Escrever com a imagem e ver com a palavra
Fotografia e literatura na obra de Maureen Bisilliat
A visita
Maureen Bisilliat (fotografias) e Carlos Drummond de Andrade (texto).
São Paulo: Ao Gosto Augusta/Banco de Boston, 1979 (edição fac-similar), 56 pp.
O verso concentrado em tantos versos.
Nunca ninguém os disse assim, com esse metal
de sentimento modulado.
O poeta vê sua poesia. Vê, fisicamente vista,
ente real, sonoro, musical,
habitante de brancos universos,
corpo quase, muito mais que corpo,
visão,
sol meio-dia, absorvendo
todos os crepúsculos
e a opala da noite em estilhaços.
Carlos Drummond de Andrade
Em meados da década de 1970, Maureen recebeu um convite quase irrecusável da parte de José Mindlin. O bibliófilo queria que ela produzisse imagens para compor uma edição especial, a cargo dele, de um novo poema de Carlos Drummond de Andrade, chamado “A visita”. Nesse texto inédito, o grande poeta mineiro faz uma espécie de colagem com versos de Alphonsus de Guimaraens e Mário de Andrade para descrever o encontro ocorrido entre os dois em 1919, e a admiração de Mário (compartilhada por Drummond) pelo simbolista da geração anterior. “Ele é essencialmente escocês”, diz Bisilliat, que já o lia e conhecia à época, “um homem de paixões escondidas.” As cartas entre Drummond e Mindlin mostram como o poeta participou de todos os passos da edição, escolhendo até mesmo a família tipográfica.
Maureen não ficou totalmente satisfeita com as fotos que fez na viagem a Ouro Preto e Mariana com Guita e José Mindlin. Mas trouxera consigo algumas pedras, catadas aqui e ali, e resolveu fazer macrofotografias delas, usando uma câmera recém-adquirida pela Metal Leve, empresa de Mindlin. Ela posicionava as pedras, e um técnico fazia o clique, revelando a “paixão escondida” no interior delas. Recentemente, Bisilliat tem pensado em retomar as fotos que não utilizou, mas com nova abordagem: “As pedras de A visita eram do solo mineiro, mas agora é a névoa, o breu, os leões de Eça, as velas que iluminam o céu que quero captar, gravando as fotos em metal ou talhando-as na madeira”, diz.
A primeira publicação do livro foi uma edição limitada de 125 exemplares, em 1977. Os cadernos de texto – folhas de papel especial dobradas – eram soltos, e as imagens vinham impressas em lâminas avulsas no meio deles, tendo atrás de si os versos do poema com os quais a fotógrafa pretendia dialogar. Em 1979, o Banco de Boston patrocinou uma nova edição, fac-similar da primeira, porém encadernada e de maior tiragem – foram 3.500 exemplares.
Por esses anos, Maureen trocava missivas com outro grande escritor brasileiro: Erico Verissimo. Tencionava fazer um livro junto com ele, que se mostrou disposto, mas sua morte em 1975 impediu que o projeto fosse adiante. Incluiria nesse projeto, também, algo das referências de Jorge Luis Borges aos gauchos, aqueles que “aprenderam os caminhos das estrelas, os hábitos do ar e do pássaro, as profecias das nuvens do sul e da lua como um halo”.
Outros livros que fazem parte da exposição
A João Guimarães Rosa
Sertões: luz & trevas
O cão sem plumas
Chorinho doce
Bahia amada/Amado
O turista aprendiz
Pele preta
A lanterna de Maurina e as visagens de Quaderna
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