IMS Paulista, 5 anos

Há cinco anos, em 20 de setembro de 2017, um prédio de fachadas de vidro, com grandes vãos de circulação e espaços expositivos generosos era inaugurado numa das principais artérias da cidade de São Paulo. O projeto de Vinicius Andrade e Marcelo Morettin, da Andrade Morettin Arquitetos para o IMS Paulista era a face visível, em concreto e vidro, de outra iniciativa, esta de bastidores: a de aumentar a presença do Instituto Moreira Salles em São Paulo, e, juntamente com as unidades de Rio de Janeiro e Poços de Caldas, torná-lo mais relevante em todo o Brasil e também internacionalmente.

Os números colecionados desde então pelo novo equipamento cultural impressionam: até julho deste ano, mais de 1,848 milhão de visitantes passaram pelo prédio de 8.662 m² e sete andares, circulando pelas 35 exposições realizadas (na conta não entra Moderna pelo avesso, que acaba de ser aberta), por centenas de sessões de cinema, numerosos cursos e eventos ou consultando livros na Biblioteca de Fotografia. Isso levando-se em conta que o IMS ficou sete meses fechado ao público devido à pandemia. Para o diretor geral do instituto, Marcelo Mattos Araujo, o IMS Paulista é "uma decisão exitosa":

"Graças a esse novo edifício, que está completando cinco anos, o IMS tem hoje uma visibilidade na cidade inquestionável. Tanto pela localização como por essa possibilidade de apresentação de exposições e de um conjunto de  atividades que obviamente se beneficiam das qualidades do prédio, inclusive no sentido de acessibilidade. E, situados na Paulista, temos a expectativa de estar em diálogo mais próximo com outras instituições da Paulista Cultural, além , claro de avançarmos e consolidarmos ainda mais nossa presença nos próximos anos", diz.

Há três anos diretor artístico da instituição, o curador João Fernandes atribui o convite, que o fez mudar-se de Madri, onde era subdiretor do museu Reina Sofía, ao novo prédio do instituto e às demandas surgidas daí.

"Havia a consciência de uma mudança muito radical na relação com os públicos e as audiências da cidade de SP, e isso pressionava  a instituição a se confrontar com a sua própria missão, a sua própria natureza e com o seu próprio futuro", diz ele.

E foi desse lugar de curador e programador de instituições de arte na Espanha e em Portugal, que agora aportava no Brasil no século XXI, que o diretor artístico percebeu que o país mudava e o IMS deveria responder a isso: "Era preciso que o IMS participasse mais do Brasil contemporâneo e ao mesmo tempo construísse um ponto de vista sobre a memória que fosse útil para uma atuação neste Brasil. Algumas das questões para mim essenciais eram as questões de culturas brasileiras, que eu começava a conhecer a partir da minha chegada ao Brasil e que tinham sido oprimidas em seu passado, pela própria natureza da história do país."

O IMS tem em seus acervos fotográficos um rico material de representações dessas culturas. As indígenas, principalmente, com profissionais que narram visualmente toda uma história do contato com os povos do Xingu. E também na representação das culturas negras, com artistas fundamentais para o país. "Estamos a falar de uma instituição por exemplo que tem o acervo do Pixinguinha e manuscritos de Carolina Maria de Jesus, um caso único na história da literatura mundial", cita João.

Carolina foi tema de exposição de grande repercussão no IMS Paulista (Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros) que, num fato inédito, teve dois curadores convidados, Hélio Menezes e Raquel Barreto. Na exposição Walter Firmo: no verbo do silêncio a síntese do grito, atualmente em cartaz no mesmo local, a curadoria de Sergio Burgi, coordenador de Fotografia do IMS, contou com a curadoria adjunta de uma pesquisadora negra, Janaina Damaceno. Já Xingu será tema de uma mostra, Xingu: contatos, que abre ao público em 5 de novembro também no prédio da Paulista, com curadoria de Guilherme Freitas, do IMS, e do convidado Takumã Kuikuro, cineasta da aldeia Kuikuro.

Essas três mostras já apontam para uma nova abordagem em relação ao tratamento dos acervos: "nunca falar em nome de culturas que foram oprimidas e outras culturas que no Brasil têm suas próprias vozes", assinala João.  "Estamos criando uma consciência de que é preciso construir pontos de vista sobre os acervos, e inclusive transformar uma instituição de arquivos numa instituição de coleções. Porque uma coleção é um ponto de vista, mais determinado que uma instituição de arquivos. É fundamental fazer essa revisão crítica da memória, promover a interação dessa revisão crítica com a comunidade, de forma a construir  uma dinâmica entre passado e presente que possa orientar a instituição neste momento".