o coordenador, de dinamizar a exposição desse acervo em sintonia com o conteúdo já existente no IMS. “Fotografia é essa plataforma híbrida entre criação e informação, então pode haver leituras múltiplas. Os dois conjuntos têm essas características, não estão totalmente na comunicação, nem totalmente nas artes. Naturalmente vamos trabalhar essa proximidade”, afirma ele, lembrando ainda que um dos grandes desafios das instituições de memória no século XXI é entender a melhor forma de inserir conteúdo num mundo em constante e rápida transformação. “É algo que vai além da preservação”.

 

 

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