Escrever com a imagem e ver com a palavra
Fotografia e literatura na obra de Maureen Bisilliat
Bahia amada/Amado ou O amor à liberdade & a liberdade no amor
Maureen Bisilliat (fotografias) e Jorge Amado (textos).
São Paulo: Empresa das Artes/Unisys, 1996, 140 pp.
Quando a viola gemer nas mãos do seresteiro, nascido na Bahia e cheio de sua poesia, não reflitas sequer. Moça, a Bahia te espera e eu serei teu guia pelas suas ruas e pelos seus mistérios. Teus olhos se encherão de pitoresco, teus ouvidos ouvirão histórias que só os baianos sabem contar… Mas, moça, estremecerás também muitas vezes, e teu coração se apertará de angústia… A beleza habita nesta cidade misteriosa, moça, mas ela tem uma companheira inseparável que é a fome.
Jorge Amado
Em Bahia amada/Amado ou O amor à liberdade & a liberdade no amor, Maureen dialoga com a literatura de Jorge Amado, o escritor com quem teve mais proximidade. Os dois se conheceram melhor no início dos anos 1970, quando ela fotografava a Bahia para a superintendência de turismo do estado.
Pode-se perguntar por que a publicação demorou tanto a sair, se seu convívio já datava de pelo menos 25 anos. Há uma história curiosa: muito tempo antes, como atestam as diversas cartas trocadas entre os dois, Maureen tinha um projeto de livro sobre Jorge Amado. Oferecera-o para a Brunner, que já havia editado o seu A João Guimarães Rosa. Um dia, tomou um táxi rumo à gráfica, levando consigo os cromos originais das fotografias que usaria acomodados dentro de uma revista. Acabou esquecendo a revista no carro, e as imagens desapareceram para sempre.
Jorge Amado possui uma “linguagem amorosa, exuberante e trágica”, Maureen anota no prefácio, e o mesmo pode ser dito das fotografias, feitas originalmente nos anos 1970, que ganham em dramaticidade por conta do grande formato do livro – e fogem de lugares-comuns: há muitos interiores, retratos em contraluz; o mar surge brilhando com o sol em fotos em preto e branco, mas, numa delas, há um xaréu encalhado ou pescado na areia. Um mundo que, como ela diz, “resistindo ao concreto e à pressa de hoje, tomou-nos pela mão, levando-nos pela orla de um mar aberto, pelas terras e rios secos da caatinga e pelos candomblés de morro, com seus pastores e damas da noite”.
Os textos foram selecionados por ela a partir de 12 livros do escritor, o que faz deste volume o mais extenso entre todos os reunidos aqui. Maureen justifica isso por Amado ser, sobretudo, um contador de histórias, e, portanto, não faria sentido extrair trechos menores, como fizera em outras publicações. Vê-se também, em todo caso, uma intenção de retratar não apenas um livro ou um texto, mas toda a obra do autor, que se mostrou mais que satisfeito com o resultado: “O livro é um canto de amor”, escreveu.
Há também uma edição em inglês, feita simultaneamente pela mesma editora, com tradução da própria fotógrafa.
Outros livros que fazem parte da exposição
A João Guimarães Rosa
A visita
Sertões: luz & trevas
O cão sem plumas
Chorinho doce
O turista aprendiz
Pele preta
A lanterna de Maurina e as visagens de Quaderna
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