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Conflitos

Fotografia e violência política no Brasil 1889-1964

04 Guerra de Canudos

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Flávio de Barros
“400 jagunços prisioneiros”. Canudos, BA, 1897. Álbum canônico de Canudos
Fotografia/papel, albumina/prata. Coleção Instituto Geográfico e Histórico da Bahia
Arquivo digital. Acervo Instituto Moreira Salles/ © Museu da República
Reproduzimos entre aspas as legendas originais atribuídas pelo autor das fotografias

Aqui, vemos outro registro da última Expedição do Exército a Canudos, feito pelo fotógrafo Flávio de Barros. Suas fotos criam uma diferença clara entre os soldados do Exército e os “jagunços”, como eram chamados de forma pejorativa os que lutaram ao lado de Conselheiro. Sempre planejadas e estáticas, elas apresentam os sertanejos como derrotados.

A fotografia mostra o momento da rendição de centenas de moradores de Canudos, a maioria mulheres e crianças, no dia 2 de outubro de 1897. Inúmeros relatos contam que, naquela manhã, os soldados avistaram uma bandeira branca vinda do arraial. Cerca de 60 homens e mais de 500 mulheres e crianças se entregaram a trégua. O jornalista Favila Nunes, da Gazeta de Notícias, descreveu assim a cena de horror: “Esqueletos humanos, com as mãos decepadas, ferimentos horríveis e asquerosos, alguns apodrecidos”.

O tenente-coronel Dantas Barreto, comandante da 3ª Brigada, relatou o seguinte sobre as mulheres sobreviventes: “Tinham a fisionomia calma, o olhar de quem já não havia coisa alguma no mundo que espantasse, [...] não pediam compaixão […]. Dessem-lhe água até saciarem a sede que lhes produzia vertigens, e matassem-nas como quisessem depois. […] Os homens inválidos, cegos, aleijados e feridos de muitos dias, começaram a passar também. As grandes misérias da humanidade não podem criar situações mais desoladoras! Todas as torturas do Inferno de Dante estavam ali resumidas!”[1]

Em 1902, Euclides da Cunha incluiu três fotos de Flávio de Barros na primeira edição de Os sertões. Uma delas foi justamente 400 jagunços prisioneiros. Mas, no livro, a imagem aparece com o título de As prisioneiras. A mudança indica a discordância do autor sobre a forma como o grupo foi originalmente chamado.

 

[1] Barreto, Emídio Dantas. Última expedição a Canudos. Porto Alegre: Francisco & Irmão, 1898, pp. 224-225.