Escrever com a imagem e ver com a palavra
Fotografia e literatura na obra de Maureen Bisilliat
Pele preta
Maureen Bisilliat (fotografias) e Jorge de Lima (textos).
São Paulo: IMS, 2011, 44 pp.
Quem foi que mudou teu leite,
teu sangue, teus pés,
teu modo de amar,
teus santos, teus ódios,
teu fogo,
teu suor,
tua espuma
tua saliva, teus abraços, teus suspiros, tuas comidas,
tua língua?
Jorge de Lima
Datado do começo da década de 1960, Pele preta foi o primeiro ensaio fotográfico maduro de Maureen Bisilliat, e também marca sua passagem da pintura e do desenho para a fotografia. De fato, a plasticidade que se vê nessas imagens, a maneira como a luz delineia e faz emergir os corpos negros, leva-nos a pensar que a série, como escreveu o editor Samuel Titan Jr., “é tributária da disciplina imbuída em muitas sessões de desenho com modelo-vivo, mas vai além do desenho acadêmico”.
Conceição, a modelo, era amiga da família, e Maureen a fotografou por dois anos, esporadicamente, em sua casa-ateliê. Depois, foi até São José do Rio Pardo, onde ela morava, para fotografá-la novamente e também ao pai e a um sobrinho – ainda num ambiente interno, mas dessa vez com luz natural. “As primeiras fotos eram mais descritivas. Depois, consciente de seu amor pelas estátuas antigas, vai à procura de sua representação, levando o modelo a encarná-las”, escreveu o jornalista e psiquiatra Roberto Freire na matéria sobre o ensaio presente na Revista de Fotografia de julho de 1971: “A seguir, descobriu que as mitologias se ligam, que a espiritualidade é o que o tempo mais conservou, e Conceição a revelava de forma fortíssima. [...] Finalmente, abandonando o sentido real das formas, Maureen foi tornando cada vez mais abstrato o seu trabalho.” Em algumas imagens, a modelo segura ex-votos.
Antes de saírem na revista, Maureen incluíra essas fotos em sua primeira grande exposição individual, realizada no Masp em 1966 – “60 fotografias em preto e branco, sobre temas brasileiros e estudos da figura humana”, fruto de quatro anos de trabalho no Brasil.
Em 2011, quando o Instituto Moreira Salles fez dessa série uma publicação limitada em capa dura com tecido e luva (350 exemplares numerados e fora de comércio), ela escolheu para pontuar a sequência versos de alguns livros de Jorge de Lima, entre eles Poemas negros (1947). O livro em seguida foi republicado pelo ims, em formato brochura e edição comercial, na caixa A forma da luz (2013), que inclui outros títulos de Horacio Coppola, Marcel Gautherot, Thomaz Farkas e David Drew Zingg.
Outros livros que fazem parte da exposição
A João Guimarães Rosa
A visita
Sertões: luz & trevas
O cão sem plumas
Chorinho doce
Bahia amada/Amado
O turista aprendiz
A lanterna de Maurina e as visagens de Quaderna
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